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Halladian


Khallas

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Khallas levantou-se bem cedo naquele dia. Era uma manhã linda. Havia muita neblina e mal dava pra enxergar a paisagem da janela de onde ele estava. O nosso herói morava num pequeno sítio encravado no interior solitário de algum país nesse tão grande planeta que é o nosso. Era um sítio pequeno, bem pequeno. Era muito pequeno mesmo, mas Khallas gostava muito de morar ali. Ali nascera e já tão cedo cultivava a idéia de que quando morresse, queria ali ser enterrado, na sombra da sua árvore, perto do formigueiro, do lado do pequeno córrego ao fundo da propriedade, sentindo o cheiro das flores e ouvindo o zumbido das abelhas e vendo o vai e vem dos passarinhos.

 

Dali, da sua janela, esperou o dia acabar de amanhecer. O sol veio quente e luminoso, fazendo com que a neblina se recolhesse ao seu esconderijo para esperar pacientemente pelo dia seguinte. Vestiu sua já surrada calça, uma camisa de algodão, que parecia suja, mas não estava, calçou seu sapato, que também estava com claros sinais de super utilização. Vestido daquele jeito ele parecia brilhar de felicidade. Era um garoto muito estranho. Sentia-se feliz naquele dia, em especial por que havia chovido um pouco durante a noite e com isso ele achava que seria uma boa oportunidade para observar o trabalho da natureza. Bem, voltemos ao despertar do nosso herói. Foi até a cozinha e soturnamente enfiou alguns bolinhos, que estavam prontos em cima da mesa, numa sacola, encheu uma pequena garrafa com leite e antes que aparecesse alguém, já havia desaparecido porta a fora.

Aquele seria um dia especial, ele sentia isso desde que acordara. Tudo estava diferente. Havia um cheiro que ele não conhecia, que era muito agradável e ao mesmo tempo lembrava alguma coisa que ele já havia visto ou sentido antes. Ventania voava, cavalgava como se estivesse voando, se sentia livre quando cavalgava com Khallas, não precisava de rédeas e Khallas nunca quis pô-las. Juntos era como se fossem um só ser.

 

Depois de meia hora naquele ritmo alucinado, numa correria sem freios nem rédeas, como se estivessem aproveitando seus últimos dias de vida, pararam. Khallas desmontou e de maneira muito natural pediu para que Ventania não se afastasse muito, pois não gostava de ficar sozinho. Ventania, como se houvesse entendido balançou a cabeça positivamente e seguiu até uma moita de capim novo bem próxima.

 

Era um lugar muito bonito, onde eles tinham parado. Havia uma pedra enorme no alto de um morro. Poucas árvores ao redor, mas a poucas que haviam estavam cheias de flores. Abelhas e beija-flores faziam a festa com aquela abundância de alimento proporcionado pela natureza. Um pequeno rio corria mansamente por entre aquela rala floresta e pequenos peixinhos amarelos dançavam entre as pedras do fundo. Khallas ficou durante algum tempo apenas admirando aquilo tudo.

 

Observou a pedra no alto do morro e ficou tentando imaginar como tinha ido para lá em cima uma pedra daquele tamanho? Quem teria força suficiente para fazer tal trabalho? Ou seria alguma máquina? Enfim, imaginou inúmeras possibilidades até perceber os beija-flores voando ao seu redor. Eram azuis, verdes, amarelos, com o bico longo, curto, reto ou curvado. Caminhou até uma das árvores onde estavam aqueles belos pássaros, sentou e passou a observar, desta vez, aqueles estranhos pássaros, que voavam em todas as direções. Beijando as flores. Se alimentando delas. As perguntas explodiam em sua mente. Como conseguiam voar até pra trás? Quem lhes ensinou a comer o mel das flores assim como as abelhas? Aliás, as abelhas também era outro mistério.

 

Não gostava muito de multidões. Pra ele três pessoas já era uma coisa insuportável. Por isso não ia a cidade. Não cortava o cabelo, ao menos voluntariamente. As vezes quando acordava estava de cabelo curto e isso ele sempre atribuíra aos muitos seres imaginários de suas brincadeiras diárias. Já no curral, que ficava atrás da casa, perto o suficiente para que ele não demorasse mais do que cinco minutos entre sair de casa, chamar pelo Ventania, montá-lo e ganhar o mundo no pelo daquele que era seu melhor amigo entre todos os que tinha no sítio.

 

Ficou ali, olhando pra cima até doer seu pescoço. Deu sede, levantou-se e foi até o riozinho, tomou um pouco daquela água e mais uma vez ficou hipnotizado com o espetáculo dos peixinhos amarelos, que pareciam dançar no fundo d’água.

 

Essa era a rotina de Khallas, quase todos os dias. Reparava em tudo, gostava de todos os animais que conhecia e tentava entender seus costumes. As vezes passava dias inteiros apenas observando as formigas na sua interminável tarefa de cortar e carregar folhas pra dentro do formigueiro. Ficava ele lá, seguindo as trilhas das formigas. Distinguindo as que cortavam, as que carregavam e as que apenas fiscalizavam o trabalho. Achava intrigante o fato delas nunca se perderem da trilha. Ficava se perguntando: o que será que elas sempre conversam quando se encontram e ficam batendo uma antena na outra?

 

Assim era o nosso herói. Ele fazia parte daquele mundo. Ele era a própria natureza e não queria ser outra coisa. Não conhecia outra realidade que não fosse aquela. Ventania era toda a amizade que ele precisava no mundo. E o resto era completo com suas paisagens, bichos, rios, flores, formigas, pedras . . .

 

Sua mãe já não falava mais nada. Na verdade era como se não tivesse mãe nem pai. Nem casa, que ele usava muito a contra gosto pra dormir. Quando chegava a hora de voltar pra casa Khallas ficava desanimado. Não que ele não gostasse de seus pais, pelo contrário, gostava muito, pois seus pais eram bons e sábios. Haviam ensinado tudo o que ele achava que sabia e principalmente ensinado uma lição que ele nunca se esquecia. “Tudo no mundo é mágico. Cada coisa tem a sua importância no mundo, desde o mais pequeno até o maior de todos os seres” – Dizia sua mãe. Khallas dava muita importância a isso. Mesmo assim preferia a companhia da natureza.

 

Certa vez numa dessas manhas de neblina, Khallas, antes mesmo de se vestir, correu para o curral a procura de Ventania, pois havia sonhado com ele a noite inteira, e ficou desesperado, pois Ventania não estava lá. Ele ficou numa situação de dar pena na gente. O seu melhor amigo havia sumido. Desaparecido. E pra Khallas foi o fim do mundo, do seu mundo, pois nunca havia se separado de Ventania. E dessa vez teve que ficar sem ele. Ventania ficou dois dias desaparecido. No terceiro dia pela manhã quando Khallas foi até o curral, lá estava ele e no mesmo momento tudo pareceu ter voltado ao normal.

 

Por onde esteve? – Perguntou Khallas ao amigo, como se este fosse capaz de respondê-lo. Mas era justamente esta relação que unia aqueles dois. Menino e cavalo numa amizade que ninguém sabia se era mais humana ou eqüina. Enfim aqueles dois se entendiam. Khallas compreendeu que Ventania não queria lhe contar o que tinha acontecido e que era pra ele não se preocupar. E assim passou aquele episódio sem mais acontecimentos, Khallas esqueceu do assunto e tudo voltou ao normal.

 

Quase tudo havia voltado ao normal. Os passeios pelas serras e redondezas do sitio, os banhos no riozinho, o vôo dos pássaros, as formigas no seu constante carregar de folhas. Ma havia algo diferente. Khallas havia notado algo estranho em Ventania. Seu grande amigo já não era o mesmo. Andava sempre nervoso e se assustando com qualquer movimento, até mesmo uma folha que caia do alto de uma árvore ou com o canto repentino de alguma ave. E era impossível que Khallas não notasse, por mais que Ventania se esforçasse em disfarçar. O belo cavalo parecia estar triste e preocupado com alguma coisa que Khallas não conseguia saber o que era. Havia pensado que talvez Ventania estivesse apaixonado, enganou-se. Pensou que poderia ser alguma doença, enganou-se igualmente. Se cansou de fazer perguntas a Ventania sobre o que estava acontecendo e sempre obtinha as mesmas resposta. Ventania se negava, refugava, ficava ainda mais nervoso quando Khallas começava com aquela conversa.

 

 

E assim tudo foi ficando cada vez pior. Os passeios foram diminuindo a cada mês, a cada dia, até que finalmente deixaram de acontecer. Khallas, muito angustiado e ainda sem entender o que estava acontecendo, não ia mais no curral, para não ver Ventania naquela tristeza, de cabeça baixa, de passos lentos. Nunca mais escutara o relinchar de Ventania pasto a fora. O máximo que Khallas fazia era ir até a janela de seu quarto pra tentar vê-lo sem deixar-se ver.

 

Tudo mudou para Khallas. Sua mãe vendo que ele já não saia de casa resolveu mandá-lo à cidade para estudar. O menino concordou, não deu problema. Não contestou. Apenas concordou, pois sentia que não tinha mais sentido permanecer no sítio daquele jeito. Sem a companhia de Ventania, as aventuras que vivia ao lado dele. Não tinha mais graça nenhuma. E decidiu que iria embora para o colégio.

 

Depois de tomada a decisão, um dia criou coragem e foi procurar Ventania pra contar a ele que iria embora, procurou um dia inteiro e não encontrou. No outro dia saiu de novo, foi a todos os lugares onde tinham costume de ir juntos e nada encontrou. Foi até o morro da pedra, pois lá tinha certeza que encontraria, mas mais uma vez se decepcionou.

 

 

Naquele dia quando voltou pra casa, voltou mais triste ainda. Teria que ir embora sem se despedir do seu amigo e isso o estava incomodando muito. Chegou em casa contou pra sua mãe que havia procurado por todo o sitio mas que não havia encontrado nem rastro e que havia se decidido ir embora sem se despedir mesmo. Se Ventania não quis mais minha amizade, algum motivo ele deve ter. – Disse o menino, desconsolado.

 

A última noite de Khallas no sítio foi extremamente difícil. Ele não conseguia dormir, estava inquieto. Sua tristeza era muito grande e não conseguia parar de pensar em Ventania. O que terá acontecido pra ele me abandonar? – se perguntava. Mas não obtinha resposta. Não conseguia entender. E quando o dia amanhecesse iria embora pro colégio e provavelmente nunca mais voltaria a ver Ventania. Ficou com esses pensamentos na cabeça o tempo todo.

 

Khallas já não agüentando ficar na cama, resolveu levantar e dar uma volta pela casa. Foi até a cozinha beber água, voltou até seu quarto e resolveu abrir a janela. Abriu vagarosamente e meio cismado foi se aproximando, estava com medo e não sabia porque de repente começara a sentir que algo estranho estava acontecendo. Olhou pra fora. A escuridão não favorecia muito sua visão, mesmo assim ele viu perto do curral o seu grande amigo. Mas ele estava diferente, parecia estar brilhando e parecia estar maior do que já era. Ficou hipnotizado com a visão, principalmente quando Ventania começou falar dentro de sua cabeça: Khallas, venha.... – era a voz. Khallas ficou mais assustado ainda, porém não sentiu mais medo.

 

No mesmo momento decidiu que iria e sentiu que demoraria a voltar. Colocou algumas roupas numa trouxa, rápido mas silenciosamente, para não despertar sua mãe, foi até cozinha, pegou alguma coisa pra comer, encheu sua garrafinha de leite, colocou tudo dentro da trouxa e saiu. Foi ao encontro de Ventania que parecia tão aflito ao chamá-lo. Foi se aproximando do curral e começou a se perguntar: será que eu não estava sonhando? Se fez esta perguntas inúmeras vezes no curto espaço que separa sua casa do curral onde Ventania, brilhando como a lua cheia, o esperava. Chegou perto do seu amigo chorando. O que aconteceu amigão? Porque sumiu? Porque estava tão nervoso? Fez tantas perguntas que não conseguiu ouvir as respostas.

 

Porém desta vez Ventania falou, não como antigamente, mas falou e sua voz era como o vento suave nas tardes de verão. Khallas ficou admirado, bobo até. Seu melhor amigo falava e ele ouvia perfeitamente. Se antes eles já se entendiam, imagina agora. Depois de passado a surpresa inicial, Khallas quis saber toda a história, mas Ventania se limitou a dizer: Está na hora, temos que ir.

 

 

Tomara que tenham gostado.

 

Obs: Dia 13/08 depois das 17:00 horas posto o Capítulo II...

Editado por Khalladryen
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  • 6 months later...

AFF, lá vem mais um desses membros querendo fazer algo, eu acho que eles só fazem conta para baixar e baixar, mas não fazem nada de útil.

 

Denunciado! --' Vocês nem comentam nem nada, fala sério. e.e'

 

#Sobre o Tópico#

 

Bem, a história em si eu não gostei muito. Mas eu não reparei nenhum erro de português ou de redação, portanto tente criar sobre outros assuntos (sem ser tíbia), você tem criatividade, isso eu admito, só não gostei por causa do assunto.

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Khalladryel,

Postes desnecessários são proibidos, se for comentar sobre algo pelo menos fale sobre o assunto ou algo coerente a ele, fica um alerta verbal, se eu o ver fazer isso novamente será punido.

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