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Khallas

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  1. Khallas

    Halladian

    Assim que os seus irmãos partiram, Mmalé desceu até a fortaleza do Piherim, foi até a nascente do Rio Azul e antes de beber aquela água cristalina ficou, por um momento, imaginando ou tentando imaginar tudo e todos os perigos que estavam por vir. Os perigos, a paz de Haladian, que era o motivo pelo qual os anciões ainda permaneciam em Haladian. Ficou bastante tempo neste exercício de imaginação e então resolveu voltar ao local da reunião, que acabara de acontecer. Já estava noite e precisava descansar. Seus irmãos haviam ficado com a melhor parte do trabalho, pois para Mmalé era muito pior ficar esperando a volta dos outros, pois não poderia agir enquanto eles não voltassem. Noite fria e longa, Mmalé dormiu pouco e o pouco que dormiu teve sonhos estranhos e isso fez com que acordasse muito preocupado. Ora pensava em Kqelé, - será que ele encontrará o Salvador? - se perguntava duvidosamente. Em outro momento era Ttelé quem tomava conta de sua mente, - Sua viagem é mais perigosa, vai passar próximo ao território de Dascki, será que ele vai conseguir? - continuava a se perguntar. Assim passou aquela noite terrível, entre pesadelos e preocupações. Ao amanhecer, não teve duvidas, levantou, foi até o rio, se refrescou, aproveitou o saboroso capim que se formava nas margens e fez um excelente desjejum, pro seu gosto é claro, e voou. Havia se decidido a antecipar a consulta ao Chifre de Osurumm. Subiu até o topo da colina e lá chegando se encaminhou diretamente para o centro da grande pedra que havia sido colocada ali há muitos e muitos séculos atrás, pelos seres criadores de Haladian e de todos os outros mundos existentes, conhecidos e desconhecidos. O Chifre de Osurumm era a relíquia deixada pelo ser responsável por Haladian. Servia de ligação entre os anciões e Osurumm e era o poder que mantinha aquele mundo em harmonia. O grandioso chifre, a exemplo dos chifres dos anciões, brilhava ininterruptamente, porém muito mais intensamente e somente os anciões podiam se aproximar dele e somente os anciões estavam preparados mentalmente para suportar a grandeza de Osurumm. Mmalé não precisou nem invocar Osurumm, este já estava o esperando. Quando o ancião subiu a grande escada de pedra que dava acesso à grande caverna, onde se encontrava o Chifre, escutou a prodigiosa voz de Osurumm: - Não tenha pressa meu querido filho! Você ainda tem alguns dias para se preparar! - Mas Senhor tenho medo! - resmungou o ancião. - Eu te darei paz e calma pra que não sinta medo! Dois mensageiros trarão noticias. - Me perdoe, Criador de todos os mundos, pela minha fraqueza! - respondeu Mmalé. - Agora vá, meu querido filho, e se prepare para a chegada dos de teus irmãos! Mmalé, fez uma grande reverência e saiu sem dar as costas a Osurumm. O ancião estava indeciso, não sabia se esperava pacientemente ou sairia para encontrar com seus irmãos. Mas para onde seguir? Para o sul ou para o leste? – se perguntava Mmalé. Ficou algum tempo refletindo sobre esse assunto e concluiu que deveria esperar, pois se saísse poderia haver um desencontro que prejudicaria os planos feitos na reunião da noite passada. Osurumm havia dito que mensageiros trariam noticias e então Mmalé ficou apreensivo. Quantos dias seria necessários pra tais mensageiros chegarem a Piherim? – era a pergunta que se fazia agora. Resolveu então descer novamente até a fortaleza, pois quando os mensageiros chegassem tinham que estar esperando por eles ali. Passaram-se dez longos e entediantes dias e Mmalé já não agüentava mais a espera, mas resignava-se à sua missão cuja a dificuldade era exatamente o exercício da paciência. Neste dia resolveu fazer um vôo pelas redondezas da colina, tanto para se distrair um pouco como também para tentar ver alguma coisa. Mal havia iniciado seu vôo de reconhecimento e viu caminhando, há apenas alguns quilômetros da fortaleza, um pequeno cavalo, arrastava uma das asas que parecia estar quebrada. Mmalé ficou radiante de felicidade, mas ao mesmo tempo teve dúvidas. E passou a se perguntar se seus irmãos teriam coragem de confiar a um filhote tão perigosa tarefa de trazer informações a ele. Numa fração de segundo, sua mente fez milhares de suposições que não adiantariam nada se ele ficasse ali parado e não fosse logo ao encontro do pequeno cavalo que precisava de sua ajuda, na pior da hipóteses. Mmalé, então voou em direção ao seu visitante, tão rápido que o cavalo quando viu aquela enorme sombra sobre sua cabeça, num tremendo esforço começou a correr, assustado. O ancião alcançou-o com facilidade e pousou em sua frente e aí sim pode ver a expressão de dor pela qual passava o jovem cavalo. - De onde vem e como é seu nome querido irmãozinho? - Meu nome é Locemn, da cidade dos cavalos albinos e trago notícias de Ttelé, o ancião! - Então é você o mensageiro, mas é só um garoto!!! Bem, eu estava esperando ansiosamente pela sua chegada. Mas não se preocupe em falar agora, primeiro vou cuidar do seu ferimento e depois você conta sua história, Mmalé ajudou Locemn a se levantar e caminharam sofridamente até a fortaleza, onde instalou confortavelmente o jovem Locemn. Enquanto Locemn bebeu água e descansou um pouco, Mmalé subiu saiu a procura de remédios para curar a asa ferida do tão esforçado cavalo. Não demorou muito, mas quando voltou, Locemn já estava dormindo. O ancião ficou por um longo tempo observando aquele jovem, nem percebeu que já havia anoitecido, imaginando toda sua viagem e querendo acordá-lo para saber o motivo pelo qual Ttelé o enviara. Mas sabia perfeitamente que era preciso que ele estivesse descansado e que seus ferimentos fossem cuidados. Assim, Mmalé, mesmo com Locemn adormecido, cuidou de seus ferimentos, limpou e aplicou uma pasta feita com erva que ele havia ido buscar no topo da montanha, no jardim do santuário do Chifre de Osurumm. Assim que acabou de fazer o curativo em Locemn, o ancião retirou-se silenciosamente, foi para seus aposentos para poder descansar também, pois no fundo ele sabia que o próximo dia seria de grandes surpresas. Quando acordou, no horário de costume, era muito cedo e ainda não podia incomodar Locemn tão cedo, por isso resolveu dar um pequeno passeio pela PLANICIE e começou a subir até o mirante de onde voava, quando subitamente um grito: Cuupi-raK no portão leste!!! Avisem o ancião. Mmalé ao escutar isso desistiu do vôo e correu para o portão leste e nesse pequeno espaço bombardeou sua mente com uma torrente de perguntas: Será este Cuupi-raK o enviado por Ttelé? Qual o motivo deste guardião da floresta estar tão longe de seus domínios? Será um Cabelo-Vermelho ou Verde? Com essas perguntas ainda frescas em sua cabeça chegou ao portão. Ordenou aos guardas que abrissem e eles fizeram, mas muito a contra gosto, pois os portões nunca eram abertos, ou quase nunca, somente quando recebiam visitas que não voassem e assim mesmo somente se o visitante tivesse avisado com antecedência, mas aquele Cuupi-raK não havia avisado e se não bastasse isso, para contribuir para a antipatia dos guardas, ele era enorme devia medir uns três metros e tinha cabelos verdes. Só conheciam os Cuupi-raKs de cabelos vermelhos, que eram bem menores. Aquele que estava ali parado em frente ao portão causava medo aos cavalos guardas da fortaleza. O Cuupi-raK esperou pacientemente por um tempo razoável, mas começou a desconfiar que não abririam então começou a berrar e sua voz parecia o trovão em dia de tempestade: Sou Péatraz, Guardião de Hibrilim, enviado de Ttelé, o ancião, abram. As palavras do Cuupi-raK soaram como uma senha para os guardas e sob os severos olhares de Mmalé abriram o portão. Mmalé também se assustou ao ver Péatraz, porém por motivos diferentes, o ancião sabia que os Cabelos-Verdes jamais saiam de seus respectivos círculos, na Floresta de Hibrilim, por isso convidou Péatraz para subir até onde estava Locemn, para que os dois contassem suas histórias. Péatraz ficou por um momento deslumbrado com a fortaleza, olhava com atenção para todas as construções, as casas, que eram enormes, os salões, as ruas, os jardins, mas o que chamou mesmo a atenção dele foi a enorme construção no final da rua por onde caminhava com o ancião e não se agüentou teve que perguntar: Como vocês conseguiram construir tudo isto sem mãos? Fez essa pergunta de uma maneira tão simples que Mmalé achou graça e deu uma sonora gargalhada, mas em seguida num tom muito doce e generoso respondeu: Você é bastante curioso guardião, mas sei que sua curiosidade vem de sua inocência, por isso lhe direi, as nossas cidades foram feitas pelo grandioso Osurumm com seu poder inalcansável. Péatraz ficou satisfeito com a resposta, pois sabia alguma coisa sobre Osurumm e não fez mais perguntas. Quando chegaram aos aposentos, Locemn já estava acordado e muito bem disposto e fizeram rapidamente as apresentações. Locemn, por ser ainda muito novo nunca tinha visto um Cuupi-raK, somente nas história contadas por seu pai e mesmo essas histórias se tratavam dos Cabelos-Vermelhos. Mas eles rapidamente se entenderam e como se sintonizados olharam firmemente para Mmalé. O ancião percebeu que eles precisavam contar logo toda sua história e ele inconscientemente estava adiando. Locemn adiantou-se e começou a falar: Amado seja, Mmalé, ancião da Colina do Piherim, protetor do Chifre de Osurumm, viajei muitos dias até aqui, a pedido de teu irmão igualmente amado. A noticia que trago, apesar de não entender completamente a importância, segundo Ttelé, é de extrema urgência. Na cidade dos cavalos albinos há exatamente seis dia atrás morreu meu estimado pai. Os sintomas da doença eram muito estranhos. Primeiro surgiu em sua asa direita uma pequena inflamação, parecida com um tumor. Após dois ou três dias, esse tumor havia aumentado muito de maneira que meu pai passou a sentir dores horríveis. Mais uns poucos dias e começou acontecer o pior, tanto para meu pai e pra mim, como para o resto da cidade dos cavalos albinos, as penas de suas asas começaram cair e caíram todas, meu pai ficou numa situação de dar dó. Nesse momento a população da cidade, apavorada e com medo da doença ser contagiosa, fugiu da cidade, não restou ninguém. Apenas eu fiquei pra cuidar de meu velho pai e ampará-lo em sua morte. Poucas horas antes dele morrer, seu irmão, nosso protetor, Ttelé chegou e pode presenciar toda a desgraça de meu pai. Contei toda a história a ele e ele sem me explicar nada pediu pra vir até a Fortaleza pra comunicá-lo e aqui estou. Que eu tenha ajudado de alguma forma. Gostaria que contasse com os meus préstimos e gostaria de pedir também que não me mande embora, pois não tenho mais pra onde ir. Locemn acabou de falar e pode ver nos olhos de Mmalé pesadas lágrimas, que ele não compreendeu muito bem. Mmalé de posse daquelas informações, suspirou fundo e falou consigo mesmo: - Já começou, precisamos nos apressar. A seguir olhou para Péatraz e somente com os olhos pediu para que ele contasse sua história. Péatraz então, deu um passo à frente, no seu velho estilo desengonçado e começou a falar com sua inconfundível voz de trovão: Meu senhor a preocupação dos Cuupi-raKs é muito grande. A Floresta de Hibrilim está desprotegida. Os Cabelos-Vermelhos abandonaram seus postos e não sabemos qual foi o motivo, apenas que alguns meses antes deles saírem da Floresta de Hibrilim, um estranho ser passou por lá, mas nós, guardiões do portal não o vimos e mesmo que ele tivesse tentado se aproximar dos grandes círculos nós teríamos o repelido. Nós nos reunimos no circulo central para decidirmos o que fazer e optamos por enviar um mensageiro à Colina do Piherim e eu fui o escolhido. Saí da floresta com este objetivo, vir até a fortaleza comunicar os três anciões e não havia caminhado nenhum dia fora da Floresta, encontrei teu irmão, o sábio Ttelé e contei a ele toda a história achando que minha missão estivesse cumprida, mas ele me pediu para continuar minha jornada até a fortaleza e completar minha missão, pois não teria tempo pra tomar as devidas providencias naquele momento. Disse também que você saberia o que fazer. Ao terminar sua fala, o grande Péatraz fez uma cara de alivio por ter cumprido sua tarefa e permaneceu onde estava esperando alguma reação do grande e venerável unicórnio. Ficaram ali, os três em silencio. Locemn e Péatraz esperando a voz de Mmalé surgir para lhes dizer algo, aprovar ou desaprovar, louvar-lhes ou não pelo esforço que tinham feito, pelo sacrifício em nome de Haladian. Mas Mmalé permanecia calado. Seus pensamentos se voltaram instantaneamente para Kqelé e para o Salvador. Eles deveriam enviá-lo o mais rápido possível para o mundo dos humanos, pois a guerra havia começado e se agravaria a cada geração até culminar na grande guerra onde os cavalos alados lutariam pelas suas vidas de todas as maneiras possíveis. Nesse momento o Salvador deve estar preparado para assumir seu papel e principalmente para morrer pelo povo se for preciso. Mas para isso era preciso enviá-lo rápido, para que ele não seja contaminado pela horrorosa doença que já se aproxima. Olhou para Locemn e sentiu vergonha do jovem cavalo pois havia passado pela sua cabeça que talvez estivesse contaminado, doente. Mas arrependeu-se do pensamento sujo que teve e pediu desculpas a Locemn. Este ficou sem entender nada. Depois de passado o transe, Mmalé pediu licença a Péatraz e a Locemn, disse que iria se ausentar por apenas um dia e que eles deveriam esperar por ele, pois quando voltasse traria os conselhos de Osurumm com ele. Tendo dito isto, saiu e voou o mais rápido que pode para o topo da Colina do Piherim, para consultar o Chifre de Osurumm. Locemn e Péatraz aproveitaram para passear pela grandiosa fortaleza. Durante aquele dia visitaram todos os cantos da cidade, conheceram muita gente. Cavalos albinos como Locemn, cavalos brancos de asas negras e o contrário também, malhados, cavalos com as asas coloridas, enfim uma multidão de cavalos que Locemn não estava acostumado em sua pequena cidade. Locemn e Péatraz fizeram todos esses passeios sempre juntos e os cavalos que também nunca tinham visto um Cuupi-raK ficavam igualmente abestalhados. Já estava escurecendo quando resolveram voltar para o local marcado por Ttelé para esperá-lo. Ao chegar ao local que marcaram precisaram esperar pouco mais de meia hora para o magnifico unicórnio aparecer. Já estava anoitecendo quando o majestoso unicórnio retornou. Chegou com uma expressão serena em seu rosto, transmitindo paz a Locemn e a Péatraz. - Ficaram bem? - Aproveitamos para conhecer a fortaleza. - responderam os visitantes. Mmalé foi direto ao assunto, chamou Locemn e disse, com a voz firme, porém suave: - Locemn, meu jovem, você não tem mais pra onde voltar, não restou nenhum cavalo na sua cidade, por isso Osurumm disse que você deve permanecer na fortaleza, pois você será útil. A partir de hoje você se integrará ao exercito oficial haladiano. Treinará, se aperfeiçoará para se tornar um soldado e na hora certa, se necessário, defender a paz de Haladian como também sua própria vida, porém somente você pode decidir se é isso que você quer, Osurumm nunca obriga um filho seu fazer o que não quer. Aceita ou não? Locemn ficou radiante com a proposta feita por Mmalé e mais do que depressa aceitou. O ancião bateu os cascos no chão e instantaneamente entraram dois grandes cavalos, de armaduras reluzentes. Mmalé então pediu a eles pra que acompanhassem Locemn pra sua nova casa. E lá se foi Locemn, feliz da vida, tudo tinha terminado bem pra ele. Assim que ficou sozinho com Péatraz, olhou pra ele e foi direto: - Caro Péatraz , Osurumm não deu opção pra você. Seus deveres com o Ser Supremo o obriga a obedecer sem questionar e você bem sabe disso. É preciso que você parta imediatamente para Hibrilim e lá chegando reuna seus irmãos pra lhes contar toda a história. Você foi escolhido para buscar ajuda nos outros onze mundos, mas lembre-se, você deve ir sozinho, enfrentar todos os obstáculos que virão com a sabedoria dada por Osurumm. Deve pedir ajuda a todos os povos dos outros mundo, pois o perigo tem que ser contido em Haladian e se não conseguirmos todos os mundos podem sofrer as conseqüências. Em suas mãos Osurumm deposita a grandiosa missão de buscar ajuda e levar as noticias de Haladian. Em mil gerações os Cuupi-raKs devem estar preparados para a batalha, talvez antes. Quando chegar a hora vocês serão avisados através de um grande sinal no céu, em todos os mundos ele poderá ser visto e a esse sinal que todos venham ao nosso socorro. Vá com a paz de Osurumm em seu coração! Péatraz ouviu tudo sem nenhuma reação e quando Mmalé terminou de falar ele disse naturalmente: Adeus grande e sábio unicórnio! Minha vida e as de meus irmãos pertencem a Osurumm! Cumprirei a missão com o mesmo amor com que protejo a Floresta de Hibrilim e o Portal! Até logo... Deu as costas a Mmalé e saiu, nem mesmo a noite impediu o esforçado Péatraz de partir.
  2. Khallas

    Halladian

    Peço desculpa aos administradores, mas não sei como consegui postar o mesmo tópico 2 vezes...
  3. Khallas

    Halladian

    Aquela noite havia sido muito longa e Ttelé, após a longa e demorada reunião com os outros anciões, havia ficado bastante tenso com a missão que tinha que cumprir. Mas todas as três missões eram igualmente difíceis e teriam que ser cumpridas, pelo bem de Haladian. Com esse pensamento, Ttelé iniciou sua viagem rumo à Floresta de Hibrilim. Era muito longe e precisaria voar dia e noite se quisesse chegar logo. Porém sabia também que não haveria perigo nenhum na viagem, pois o perigo maior seria atravessar o Portal para descobrir a melhor maneira de enviar o jovem portador do sangue dos unicórnios, Salvador de Haladian. Ttelé decidiu então esperar amanhecer para iniciar sua jornada. Preparou-se bem e antes da primeira luz da manhã já estava voando alto. Suas longas e magnificas asas brilhavam de encontro à luz do sol. Ele teve um bom pressentimento. Algo lhe dizia que tudo daria certo. De onde partira, na Colina do Piherim seria cinco dias de viagem, atravessaria Haladian voando sempre a leste. Naquele primeiro dia tudo correra conforme planejara. Ao final do dia, já exausto, alcançou um pequeno desfiladeiro e ali resolveu passar a noite. Ainda não saído dos domínios de Piherim, por isso sabia que não havia perigo passar a noite naquele lugar e apesar de sozinho, sentiu-se reconfortado com a missão que tinha a cumprir. Estava buscando a paz para Haladian e finalmente contribuindo para o bem do seu próprio povo. Tudo correu bem naquela noite e novamente ao amanhecer já estava voando. Sobrevoou inúmeras aldeias durante sua viagem, mas no quarto dia, aconteceu o que era o grande temor dos anciões. Ttelé atingiu uma linda aldeia na região dos cavalos albinos e com pressa de chegar à floresta, não havia nenhum motivo para fazer uma breve parada, mas seu coração pedia pra que pousasse ali. Ao entrar na pequena cidade encontrou tudo muito quieto e vazio. Não havia ninguém nas ruas e parecia não haver ninguém na cidade. Todas as casas estavam fechadas e ele conhecendo bem a rotina das pequenas cidade de Haladian estranhou. Bateu forte com os cascos no chão ao caminhar pra chamar atenção, mas não apareceu ninguém. Era um silencio de morte, apenas o assobio do vento cortava aquele pesado silencio. Quando Ttelé resolveu partir, apareceu em sua frente um pequeno morador. – Me ajude, grande unicórnio do chifre brilhante!! – pediu aquele pequeno cavalo com lágrimas nos olhos. Ttelé aproximou-se dele, tão assustado quanto o pequeno cavalo e quis saber o que estava acontecendo e ouviu o jovem dizer trêmulamente que seu pai estava muito doente e que precisava de ajuda. Então Ttelé pediu que o levasse até seu pai e sempre com o jovem à sua frente, chegou num local já fora da cidade, onde estava o pai daquele tão sofrido jovem cavalo. Ttelé ficou muito triste e ao mesmo tempo preocupado com o que viu. O cavalo estava muito doente. O atencioso ancião sentiu um horrível arrepio na espinha quando se aproximou mais e pode perceber que o doente tinha perdido todas as penas das asas e o pior, havia um tumor enorme na asa direita. Com esses sintomas, Ttelé não teve duvidas, era o mal de Dascki e que aquele cavalo estava condenado, pois não havia nada a fazer. O cavalo, com o que sobrara de consciência disse a Ttelé que todos haviam fugido da cidade quando ele adoeceu. Até os mais velhos que conheciam a história e sabiam que não tinham pra onde fugir também se apavoraram. Somente seu filho permaneceu, mesmo tendo pedido pra ele partir também, pois não queria que o visse morrer. O ancião após ouvir a história já sabia o que deveria fazer. Chamou pelo jovem cavalo e quis saber se já voava e era capaz de alcançar a Colina do Piherim e levar um recado seu. Locemn, respondeu que nunca havia ultrapassado os limites da cidade e que não queria abandonar seu pai para morrer sozinho. Ttelé não teve outra alternativa, chamou Locemn e explicou ao jovem que não havia salvação para seu pai e que ele morreria naquele mesmo dia. Explicou ainda que era muito importante ele levar aquele recado, pois estaria ajudando os anciões a preservar a paz de Haladian. Foi muito duro para Locemn ouvir aquilo e num desespero que é normal pra quem está vendo seu pai morrer, correu até seu pai e chorando desesperadamente pediu pra que ele não o deixasse sozinho. Dricemn, calmamente levantou a cabeça e com os olhos também cheios de lágrimas disse ao filho: “Locemn, eu não tenho mais chances, mas você tem. Faça o que o unicórnio pede, deve ser importante. Você lembra das histórias que contava a você sobre os unicórnios? Ele é um ancião e não se há algum lugar seguro agora é junto dos anciões. Tenha orgulho de mim, eu saberei que você ficou bem”. Dricemn, ao dizer isso, apoio novamente a cabeça no chão e calmamente fechando o olhos, morreu. Qual é o recado? – perguntou Locemn já conformado com a morte do pai e ao mesmo tempo percebendo a importância de levar o recado o mais depressa o possível à Colina do Piherim. Ttelé então disse qual era o recado e deu as instruções a Locemn para que chegasse em segurança ao seu destino, inclusive recomendando evitar se aproximar muito do fronteira norte de Haladian, que era o caminho mais próximo, mas também o mais perigoso. Locemn nem esperou Ttelé terminar de falar e já estava voando e lá de cima se despedia do velho ancião. Ttelé, logo que Locemn desapareceu no horizonte, permaneceu um breve momento refletindo sobre a gravidade da morte daquele cavalo, e o pior ainda estava por vir pois com certeza muitos cavalos daquela aldeia já carregavam a doença sem manifestá-la e quando isso acontecesse infectariam outros cavalos por onde passassem e assim seria o triunfo de Dascki. Ttelé não podia mais se demorar, tinha que partir logo e foi o que fez, pois ainda estava ainda há um dia da Floresta de Hibrilim. O resto da viagem foi extremamente dolorosa para Ttelé. Carregava em suas asas o peso do medo que a morte de Dricemn causara-lhe. Ao mesmo tempo aquilo impulsionava-o a seguir em frente com mais certeza de que conseguiria cumprir sua missão a tempo. Com esse espírito resolveu voar durante a noite também para ganhar tempo. Seu chifre sempre brilhando e a luz da lua refletida em suas asas fazia com que Ttelé parecesse um cometa rasgando a escuridão da noite. Tudo se iluminava por onde ele passava. Com os primeiros raios de sol do amanhecer Ttelé pode avistar as primeiras arvores da grandiosa Floresta de Hibrilim, a mais antiga, mais velha até mesmo do que os anciões. Aquela visão animou Ttelé e resolveu pousar, pra descansar um pouco, antes de sobrevoar a grande floresta até o Portal de passagem. Ali naquele lugar maravilhoso, parecia que a paz nunca seria arranhada, o cheiro das flores e o canto dos pássaros davam aquela sensação e enganava até mesmo um sábio como Ttelé e este por um momento esqueceu-se do que tinha pra fazer e ficou apenas apreciando aquela linda paisagem. De repente, não muito distante de onde estava pode ver uma criatura muito esquisita correndo em sua direção e mais do que depressa Ttelé levantou-se para tentar ver do que se tratava tão estranha figura e se acalmou logo ao distinguir um representante legitimo dos simpáticos guardiões da Floresta de Hibrilim, os Cuupi-raK. Ele vinha correndo desengoçadamente, devido aos seus pés virados para trás, mas era normal para eles. O que não era normal era a expressão assustada que carregava em seu rosto e isto preocupou Ttelé, que foi ao seu encontro. Quando se encontraram, Ttelé o cumprimentou cordialmente e o Cuupi-raK fez uma longa e respeitosa saudação: - Seja bem vindo, oh! Grandioso unicórnio! Mestre dos mestre, sábio dos sábios!. Dizendo isto se curvou diante de Ttelé em sinal de respeito, gesto que Ttelé rapidamente pediu para que interrompesse, pois não era mais nem melhor do que ninguém, alem de que, estava com pressa de chegar o Portal. *** Os Cuupi-raK eram os seres protetores de todas as florestas em Haladian e nos outros mundos também. A Floresta de Hibrilim tinha esse nome justamente porque Hibrilim foi o Cuupi-raK quem semeou todas as suas sementes, regou, utilizando o Portal para ir a outros mundos buscar água para regar as ainda pequenas arvores. Nesse tempo Haladian era apenas um grande deserto e por isso não havia água. Hibrilim foi escolhido para aqui formar a grande floresta em torno do Portal. Em cada mundo havia uma grande floresta, onde era estrategicamente escondido as passagens ou portais. A floresta ficara conhecida então pelo nome desse primeiro Cuupi-raK. Após formar a floresta, Hibrilim trouxe outros Cuupi-raKs para ajudá-lo a cuidar daquela imensidão verde que ele havia criado. Com a permissão de seus superiores trouxe então dois tipos de Cuupi-raKs. Para proteger especificamente o Portal, Hibrilim trouxe Cuupi-raKs de cabelo verde, estes eram maiores do que os de cabelos vermelhos, ambos porém tinham a mesma aparência. A única coisa que os diferenciava dos humanos era os pés virados para trás e os cabelos, e a única coisa que os diferenciavam era, além do cabelo, sua estatura, sendo os Cabelo Verde bem maiores. Quando Hibrilim terminou sua missão, deixando Haladian pronta pra receber os primeiros moradores, precisava trazer à Haladian os protetores da floresta e do Portal que ficariam em seu lugar, assim convocou doze Cuupi-raKs Cabelos Verdes para protegerem e cuidarem da floresta perto do Portal, mas principalmente guardarem o Portal, impedindo que este fosse utilizado por seres não conhecedores da verdade. Para guardar e proteger o restante da floresta vieram então os Cuupi-raKs de cabelos vermelho, estes vieram em grande número, centenas deles, pois a floresta era muito grande. Os Cuupi-raKs eram seres muito nobres, principalmente os Cabelos Verdes, inteligentes e sensíveis, porém sua inteligência não ultrapassava muito questões que não fossem sobre as suas arvores e bichos. Os doze que cuidavam do Portal não se ausentavam um minuto de suas funções. Os Cabelos Vermelhos, até mesmo porque suas funções exigiam muita agilidade, viviam perambulando pela floresta e assim estavam constantemente sendo informados pelos inúmeros seres que transitavam nas redondezas e na Floresta de Hibrilim. *** Ttelé, já estava batendo sua possantes asas para alçar vôo quando olhou mais uma vez pro Cuupi-raK e percebeu que ele tinha cabelos verdes e imediatamente desistiu do vôo, recolheu suas asas e pode ver a sensação de alivio do Cuupi-raK. O que faz tão longe do Portal insensato guardião? – perguntou Ttelé asperamente. O guardião por sua vez, simples como todos os guardiões da floresta, respondeu como se estivesse contando uma história. “Meu nome é Péatraz. Sou um dos doze guardiões do Portal da Floresta de Hibrilim, estou fora do meu posto, oh! grande ancião, por ter sido mandado em missão urgente à Colina do Piherim para alertá-los do grande perigo que se aproxima de Haladian. A sorte está do lado dos Cuupi-raKs, pois veio ao meu encontro um dos três anciões e isso encurta minha jornada. Tenho que informá-lo que nós, os Cabelos-Verdes, ficamos sozinhos para cuidar do Portal e da floresta. Estamos muito preocupados, caro ancião, pois os Cabelos-Vermelhos foram iludidos por um estranho que aqui apareceu e abandonaram seus postos, foram embora, nos deixaram sozinhos. Por isto meu senhor eu estava indo à Colina de Piherim. Pra buscar ajuda, pra tentar descobriu o que aconteceu aos nossos irmãos Cabelos-Vermelhos.” Fez todo este discurso de um fôlego só e quando terminou era Ttelé quem fazia cara de espanto. Havia ficado impressionado com as informações de Péatraz e mesmo assim foi capaz de pensar rápido e decidiu quase que instantaneamente. Pediu para que Péatraz continuasse sua jornada rumo a Colina de Piherim para avisar os outros dois anciões que lá estavam, porque ele naquele momento tinha que terminar a missão que havia começado cinco dias atrás. Não deu muitos detalhes ao Cuupi-raK e este, muito desconfiado, ainda tentou questionar o pedido de Ttelé mas foi repelido com firmeza e rapidamente tomou o caminho da Colina de Piherim. Mais um problema e dessa vez muito sério. A saída dos Cabelos-Vermelhos da Floresta de Hibrilim era muito sério, pois há milhares e milhares de anos eles viviam ali, cuidando incansavelmente da floresta. Mas o mais perigoso era não saber o que poderia tê-los feito abandonar tudo para seguir um estranho. Era preciso saber urgente quem ou o que era esse estranho. Felizmente Ttelé havia enviado Péatraz para avisar os outros anciões e eles utilizariam o Chifre de Osurumm para tentar descobrir. Feito essas reflexões, Ttelé não perdeu nem mais um minuto e voou tão rápido como o vento em direção ao centro da floresta, rumo ao Portal, precisava concluir sua missão para poder voltar à Colina do Piherim urgentemente, o plano de salvar Haladian não podia mais ser adiado. Assim que chegou no Portal encontro os outros onze Cuupi-raK reunidos diante do Portal numa calorosa discussão. Quando Ttelé pousou em frente a eles foi um tremendo alvoroço, o que se via era um monte de corpos se enroscando de todas as maneiras possíveis, graças aos seus pés virado para traz. O Portal ficava exatamente no centro da floresta numa pequena clareira. Essa clareira era cercada por doze círculos das grandes e tão velhas arvores plantadas por Hibrilim, as Ghurucas, eram muito grandes e frondosas e seus troncos quase encostavam um no outro. Não eram arvores frutíferas, mas na primavera, suas flores forneciam o mais maravilhoso perfume da floresta, podendo até ser sentido fora da Floresta de Hibrilim. Dentro de cada circulo, ficava um Cabelo-Verde, andando sem parar, sempre no sentido horário, mas todos protegendo seu espaço. Mas neste dia tudo estava fora do normal. Naquele momento estavam os onze no circulo central, fora de seus postos, discutindo sobre toda aquela situação que pra eles era muito complicado, pois jamais haviam abandonado seus círculos, por motivo algum, nunca nada havia feito com que eles saíssem de suas rotinas e agora estavam ali, abobalhados olhando para Ttelé, sem ação nem reação, imóveis como se estivessem petrificados. Ttelé quis falar alguma coisa, mas como ressuscitados do transe, começaram todos a falar ao mesmo tempo, todos gritando e gesticulando numa balbúrdia interminável, até que um deles mesmo começou a gritar mais alto do que todos pedindo silencio. Insistiu muito até que conseguiu que aqueles brutamontes de cabelos verdes ficassem quietos e começou a falar, - Grande ancião, unicórnio de chifres brilhantes e asas douradas, o que aconteceu com nosso irmão, Péatraz, que mandamos avisá-los da terrível tragédia que se abateu sobre Hibrilim? Por que você veio tão rápido e não trouxe nosso irmão convosco?. Ttelé então, com toda a paciência, que é digna dos sábios, explicou toda a história aos Cuupi-raKs, mesmo omitindo alguns detalhes menos importantes pra eles, contou tudo o que eles precisavam saber. Os Cuupi-raKs ficaram ainda mais assustados, pois o perigo que ameaçava Haladian era muito grande e poderia chegar até mesmo aos outros mundos através do Portal. Diante dessa conclusão feita pelos próprios Cabelos-Verdes, Ttelé pediu aos mesmos para que continuassem com a tarefa de proteger o Portal, que não permitissem que nada, nem ninguém chegasse até ele. Tendo feito esse pedido finalmente, Ttelé caminhou tranqüilamente até o centro da clareira onde havia quatro bacias de pedra, alinhadas em um quadrado perfeito. No momento em que pisou exatamente no centro daquela figura, começou a passagem. De cada bacia começou a sair um elemento, água, fogo, terra e ar, em direção de Ttelé, numa grande explosão de luz, vento, poeira e brisa, que foi gradativamente desaparecendo até que não estava mais entre os Cuupi-raKs e tudo voltou ao normal. Ttelé havia atravessado. Do outro lado do Portal, Ttelé no início achou que não estivesse atravessado, porque a paisagem era a mesma. As mesmas árvores e a mesma posição do Portal, porém os guardiões eram outros, havia apenas um Cabelo-Verde no círculo do Portal, o que indicava que eles não sabiam de nada sobre Haladian e isso era bom, significava que não precisava explicar nada por enquanto, diria que viera a procura de ervas curativas. E realmente isto foi suficiente para aquele Cabelo-Verde, que parecia maior ainda do que os de Haladian. Ttelé passou um por um dos círculos sem ser importunado, pois os Cuupi-raKs dali conheciam os anciões de Haladian e sabiam que ele tinham permissão para transitar pelos mundos que quisessem. Assim, ao sair do décimo segundo circulo Ttelé levantou vôo, não perdendo tempo, voou o mais rápido que pode em direção ao sítio onde vivia Khallas. Ttelé não podia ser visto então voou muito acima das nuvens, numa velocidade impossível para ele em Haladian, mas no mundo dos humanos seus poderes eram quase ilimitados, podia até mesmo estar em muitos outros lugares ao mesmo tempo se quisesse, mas o sítio onde Khallas vivia, ele precisava visitar pessoalmente. A toda, do Portal até o sítio de Khallas, não demorou mais do que um piscar de olhos. Ainda era noite e Ttelé quis esperar até o amanhecer para realizar o reconhecimento que tinha vindo fazer. E apesar de estar com muita pressa pra voltar a Haladian, esperou, pois era necessário conhecer com certeza para onde mandariam o portador do sangue dos unicórnios, Salvador de Haladian, o último cavalo alado de sangue puro de Haladian. Por isso esperou impacientemente até amanhecer. Antes de clarear totalmente, Ttelé já estava voando pelas redondezas do sítio, olhando e inspecionando tudo, pois ali naquele lugar iria viver o responsável pelo futuro de Haladian. Depois de meia hora bisbilhotando todos os cantos do sítio, Ttelé pode ver o que ele tanto queria ver e que tanto tinha viajado para ver. Num curral perto da casa, havia uma égua. Era tudo que precisava para enviar o jovem cavalo. Era uma égua muito pequena, nem parecia um eqüino, mas serviria para os planos dos anciões. De onde estava ainda deu pra ver o menino Khallas, quando ele saiu para brincar com a futura mãe do salvador de Haladian no curral, de pés no chão, com o cabelo despenteado, mas o amor que sentia pelo cavalo estava estampado em seu olhar e nos seus gestos de carinho. Ttelé pode ver o quanto Khallas era especial, sentir sua bondade e o quanto era especial. Se emocionou e teve a certeza que tudo daria certo. O lugar onde o salvador nasceria era mágico. Observou pela última vez a égua no curral e a maneira como Khallas lidava com ela e se despediu. Ttelé concluiu como muito proveitosa sua viagem, pois ele não apenas tinha vistoriado pessoalmente pra onde iriam enviar o salvador, como também havia descoberto informações preciosas sobre o inimigo e que seriam de grande ajuda para os anciões traçarem um estratégia de defesa, mas principalmente apressarem o envio do salvador. Agora, Ttelé precisava ser rápido na volta a Haladian e assim rapidamente chegou ao Portal do mundo dos humanos. Tão afoito estava que nem cumprimentou os Cabelos-Verdes, foi logo pro Portal. Quando chegou ao outro lado, os Cabelos-Verdes o encheram de perguntas, mas Ttelé não teve tempo pra responder e em meio a trancos e barrancos abriu suas asas e levantou vôo. Já no alto deu até logo a ele e sumiu no horizonte. Em Haladian, o bom ancião não podia contar com os poderes que tinha no mundo dos humanos e por isso teria que voar sem parar cinco longos dias, mas isso não o desanimou e o incansável Ttelé ao fim do quinto dia já avistava a Colina do Piherim. Durante a viagem pode ver alguns sinais do inimigo, alguns cavalos mortos nas redondezas das aldeias, fogo e destruição das florestas, e muitas aldeias vazias. Isto fez com que Ttelé acelerasse mais ainda e antes do anoitecer ele pousava na esplanada da Colina do Piherim e era saudado pelos seus irmãos, por Locemn, Péatraz e Haddhór, que Ttelé ainda não conhecia. Obs: Por favor, peço aos possíveis leitores que comentem a história, e sugiram, afinal ainda estou aprendendo.... a história ainda não está pronta totalmente, tenhos 6 capítulos prontos, daí pra frente ainda irei escrever...
  4. Khallas

    Halladian

    Kqelé foi para o sul de Haladian, precisava encontrar o cavalo e prepará-lo para sua grande jornada. Teria que contar-lhe toda a história, omitindo apenas a parte do ressurgimento dos unicórnios alados, e convencê-lo de que era preciso fazer esse sacrifício. Haddhór morava num vale muito bonito, entre duas grandes montanhas, apelidadas carinhosamente pelos cavalos alados daquela região, Montanhas Azuis. Vivia tranqüilamente com toda a sua família. Tinha mais duas irmãs, eram mais velhas do que ele, que apesar de ainda não ser adulto, na idade, apresentava já uma força e imponência admiráveis. As irmãs de Haddhór não se conformavam em ser tão diferentes dele. Ele lembrava muito os cavalos das histórias contadas pelos mais velhos da colônia. Historias de cavalos descendentes diretos de unicórnios, de suas aventuras, de sua sabedoria e de como aqueles antepassados povoaram toda a Haladian, após derrotarem seu inimigo. Haddhór vivia alheio aos comentários de suas irmãs. Ajudava seu pai nas tarefas diárias e no tempo livre gostava de voar entre as Montanhas Azuis. Ficava horas e horas admirando todo o território, as florestas, o rio no fundo do vale. Muitas vezes também ia até o lago formado na base da cachoeira para se refrescar. Nunca havia notado a grande diferença existente entre ele e os outros cavalos. Mas seguia sua vida normalmente até que um dia, num desses vôos com outros cavalos, escutou um deles falando baixinho, "...Haddhór não é daqui". Quis ouvir o resto da conversa, mas eles perceberam e mudaram de assunto. Daquele dia em diante não foi mais o mesmo. Estava curioso e inquieto. Precisava descobrir do que se tratava, se era algum mistério que o envolvia ou apenas inveja dos seus amigos. Passaram os dias, anos e Haddhór nunca mais se esqueceu daqueles dias, porém aprendeu a conviver com a desconfiança dos demais. Agora já mais velho e mais imponente ainda, não tinha mais amigos, preferia viver só. Passava a maior parte do tempo no alto das Montanhas Azuis entre um vôo e outro. Começava sentir que era mesmo diferente e algo dentro dele dizia que não poderia permanecer ali durante muito tempo. Seu coração pressentia uma grande aventura. Seu pai, percebendo que havia chegado a hora de contar a verdade, mandou uma de suas filhas chamá-lo. Sua irmã o encontrou, naquele dia, mais distante do que de costume e surpreendeu-se quando ele disse a ela que o deixasse em paz e que nunca mais iriam vê-lo, pois estava de partida naquele momento para nunca mais voltar. Amnen se limitou a dizer que seu pai queria vê-lo, o mais depressa possível e se retirou não dando nenhuma explicação. Haddhór fingiu não ouvir o recado e seguiu seu caminho. Continuou voando sem rumo, queria se afastar rapidamente daquele que um dia ele havia chamado de casa. Voou muito alto, mais alto que já havia voado durante toda sua vida. Sentiu-se livre finalmente, não tinha mais ninguém para olhar pra ele com desconfiança por ele ser maior e mais forte que todos. Ao final de quatro dias resolveu pousar numa clareira de uma floresta magnifica que havia avistado lá de cima. Começou descer e quanto mais descia, mais percebia com encantamento a beleza daquela floresta. As árvores eram enormes e de espécies que ele não conhecia. Algumas floridas, outras cheias de frutos, mas todas especialmente belas. Foi se aproximando da clareira e pousou, mal colocou as patas no chão uma voz firme mas serena chegou aos seus ouvidos: Está atrasado. Kqelé, estava pastando tranqüilamente pela clareira, e achou graça do espanto do jovem cavalo, que num curto espaço de tempo quis saber seu nome, como sabia que ele chegaria... e outras perguntas tantas que Kqelé se cansou de ouví-las, mas deixou o jovem fazê-las a vontade. Quando Haddhór terminou sua rajada de perguntas, Kqelé disse, num tom que surpreendeu o jovem cavalo: Temos que voltar até a sua aldeia. Haddhór nem acreditou no que o estranho havia dito. Ele que tinha voado por dias, para fugir dos olhos interrogativos dos outros cavalos, agora estava de conversa mole com um unicórnio velho e aparentemente sem juízo. Kqelé repetiu mais uma vez, mas desta vez num tom mais imponente, deixando transparecer a necessidade de voltar para a aldeia. Haddhór por sua vez quis saber porque deveria acompanhá-lo, se nem sabia quem ele era e que não tinha motivo nenhum para fazer uma bobagem dessa, disse ainda que seguiria seu caminho e não deixaria que ninguém, muito menos um velho unicórnio louco, o atrapalhasse. Nesse momento Kqelé, se irritou e seu semblante se enfureceu. De repente começou soprar uma brisa leve, que foi aumentando, aumentando, o sol se escondeu. Kqelé começou a brilhar, e o brilho era tanto que Haddhór não conseguia olhar pra ele e foi se abaixando, se encolhendo. Kqelé então com as asas abertas disse com uma voz majestosa: Eu sou Kqelé, irmão de Ttelé, irmão de Mmalé, ancião da Colina de Piherim, guardião da paz e do destino de Haladian, ousas me afrontar? Haddhór ficou trêmulo diante do poder e da força do unicórnio. Aquela voz não falou apenas aos seus ouvidos, mas também ao seu coração e ficou convencido que teria que acompanhar o ancião, mas antes de partirem ainda fez mais uma pergunta: O que vamos fazer lá?. O ancião respondeu pacientemente que ele saberia de tudo, era só ter um pouco mais de paciência. Depois de três longos dias voando em direção à aldeia de Haddhór avistaram sua casa. Kqelé percebeu o nervosismo e o peso que tomava conta da alma do jovem cavalo a seu lado. A noite não esperou eles chegarem, tiveram que terminar a viagem durante a noite. E a escuridão ajudou Haddhór disfarçar seu nervosismo. Quando chegaram à aldeia, não havia mais ninguém acordado e eles puderam passar despercebidos por entre as casas. Foram rapidamente para a casa do velho pai de Haddhór. Lá chegando, foram recebidos pelo velho cavalo, que por sinal estava muito contente. Fez um longo e respeitoso sinal de reverencia a Kqelé, que deixou Haddhór bastante confuso e curioso. Porque seu pai cumprimentava com tanto respeito tal unicórnio? Haddhór se perguntava. Quanto tempo velho amigo? Disse Kqelé. O pai de Haddhór disse que tinha sido tanto tempo que tinha perdido a conta. O unicórnio então explicou como havia encontrado o jovem cavalo e como convenceu a voltar com ele para a aldeia. Em seguida com o ar mais sério pediu ao velho pai de Haddhór que contasse toda a verdade sobre como ele veio parar ali. O velho então, com os olhos cheios de lágrimas, começou a falar, sempre olhando para seu filho: "Você era um belo potrinho, eu fiquei admirando você por muito tempo, antes que Kqelé me despertasse do transe onde me encontrava, para me lembrar que a situação exigia pressa. Estávamos em guerra, e Haladian tal qual conhecemos hoje é resultado de todos os sacrifícios que fizemos naqueles longos e tristes dias de guerra, onde perdemos muitos amigos, destruímos muitos inimigos também, mas o que conta é que no final o objetivo foi alcançado. Estávamos encurralados na Grande Coroa do Rei, defendendo a ultima posição antes de sermos totalmente aniquilados e os três anciões com toda sua sabedoria, me pediram para salvar o portador do sangue dos unicórnios, Salvador de Haladian, que é você meu filho. Para isso os anciões fizeram uma grande manobra para chamar atenção dos cães do norte, para que eu pudesse escapar com meu precioso tesouro. Os anciões, entre eles Kqelé, que aqui está, arriscaram suas vidas por você, meu filho. Confesso que tive muito medo ao voar com você sem saber pra onde levá-lo, sem saber o que fazer para protegê-lo. Quando já não agüentava mais voar, avistei um local que parecia que a guerra não tinha alcançado e mesmo com medo de haver inimigos escondidos, pousei, com você meu filho. Fui ficando, no começo eu era muito desconfiado com tudo e com todos. Eu esperava a chegada dos inimigos a tua procura todos os dias, mas os dias foram passando sem mais nada acontecer. Fui me acostumando com este lugar e mesmo sem ter noticia sobre a batalha, tive a certeza que os três anciões haviam conseguido vencer, pois a paz exalava todos os cheiros e sons que chegavam até mim. Centenas de anos se passaram e eu sempre esperando este dia pra contar toda a verdade a você meu filho. Você deve seguir Kqelé, ele vai te levar até o lugar que é seu por direito e explicar o que faltou na minha história. Estou muito velho, e fiz o que pude por você porque sei que Haladian será eterna e eu fiz parte da história do nosso povo". Haddhór, ao final da história, estava muito emocionado e parecia não ter acreditado em tudo que acabava de ouvir. Aproximou-se de seu pai e fez um afago em seu rosto. Disse-lhe que era muito agradecido por tudo que tinha feito por ele e pediu perdão por tê-lo deixado sem se despedir. Agora que tudo havia sido esclarecido e que Haddhór já sabia do seu papel naquela história, Kqelé aproximou-se do jovem cavalo e disse que era preciso partir, pois teriam ainda que viajar muitos dias ao encontro dos outros dois anciões, que os esperavam na Colina do Piherim. Haddhór ainda quis saber o que iriam fazer quando chegassem lá, mas Kqelé, apenas adiantou que chegando lá ele saberia.
  5. Khallas

    Halladian

    A Colina do Piherim era uma montanha sagrada em Haladian. Havia em sua base, no lado sul, uma nascente, a nascente do Rio Azul, o maior de Haladian. Ali ficava a grande fortaleza do Piherim. Um local muito bonito formado por uma reentrância enorme na encosta da montanha. Do lado esquerdo da fortaleza ficava a nascente do grande rio, que servia à população da fortaleza. Piherim abrigava cavalos de toda a Haladian, que vinham até ali para consultar-se com os anciões. Eram três os anciões de Haladian e eles viviam no alto da montanha no grande santuário do Chifre de Osurumm. Eram os conselheiros, guardiões do santuário e da paz de Haladian. Quando Haladian ainda era jovem, no inicio dos tempos, quando Osurumm ainda podia ser visto por todos os cavalos, os anciões eram em número de doze espalhados pelos quatro cantos de Haladian, cada um exercendo a função de ser o representante direto do criador. Com as muitas guerras causadas pelo eterno inimigo de Haladian, restaram apenas três anciões e Osurumm se afastou, deixou que os cavalos decidissem seu destino, deixando os últimos três anciões para interceder pelos cavalos junto a Osurumm. *** No alto da Colina do Piherim, numa noite de inverno, muito escura, se reuniram os três anciões de Haladian. Eram seres magníficos, apesar de serem os primeiros habitantes do Reino Encantado dos Cavalos Alados. Eram também unicórnios, os últimos da sua raça e ancestrais de todos os cavalos alados de Haladian. A beleza daqueles cavalos era inconfundível. O grande chifre que possuíam no meio da testa brilhava ininterruptamente. Suas asas parecia que eram feitas de seda e ouro, pois aparentavam muita leveza e ao mesmo tempo um brilho tão intenso que era impossível olhar diretamente por muito tempo. Mmalé, era o nome do líder deles. Sua imponência não deixava dúvidas quanto à sua liderança. Os outros dois eram Ttelé e Kqelé. Estes últimos não perdiam em nada em beleza, exuberância e imponência para o líder. Mmalé era o líder apenas porque era o mais velho dos três. Aquela reunião havia sido marcada de última hora. Mmalé havia mandado um mensageiro avisar da reunião e que teria que ser na inicio da próxima lua cheia e que resolver um grande problema que estava por vir. Quando Ttelé e Kqelé chegaram ao topo da Colina do Piherim, Mmalé já estava lá e com um ar bastante preocupado. Antes mesmo dos outros dois perguntarem o porque da reunião de emergência o líder dos anciões foi se adiantando: Meus queridos irmãos, chamei-os aqui para uma conferência e o resultado dependerá o destino de toda a Haladian. Kqelé, com sua voz doce e suave, disse que já havia pressentido o perigo mas não sabia exatamente do que se tratava e por isso achou que o líder marcaria uma reunião logo. - O que o Chifre de Osurumm revelou? Perguntou Ttelé. - Bem, caros irmãos, O Chifre de Osurumm revelou que daqui a mil gerações, haverá um grande inimigo que poderá ameaçar a paz de Haladian. – Respondeu Mmalé. Então Kqelé, mais uma vez com a serenidade que é digna dos sábios disse: Nascerá uma princesa e esta princesa será a genitora do renascimento dos unicórnios de Haladian e para que isso aconteça é preciso proteger o último cavalo alado de sangue de unicórnio puro de Haladian. Ficaram durante muito tempo debatendo sobre aquele assunto. Esgotaram as possibilidades de solução, estudaram minuciosamente cada alternativa e finalmente decidiram por enviar o cavalo para o mundo dos humanos, onde ele estaria a salvo até que pudesse voltar pra cumprir seu destino. Precisavam agora escolher exatamente pra onde mandar, pois não poderiam correr o risco do cavalo ser maltratado pelos homens. Resolveram consultar novamente O Chifre de Osurumm, para que este lhes indicassem para onde enviar seu protegido. O chifre mostrou aos três atenciosos anciões um menino. Um menino muito especial, que morava num lugar maravilhoso e que nem parecia o mundo dos humanos. O menino era diferente dos outros. Gostava da natureza e dos bichos, passava os dias apreciando a beleza da natureza. O Chifre de Osurumm revelou ainda que o destino do cavalo e do menino estava unido e que os dois deveriam se encontrar de qualquer maneira, pois da amizade dos dois dependia todo o reino. Os anciões, mais uma vez então, se puseram a discutir acaloradamente a melhor maneira de unir o menino e o cavalo. Podemos simplesmente enviá-lo através do Portal da Floresta de Hibrilim. – Sugeriu Kqelé. A sugestão foi bem vinda, mas tinha um problema. Se o cavalo chegasse repentinamente no outro lado do Portal, corria o risco de ser mal recebido ou ser recebido por outra pessoa. O plano teria que ser feito com cuidado, para que tudo corresse conforme era necessário. Eles já estavam quase sem assunto quando Ttelé teve uma idéia: Meus irmãos, nós podemos utilizar o Portal, primeiramente para estudar o local pra onde estamos enviando nosso precioso irmãozinho, depois podemos utilizar o PODER DO NASCIMENTO. Os outros dois anciões ficaram assustados com a idéia e ao mesmo tempo contentes. Ficaram felizes porque somente dessa maneira teriam certeza de que o cavalo e o menino se tornariam amigos e o medo e a tristeza veio do conhecimento que tinham sobre o poder do nascimento espontâneo. Poucas vezes havia sido utilizado e muitas vezes dera errado. Algumas dessas vezes ocasionando até mesmo a morte do cavalo enviado. Porém dessa vez era necessário correr este risco, além de que agora tinham a certeza de que daria certo porque o destino do cavalo e do menino era o mesmo. Por isso decidiram que seria dessa forma que enviariam o cavalo à terra. Quando todos os detalhes já tinham sido discutidos e acertados, partiram. Kqelé foi para o sul, em busca do Salvador de Haladian. Ttelé seguiria para o leste até os limites de Haladian para atravessar o Portal. Mmalé permaneceria na Colina do Piherim para preparar a passagem do salvador, assim que os outros dois anciãos retornassem. Cada qual com sua missão. Capitulo III amanhã...
  6. Khallas

    Halladian

    Khallas levantou-se bem cedo naquele dia. Era uma manhã linda. Havia muita neblina e mal dava pra enxergar a paisagem da janela de onde ele estava. O nosso herói morava num pequeno sítio encravado no interior solitário de algum país nesse tão grande planeta que é o nosso. Era um sítio pequeno, bem pequeno. Era muito pequeno mesmo, mas Khallas gostava muito de morar ali. Ali nascera e já tão cedo cultivava a idéia de que quando morresse, queria ali ser enterrado, na sombra da sua árvore, perto do formigueiro, do lado do pequeno córrego ao fundo da propriedade, sentindo o cheiro das flores e ouvindo o zumbido das abelhas e vendo o vai e vem dos passarinhos. Dali, da sua janela, esperou o dia acabar de amanhecer. O sol veio quente e luminoso, fazendo com que a neblina se recolhesse ao seu esconderijo para esperar pacientemente pelo dia seguinte. Vestiu sua já surrada calça, uma camisa de algodão, que parecia suja, mas não estava, calçou seu sapato, que também estava com claros sinais de super utilização. Vestido daquele jeito ele parecia brilhar de felicidade. Era um garoto muito estranho. Sentia-se feliz naquele dia, em especial por que havia chovido um pouco durante a noite e com isso ele achava que seria uma boa oportunidade para observar o trabalho da natureza. Bem, voltemos ao despertar do nosso herói. Foi até a cozinha e soturnamente enfiou alguns bolinhos, que estavam prontos em cima da mesa, numa sacola, encheu uma pequena garrafa com leite e antes que aparecesse alguém, já havia desaparecido porta a fora. Aquele seria um dia especial, ele sentia isso desde que acordara. Tudo estava diferente. Havia um cheiro que ele não conhecia, que era muito agradável e ao mesmo tempo lembrava alguma coisa que ele já havia visto ou sentido antes. Ventania voava, cavalgava como se estivesse voando, se sentia livre quando cavalgava com Khallas, não precisava de rédeas e Khallas nunca quis pô-las. Juntos era como se fossem um só ser. Depois de meia hora naquele ritmo alucinado, numa correria sem freios nem rédeas, como se estivessem aproveitando seus últimos dias de vida, pararam. Khallas desmontou e de maneira muito natural pediu para que Ventania não se afastasse muito, pois não gostava de ficar sozinho. Ventania, como se houvesse entendido balançou a cabeça positivamente e seguiu até uma moita de capim novo bem próxima. Era um lugar muito bonito, onde eles tinham parado. Havia uma pedra enorme no alto de um morro. Poucas árvores ao redor, mas a poucas que haviam estavam cheias de flores. Abelhas e beija-flores faziam a festa com aquela abundância de alimento proporcionado pela natureza. Um pequeno rio corria mansamente por entre aquela rala floresta e pequenos peixinhos amarelos dançavam entre as pedras do fundo. Khallas ficou durante algum tempo apenas admirando aquilo tudo. Observou a pedra no alto do morro e ficou tentando imaginar como tinha ido para lá em cima uma pedra daquele tamanho? Quem teria força suficiente para fazer tal trabalho? Ou seria alguma máquina? Enfim, imaginou inúmeras possibilidades até perceber os beija-flores voando ao seu redor. Eram azuis, verdes, amarelos, com o bico longo, curto, reto ou curvado. Caminhou até uma das árvores onde estavam aqueles belos pássaros, sentou e passou a observar, desta vez, aqueles estranhos pássaros, que voavam em todas as direções. Beijando as flores. Se alimentando delas. As perguntas explodiam em sua mente. Como conseguiam voar até pra trás? Quem lhes ensinou a comer o mel das flores assim como as abelhas? Aliás, as abelhas também era outro mistério. Não gostava muito de multidões. Pra ele três pessoas já era uma coisa insuportável. Por isso não ia a cidade. Não cortava o cabelo, ao menos voluntariamente. As vezes quando acordava estava de cabelo curto e isso ele sempre atribuíra aos muitos seres imaginários de suas brincadeiras diárias. Já no curral, que ficava atrás da casa, perto o suficiente para que ele não demorasse mais do que cinco minutos entre sair de casa, chamar pelo Ventania, montá-lo e ganhar o mundo no pelo daquele que era seu melhor amigo entre todos os que tinha no sítio. Ficou ali, olhando pra cima até doer seu pescoço. Deu sede, levantou-se e foi até o riozinho, tomou um pouco daquela água e mais uma vez ficou hipnotizado com o espetáculo dos peixinhos amarelos, que pareciam dançar no fundo d’água. Essa era a rotina de Khallas, quase todos os dias. Reparava em tudo, gostava de todos os animais que conhecia e tentava entender seus costumes. As vezes passava dias inteiros apenas observando as formigas na sua interminável tarefa de cortar e carregar folhas pra dentro do formigueiro. Ficava ele lá, seguindo as trilhas das formigas. Distinguindo as que cortavam, as que carregavam e as que apenas fiscalizavam o trabalho. Achava intrigante o fato delas nunca se perderem da trilha. Ficava se perguntando: o que será que elas sempre conversam quando se encontram e ficam batendo uma antena na outra? Assim era o nosso herói. Ele fazia parte daquele mundo. Ele era a própria natureza e não queria ser outra coisa. Não conhecia outra realidade que não fosse aquela. Ventania era toda a amizade que ele precisava no mundo. E o resto era completo com suas paisagens, bichos, rios, flores, formigas, pedras . . . Sua mãe já não falava mais nada. Na verdade era como se não tivesse mãe nem pai. Nem casa, que ele usava muito a contra gosto pra dormir. Quando chegava a hora de voltar pra casa Khallas ficava desanimado. Não que ele não gostasse de seus pais, pelo contrário, gostava muito, pois seus pais eram bons e sábios. Haviam ensinado tudo o que ele achava que sabia e principalmente ensinado uma lição que ele nunca se esquecia. “Tudo no mundo é mágico. Cada coisa tem a sua importância no mundo, desde o mais pequeno até o maior de todos os seres” – Dizia sua mãe. Khallas dava muita importância a isso. Mesmo assim preferia a companhia da natureza. Certa vez numa dessas manhas de neblina, Khallas, antes mesmo de se vestir, correu para o curral a procura de Ventania, pois havia sonhado com ele a noite inteira, e ficou desesperado, pois Ventania não estava lá. Ele ficou numa situação de dar pena na gente. O seu melhor amigo havia sumido. Desaparecido. E pra Khallas foi o fim do mundo, do seu mundo, pois nunca havia se separado de Ventania. E dessa vez teve que ficar sem ele. Ventania ficou dois dias desaparecido. No terceiro dia pela manhã quando Khallas foi até o curral, lá estava ele e no mesmo momento tudo pareceu ter voltado ao normal. Por onde esteve? – Perguntou Khallas ao amigo, como se este fosse capaz de respondê-lo. Mas era justamente esta relação que unia aqueles dois. Menino e cavalo numa amizade que ninguém sabia se era mais humana ou eqüina. Enfim aqueles dois se entendiam. Khallas compreendeu que Ventania não queria lhe contar o que tinha acontecido e que era pra ele não se preocupar. E assim passou aquele episódio sem mais acontecimentos, Khallas esqueceu do assunto e tudo voltou ao normal. Quase tudo havia voltado ao normal. Os passeios pelas serras e redondezas do sitio, os banhos no riozinho, o vôo dos pássaros, as formigas no seu constante carregar de folhas. Ma havia algo diferente. Khallas havia notado algo estranho em Ventania. Seu grande amigo já não era o mesmo. Andava sempre nervoso e se assustando com qualquer movimento, até mesmo uma folha que caia do alto de uma árvore ou com o canto repentino de alguma ave. E era impossível que Khallas não notasse, por mais que Ventania se esforçasse em disfarçar. O belo cavalo parecia estar triste e preocupado com alguma coisa que Khallas não conseguia saber o que era. Havia pensado que talvez Ventania estivesse apaixonado, enganou-se. Pensou que poderia ser alguma doença, enganou-se igualmente. Se cansou de fazer perguntas a Ventania sobre o que estava acontecendo e sempre obtinha as mesmas resposta. Ventania se negava, refugava, ficava ainda mais nervoso quando Khallas começava com aquela conversa. E assim tudo foi ficando cada vez pior. Os passeios foram diminuindo a cada mês, a cada dia, até que finalmente deixaram de acontecer. Khallas, muito angustiado e ainda sem entender o que estava acontecendo, não ia mais no curral, para não ver Ventania naquela tristeza, de cabeça baixa, de passos lentos. Nunca mais escutara o relinchar de Ventania pasto a fora. O máximo que Khallas fazia era ir até a janela de seu quarto pra tentar vê-lo sem deixar-se ver. Tudo mudou para Khallas. Sua mãe vendo que ele já não saia de casa resolveu mandá-lo à cidade para estudar. O menino concordou, não deu problema. Não contestou. Apenas concordou, pois sentia que não tinha mais sentido permanecer no sítio daquele jeito. Sem a companhia de Ventania, as aventuras que vivia ao lado dele. Não tinha mais graça nenhuma. E decidiu que iria embora para o colégio. Depois de tomada a decisão, um dia criou coragem e foi procurar Ventania pra contar a ele que iria embora, procurou um dia inteiro e não encontrou. No outro dia saiu de novo, foi a todos os lugares onde tinham costume de ir juntos e nada encontrou. Foi até o morro da pedra, pois lá tinha certeza que encontraria, mas mais uma vez se decepcionou. Naquele dia quando voltou pra casa, voltou mais triste ainda. Teria que ir embora sem se despedir do seu amigo e isso o estava incomodando muito. Chegou em casa contou pra sua mãe que havia procurado por todo o sitio mas que não havia encontrado nem rastro e que havia se decidido ir embora sem se despedir mesmo. Se Ventania não quis mais minha amizade, algum motivo ele deve ter. – Disse o menino, desconsolado. A última noite de Khallas no sítio foi extremamente difícil. Ele não conseguia dormir, estava inquieto. Sua tristeza era muito grande e não conseguia parar de pensar em Ventania. O que terá acontecido pra ele me abandonar? – se perguntava. Mas não obtinha resposta. Não conseguia entender. E quando o dia amanhecesse iria embora pro colégio e provavelmente nunca mais voltaria a ver Ventania. Ficou com esses pensamentos na cabeça o tempo todo. Khallas já não agüentando ficar na cama, resolveu levantar e dar uma volta pela casa. Foi até a cozinha beber água, voltou até seu quarto e resolveu abrir a janela. Abriu vagarosamente e meio cismado foi se aproximando, estava com medo e não sabia porque de repente começara a sentir que algo estranho estava acontecendo. Olhou pra fora. A escuridão não favorecia muito sua visão, mesmo assim ele viu perto do curral o seu grande amigo. Mas ele estava diferente, parecia estar brilhando e parecia estar maior do que já era. Ficou hipnotizado com a visão, principalmente quando Ventania começou falar dentro de sua cabeça: Khallas, venha.... – era a voz. Khallas ficou mais assustado ainda, porém não sentiu mais medo. No mesmo momento decidiu que iria e sentiu que demoraria a voltar. Colocou algumas roupas numa trouxa, rápido mas silenciosamente, para não despertar sua mãe, foi até cozinha, pegou alguma coisa pra comer, encheu sua garrafinha de leite, colocou tudo dentro da trouxa e saiu. Foi ao encontro de Ventania que parecia tão aflito ao chamá-lo. Foi se aproximando do curral e começou a se perguntar: será que eu não estava sonhando? Se fez esta perguntas inúmeras vezes no curto espaço que separa sua casa do curral onde Ventania, brilhando como a lua cheia, o esperava. Chegou perto do seu amigo chorando. O que aconteceu amigão? Porque sumiu? Porque estava tão nervoso? Fez tantas perguntas que não conseguiu ouvir as respostas. Porém desta vez Ventania falou, não como antigamente, mas falou e sua voz era como o vento suave nas tardes de verão. Khallas ficou admirado, bobo até. Seu melhor amigo falava e ele ouvia perfeitamente. Se antes eles já se entendiam, imagina agora. Depois de passado a surpresa inicial, Khallas quis saber toda a história, mas Ventania se limitou a dizer: Está na hora, temos que ir. Tomara que tenham gostado. Obs: Dia 13/08 depois das 17:00 horas posto o Capítulo II...
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