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Gênesis

Três mundos se formaram: Ninesour, Gatoch e Fukliar. No primeiro mundo as nuvens dominavam. Nada se via de fora para dentro, nem de dentro para fora. No segundo, uma imensidadão de gelo branco, impossibilitando verificar o seu interior. E o terceiro, um mar de fogo.

Fukliar ficou ao centro. Ao seu redor rotacionava Ninesour, que por sua vez atraía Gatoch. O mundo de gelo realizava voltas no mundo das nuvens, e esporadicamente devido a rotação dos 3 mundos, Gatoch era aquecido diretamente pelo mundo de fogo, derretendo um pouco de sua crosta.

Isso se repetira por muitas eras, até que Gatoch revelara a forma de uma criatura gigantesca dentro de si. Aquele ser era quase do mesmo tamanho do mundo que a congelava. Possuia cem braços e uma enorme cabeça. O seu corpo foi sendo descongelado até um espírito possuir a criatura adormecida: Rimy era seu nome.

Rimy sabia que seus dias estavam contados. Seu mundo estava se desfazendo e a qualquer momento ele ficaria solto no universo. Então Rimy teve a ideia de pular para o mundo das nuvens assim que conseguisse soltar os seus pés. E assim aconteceu. A criatura gigantesca se soltou de sua plataforma de baixa temperatura, abriu os seus cem braços e saltou para o mundo das nuvens.

O problema eram as surpresas do desconhecido. Rimy, ao abraçar Ninesour, sentiu suas entranhas sendo espetadas por uma infinidade de espinhos metálicos, como se fossem agulhas. Aquele mundo escuro e desconhecido era formado por uma liga de metal. O impacto do gigante tinha sido tanto que seu corpo ficou completamente espetado naquele território negro. O sangue fervente do gigante, que o mantera vivo no mundo de gelo, derreteu as agulhas e assim foi formado o mágma. Mas a dor do gigante era imensa e Ninesour, dominado apenas por trevas, fez lágrimas do habitante colossal escorrerem. Acabaram por esfriar o próprio sangue e o metal derretido, formando um crosta por toda a extensão do mundo.

O gigante se levantou, depois que a crosta se formou embaixo de seu abdômem, e olhou para aquela escuridão acima, resolvendo dar a luz àquele lugar. Encheu seus pulmões e soprou o mais forte que conseguiu para cima, e viu que as nuvens negras do novo mundo de Rimy eram moldáveis, dando espaço para a Luz entrar. Recolheu toda aquelas nuvens com suas cem mãos, reunindo-as em uma das poucas formas que tinha conhimento: uma esfera.

Para garantir a firmeza das nuvens, Rimy retirou de seu enorme nariz uma secreção amarelada e a colocou ao redor da esfera escura. Chamou a bola de Lua e a lançou o mais longe possível em direção ao mundo de Fukliar, mas Rimy não contava que aquela secreção fosse tão grudenta, capaz de agregar poeira cósmica conforme se aproximava do mundo de fogo. Com tanta força que Rimy lançou a Lua para o alto, Ninesour começou a rotacionar ao redor de sima.

Rimy havia criado o Dia e a Noite e chamou o esse dia de Dia da Lua.

Então o gigante adormeceu. Quando o dia virou, Rimy foi acordado por um tremor. E uma enorme dor em dois dos seus cem braços ele agora sentia. Eram pés de outra criatura colossal com um olho só.

- Quem és tu? - Indaga Rimy furioso.

- Sou Rymlegd, o Ciclope. - Disse o gigante de um olho só, quase sorrindo.

- De onde... - Antes mesmo de Rimy perguntar de onde viera aquele outro gigante, Rymlegd solta o enorme braço no rosto de Rimy e uma luta começa.

O gigante de cem braços não era tão forte quanto o ciclope, mas aquela quantidade de membros dava grande vantagem à Rimy. O ciclope acabou se enrolando em seus movimentos e foi imobilizado por seu adversário.

- De onde vens, Ciclope? - Agora Rimy estava no controle da situação.

- De longe, muito longe.

- E o que fazes aqui?

- Vim tomar esse mundo para mim.

- Esse mundo é meu. - Dizia Rimy revistando o ciclope com seus braços livres, até que achou um punhado de objetos, pretos e redondos, com tamanhos diferentes, no bolso da vestimenta do ciclope. - O que é isso?

- Isso são sementes não as retire de meu bolso. Elas são minhas! - Agora o gigante de um olho só tentava se soltar e estava quase conseguindo.

- Sementes? O que são sementes? Eu troco a sua vida por elas. - Disse Rimy decidido.

O ciclope não estava em uma situação favorável, aceitando o acordo e finalizando com a última frase:

-Então tome, as coloque fundo na terra e lindas esculturas nascerão. - O ciclope é solto e ele as entrega ao gigante de cem braços, recebendo-as satisfeito. Logo em seguida o monstro caolho dá um salto enorme e foge de vista. O dia termina sendo chamado por Dia da Luta e o construtor do mundo repousa até as luzes de Fukliar inundarem seus olhos.

Mais um dia de trabalho. O gigante de cem braços coloca todas as sementes na superfície do solo e pega uma semente com cada mão. Logo depois empurra as sementes para o fundo da terra, iniciando o trabalho da plantação. Em seguida o gigante senta e espera.

Um tempo se passa, mas ele não tem noção de quanto demoraria para as esculturas nascerem e o gigante sentimental começa a chorar pois havia sido enganado. As lágrimas escorreram por seu rosto, regando a terra. Em pouquíssimo tempo, diferentes plantas crescem ocupando boa parte do território de Ninesour e esculturas de madeira com cabelos verdes nasceram. O dia então ficou designado como Dia da Plantação.

No quarto dia, a água evaporou das plantas causando uma chuva poderosa. Raios e trovões chegam ao mundo de Ninesour pela primeira vez. Rimy não consegue trabalhar e ainda é eletrocutado, causando-lhe queimaduras. Rimy chora muito, formando lagos e rios. A água evapora e as chuvas pioram e mais raios atingem o gigante. Dá-se o nome então de Dia do Trovão. E isso continua até Rimy não ter mais lágrimas.

O dia seguinte Rimy acorda muito doente. Toda aquela chuva causa um resfriado pesado no construtor do mundo e o gigante não para de espirrar. Mas os seus espirros são muito altos e despertam o movimento das esculturas de madeira. As árvores se soltam do solo e criam movimento. Aquelas sementes do ciclope não eram simples sementes, eram sementes de Ents. E eles estão muito incomodados com o espirro do gigante, pois atrapalham o sono dos Bebês Ents. O gigante ouve as mães cantando para seus filhos e enxergam os pais brincando com os bebês para pararem de chorar e Rimy descobre o amor dos pais. Instantaneamente seu resfriado é curado. O quinto dia é nomeado como Dia do Amor.

Mas antes do dia terminar, mais um movimento inesperado na terra: formigas. Seres extremamente pequenos, que não conseguem ser vistos pelos olhos de Rimy, invadem o ouvido do gigante para pedir um conselho. As formigas falam, mas ninguém responde a elas, até que uma formiga resolve picar a orelha do gigante. Agora sim o grande Rimy dava atenção.

- Senhor, hoje nasceu a segunda formiga gigante. E a formiga destrói tudo por onde passa, destruindo nossas moradias e matando nossos familiares. O que vamos fazer?

- Declare-a Rei! Os maiores e mais fortes mandam e são reis.

- Não temos um rei. - Disse a formiga. - Só uma rainha e os machos reprodutores. Mas o maior problema é ela conviver conosco, porque destrói todo o nosso trabalho!

- Como é o nome dessa formiga?

- Saturnus - A formiga respondeu.

- Então traga-a aqui.

Saturnus era tão grande que o gigante conseguia a enxergar como um ponto.

- Saturnus, eu tenho certeza que você é tão grande e diferente como eu. Então quero que você trabalhe para mim, ajudando-me com a construção do mundo subterrâneo. - E assim foi feito. No sexto dia, Saturnus começou o seu trabalho e Rimy apenas descansou. Todos os túneis, passarelas e buracos feitos no subsolo e rochedos, foram feitos pela formiga.

Então chegou o sétimo dia. Rimy olhava para Ninesour e enxergava vida. Ele estava feliz, sentindo que seu destino estava quase no fim. Ele estaria quase pronto para desfrutar das maravilhas daquele lugar.

Passeava pelas terras plantadas de Ents e notou uma escultura diferente. Era uma planta escura, muito mais escura que as outras, mas ela não estava morta como aparentava. Aquela planta se movia de um lado para outro, mostrando-se saudável. Até que o gigante perguntou:

- O que tens minha filha?

- Nada, mas tu não és meu pai. - Respondera a planta grossamente.

- Como? É óbvio que sim. Eu a plantei, eu a criei.

- Não sou, meu cheiro é único e diferente de todas as outras. Experimente só! - Dizia a planta convicta.

Então Rimy a cheirou. Logo em seguida Rimy sentiu o peso do Ciclope em suas costas.

- Realmente achou que eu não iria voltar? - Gargalhava Rymlegd. O gigante dos cem braços não respondera. - Essa planta tem um pólen mortífero que não pode ser absorvido por nenhum ser, mas não foi o que acontecera aqui.

Rimy estava sentindo os efeitos da planta, uma fraqueza ataca o seu peito e ele não tem forças para se levantar.

- Eis a minha vingança! - E Rymlegd começa a quebrar braço a braço do construtor de Ninesour. Observando todo o sofrimento do gigante, formigas e Ents se reunem para revidar contra o ciclope. As formigas sobem pelas pernas do caolho e começam a picar sem interrupções. Os Ents jogam pedras e galhos afiados no ciclope, fazendo com o que Rymlegd saísse de cima de Rimy.

Rimy une suas forças, utiliza seus braços não quebrados e mais uma vez toma controle do ciclope, mas agora sua força é concentrada a um único golpe, o último golpe do construtor, um dos últimos movimentos do grande: os braços restantes jogam o ciclope contra o mundo de Fukliar, mas a força fora tanto que parte o mundo em alguns pedaços.

Rimy olha para o acontecido e se coloca deitado em cima de todo o território que consegue, protegendo as florestas contra os meteoritos flamejantes. Uma esfera vermelha menor fica ainda acima dos céus e o gigante a chama de Sol.

- Hoje é o Dia do Sol, encerrando então a minha jornada. Sentirei saudades de todos vocês. - dizia o gigante a todos os animais que agora habitavam Ninesour graças ao construtor. E suas lágrimas acabam por preencher os buracos de terra sem plantas, formando grandes lagos, rios e até oceanos, nutrindo como faltava o mundo de Ninesour.

 

 

Créditos: Vítor Amaral

Editado por vital900
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