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Halladian


Khallas

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Kqelé foi para o sul de Haladian, precisava encontrar o cavalo e prepará-lo para sua grande jornada. Teria que contar-lhe toda a história, omitindo apenas a parte do ressurgimento dos unicórnios alados, e convencê-lo de que era preciso fazer esse sacrifício.

 

Haddhór morava num vale muito bonito, entre duas grandes montanhas, apelidadas carinhosamente pelos cavalos alados daquela região, Montanhas Azuis. Vivia tranqüilamente com toda a sua família. Tinha mais duas irmãs, eram mais velhas do que ele, que apesar de ainda não ser adulto, na idade, apresentava já uma força e imponência admiráveis. As irmãs de Haddhór não se conformavam em ser tão diferentes dele. Ele lembrava muito os cavalos das histórias contadas pelos mais velhos da colônia. Historias de cavalos descendentes diretos de unicórnios, de suas aventuras, de sua sabedoria e de como aqueles antepassados povoaram toda a Haladian, após derrotarem seu inimigo.

 

Haddhór vivia alheio aos comentários de suas irmãs. Ajudava seu pai nas tarefas diárias e no tempo livre gostava de voar entre as Montanhas Azuis. Ficava horas e horas admirando todo o território, as florestas, o rio no fundo do vale. Muitas vezes também ia até o lago formado na base da cachoeira para se refrescar. Nunca havia notado a grande diferença existente entre ele e os outros cavalos. Mas seguia sua vida normalmente até que um dia, num desses vôos com outros cavalos, escutou um deles falando baixinho, "...Haddhór não é daqui". Quis ouvir o resto da conversa, mas eles perceberam e mudaram de assunto. Daquele dia em diante não foi mais o mesmo. Estava curioso e inquieto. Precisava descobrir do que se tratava, se era algum mistério que o envolvia ou apenas inveja dos seus amigos.

 

Passaram os dias, anos e Haddhór nunca mais se esqueceu daqueles dias, porém aprendeu a conviver com a desconfiança dos demais. Agora já mais velho e mais imponente ainda, não tinha mais amigos, preferia viver só.

 

 

Passava a maior parte do tempo no alto das Montanhas Azuis entre um vôo e outro. Começava sentir que era mesmo diferente e algo dentro dele dizia que não poderia permanecer ali durante muito tempo. Seu coração pressentia uma grande aventura.

 

Seu pai, percebendo que havia chegado a hora de contar a verdade, mandou uma de suas filhas chamá-lo. Sua irmã o encontrou, naquele dia, mais distante do que de costume e surpreendeu-se quando ele disse a ela que o deixasse em paz e que nunca mais iriam vê-lo, pois estava de partida naquele momento para nunca mais voltar. Amnen se limitou a dizer que seu pai queria vê-lo, o mais depressa possível e se retirou não dando nenhuma explicação. Haddhór fingiu não ouvir o recado e seguiu seu caminho. Continuou voando sem rumo, queria se afastar rapidamente daquele que um dia ele havia chamado de casa.

 

Voou muito alto, mais alto que já havia voado durante toda sua vida. Sentiu-se livre finalmente, não tinha mais ninguém para olhar pra ele com desconfiança por ele ser maior e mais forte que todos. Ao final de quatro dias resolveu pousar numa clareira de uma floresta magnifica que havia avistado lá de cima. Começou descer e quanto mais descia, mais percebia com encantamento a beleza daquela floresta. As árvores eram enormes e de espécies que ele não conhecia. Algumas floridas, outras cheias de frutos, mas todas especialmente belas. Foi se aproximando da clareira e pousou, mal colocou as patas no chão uma voz firme mas serena chegou aos seus ouvidos: Está atrasado.

 

Kqelé, estava pastando tranqüilamente pela clareira, e achou graça do espanto do jovem cavalo, que num curto espaço de tempo quis saber seu nome, como sabia que ele chegaria... e outras perguntas tantas que Kqelé se cansou de ouví-las, mas deixou o jovem fazê-las a vontade. Quando Haddhór terminou sua rajada de perguntas, Kqelé disse, num tom que surpreendeu o jovem cavalo: Temos que voltar até a sua aldeia.

 

Haddhór nem acreditou no que o estranho havia dito. Ele que tinha voado por dias, para fugir dos olhos interrogativos dos outros cavalos, agora estava de conversa mole com um unicórnio velho e aparentemente sem juízo. Kqelé repetiu mais uma vez, mas desta vez num tom mais imponente, deixando transparecer a necessidade de voltar para a aldeia. Haddhór por sua vez quis saber porque deveria acompanhá-lo, se nem sabia quem ele era e que não tinha motivo nenhum para fazer uma bobagem dessa, disse ainda que seguiria seu caminho e não deixaria que ninguém, muito menos um velho unicórnio louco, o atrapalhasse.

 

Nesse momento Kqelé, se irritou e seu semblante se enfureceu. De repente começou soprar uma brisa leve, que foi aumentando, aumentando, o sol se escondeu. Kqelé começou a brilhar, e o brilho era tanto que Haddhór não conseguia olhar pra ele e foi se abaixando, se encolhendo. Kqelé então com as asas abertas disse com uma voz majestosa: Eu sou Kqelé, irmão de Ttelé, irmão de Mmalé, ancião da Colina de Piherim, guardião da paz e do destino de Haladian, ousas me afrontar?

 

Haddhór ficou trêmulo diante do poder e da força do unicórnio. Aquela voz não falou apenas aos seus ouvidos, mas também ao seu coração e ficou convencido que teria que acompanhar o ancião, mas antes de partirem ainda fez mais uma pergunta: O que vamos fazer lá?. O ancião respondeu pacientemente que ele saberia de tudo, era só ter um pouco mais de paciência.

 

Depois de três longos dias voando em direção à aldeia de Haddhór avistaram sua casa. Kqelé percebeu o nervosismo e o peso que tomava conta da alma do jovem cavalo a seu lado. A noite não esperou eles chegarem, tiveram que terminar a viagem durante a noite. E a escuridão ajudou Haddhór disfarçar seu nervosismo.

 

Quando chegaram à aldeia, não havia mais ninguém acordado e eles puderam passar despercebidos por entre as casas. Foram rapidamente para a casa do velho pai de Haddhór. Lá chegando, foram recebidos pelo velho cavalo, que por sinal estava muito contente. Fez um longo e respeitoso sinal de reverencia a Kqelé, que deixou Haddhór bastante confuso e curioso. Porque seu pai cumprimentava com tanto respeito tal unicórnio? Haddhór se perguntava. Quanto tempo velho amigo? Disse Kqelé. O pai de Haddhór disse que tinha sido tanto tempo que tinha perdido a conta. O unicórnio então explicou como havia encontrado o jovem cavalo e como convenceu a voltar com ele para a aldeia. Em seguida com o ar mais sério pediu ao velho pai de Haddhór que contasse toda a verdade sobre como ele veio parar ali.

 

O velho então, com os olhos cheios de lágrimas, começou a falar, sempre olhando para seu filho:

"Você era um belo potrinho, eu fiquei admirando você por muito tempo, antes que Kqelé me despertasse do transe onde me encontrava, para me lembrar que a situação exigia pressa. Estávamos em guerra, e Haladian tal qual conhecemos hoje é resultado de todos os sacrifícios que fizemos naqueles longos e tristes dias de guerra, onde perdemos muitos amigos, destruímos muitos inimigos também, mas o que conta é que no final o objetivo foi alcançado. Estávamos encurralados na Grande Coroa do Rei, defendendo a ultima posição antes de sermos totalmente aniquilados e os três anciões com toda sua sabedoria, me pediram para salvar o portador do sangue dos unicórnios, Salvador de Haladian, que é você meu filho. Para isso os anciões fizeram uma grande manobra para chamar atenção dos cães do norte, para que eu pudesse escapar com meu precioso tesouro. Os anciões, entre eles Kqelé, que aqui está, arriscaram suas vidas por você, meu filho. Confesso que tive muito medo ao voar com você sem saber pra onde levá-lo, sem saber o que fazer para protegê-lo. Quando já não agüentava mais voar, avistei um local que parecia que a guerra não tinha alcançado e mesmo com medo de haver inimigos escondidos, pousei, com você meu filho. Fui ficando, no começo eu era muito desconfiado com tudo e com todos. Eu esperava a chegada dos inimigos a tua procura todos os dias, mas os dias foram passando sem mais nada acontecer. Fui me acostumando com este lugar e mesmo sem ter noticia sobre a batalha, tive a certeza que os três anciões haviam conseguido vencer, pois a paz exalava todos os cheiros e sons que chegavam até mim. Centenas de anos se passaram e eu sempre esperando este dia pra contar toda a verdade a você meu filho. Você deve seguir Kqelé, ele vai te levar até o lugar que é seu por direito e explicar o que faltou na minha história. Estou muito velho, e fiz o que pude por você porque sei que Haladian será eterna e eu fiz parte da história do nosso povo".

 

Haddhór, ao final da história, estava muito emocionado e parecia não ter acreditado em tudo que acabava de ouvir. Aproximou-se de seu pai e fez um afago em seu rosto. Disse-lhe que era muito agradecido por tudo que tinha feito por ele e pediu perdão por tê-lo deixado sem se despedir.

 

Agora que tudo havia sido esclarecido e que Haddhór já sabia do seu papel naquela história, Kqelé aproximou-se do jovem cavalo e disse que era preciso partir, pois teriam ainda que viajar muitos dias ao encontro dos outros dois anciões, que os esperavam na Colina do Piherim. Haddhór ainda quis saber o que iriam fazer quando chegassem lá, mas Kqelé, apenas adiantou que chegando lá ele saberia.

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