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[ Escritos Perdidos ] Aada


Henrique Moura

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Antes de começar a ler, leia as notas abaixo:

 

Este era um projeto antigo que tinha em mente, que foi finalizado sem uma conclusão. Estou reescrevendo(inclusive ja reescrevi as partes perdidas que posto aqui, portanto elas não me serão mais utéis e resolvi postar) este conto, e pretendo lança-lo no final de 2012.

Não serão feitas revisões, pois este projeto não será continuado.

O texto está bruto(material sem alteração), não foi feita nenhuma revisão e contém erros que não poderão ser consertados.

Não fique triste por não ter um final. Ele está sendo reescrito e será lançada uma versão melhorada(bem alterada, por sinal) que se baseia nas primeiras páginas que posto aqui.

Alguns trechos não serão entendidos, pois recortei a parte inicio e a mesma foi perdida. (podem perguntar no tópico caso tenham alguma dúvida em relação a leitura)

Capitulo 1 foi perdido.

Desculpem a formatação do tópico, não tive tempo para organizá-lo.

 

Em fim, espero que gostem da leitura.

 

Capitulo dois

Segredos

 

 

A estrada para Oghalmoth era coberta por florestas de extrema densidade e com muitas montanhas, como Hoehan, Jenereth, Sendovan e Kolinahr.

As pedras dificultavam a passagem e o pequenos lagos intervinha na caminhada.

 

_ Cecil, vamos acampar aqui. – Hidan disse, apontando o local aonde os jovens descansariam.

 

Eles montaram o acampamento próximo aos arbustos da estrada, para que não corressem o perigo de dormir na mata fechada e nem ficassem tão próximos da estrada ao ponto de serem vistos.

Rapidamente uma fogueira estava acessa, e os jovens adormeceram ao estalar das brasas.

 

Hidan acordou na hora que antecedia os primeiros raios de sol. Acendeu uma tocha na fogueira e tentou iluminar o local.

O ar gelado da floresta ao lado dos garotos estava cada vez mais intenso. O vento soprava forte.

Aos poucos arrastava os suprimentos para dentro da floresta.

A tocha que Hidan segurava apagou.

Cecil acordou assustado.

 

Ouviu-se um grunhido vindo de dentro da floresta. Logo se silenciou.

Os atentos olhos de Hidan focavam-se na floresta, precisamente no lado do grunhido.

Foi ouvido novamente, e como num padrão seqüencial, silenciou-se.

Hidan arregalou os olhos. Cecil o olhava sem entender. Segurou a espada.

Novamente, o grunhido. Parou.

Hidan segurou seu arco e puxou uma flecha da aljava. Esperou de olhos atentos.

 

O grunhido novamente voltou, como se numa sequência repentina.

 

Ele soltou os dedos que segurava a flecha e ela foi à direção da floresta.

Um barulho, a flecha atingira algo.

Um corpo escuro coberto por uma armadura velha e enferrujada caiu à alguns metros dos garotos.

 

_Um Orc – Hidan comentou, quase num sussurro.

 

Cecil preparava-se para dizer algo, mas Hidan levantou os dedos pedindo silêncio.

 

Os olhos de Hidan ainda estavam direcionados ao lugar da onde vinha o corpo. Sequer piscou.

 

_O que há Hidan? Vamos continuar a descansar.

_Algo está errado, Cecil. Orcs não caçam sozinhos. E essas áreas são protegidas pelo

Império, eles não deveriam estar aqui.

 

Grunhidos foram ouvidos de toda parte da floresta, repentinamente, sem nenhum intervalo.

 

Hidan arrepiou-se.

Ordenou Cecil a correr com sua espada.

Os dois voltaram, fazendo de forma contrária caminho percorrido.

Chegaram ao lago mais próximo, cansados e com respiração forçada.

Hidan puxou três flechas e colocou todas juntas nas cordas do arco.

Esperou ter visão sobre os Orcs e

soltou as flechas, mas nenhuma atingiu os alvos.

Cecil avançou, golpeou na cabeça um Orc, e logo vinha uma flecha atrás de seu ombro, que atingira o Orc da frente.

Outro Orc se aproximou e foi morto pela espada de Cecil.

Agora, um grupo de aproximadamente cinco Orcs avançaram. Era impossível atirar nos cinco ao mesmo tempo, ou até mesmo golpeá-los com a espada.

 

_Volte! - Gritou Hidan

 

Cecil se virava para correr, quando foi atingido por um machado arremessado por um dos monstros.

Atingira-o nas costas.

 

Por um momento, Hidan soltou o arco.

Tudo parecia estar sumindo.

As árvores, os Orcs, o lago.

O único ponto de visão que Hidan tinha era de Cecil.

Os sons se prolongaram na cabeça de Hidan, que olhou nos olhos de Cecil, mesmo de longe, podia ver os olhos de seu amigo, enchendo-se de lágrimas.

Aos poucos, foi voltando à si e recolheu o arco do chão.

Jogou a aljava no chão espalhando as flechas, e recolhendo uma a uma disparava atingindo cada Orc à sua frente.

Hidan segurou a última flecha. Esticou o arco de uma maneira extrema e mirou.

O alvo era o Orc que atingira Cecil.

Soltou a flecha, e a precisão foi impressionante.

A flecha atingiu a cabeça do Orc e atravessou o elmo.

O Orc grunhiu paralisado. Caiu no chão como uma pedra. A haste que atravessara a cabeça bateu no chão e a flecha se despedaçou dentro da cabeça da criatura.

Hidan largou o arco.

Sentia seus braços como duas rochas pesadas.

As suas pernas enfraqueceram e ele se percebeu caindo.

Caído, seus olhos direcionados ao lago podiam enxergar o brilho do sol refletindo na água cristalina. O lugar esmaeceu-se, seus olhos ficaram pesados e o cenário começou a ficar negro e desaparecer, logo o escuro se apresentou por completo.

Ele acordou mais tarde.

Um velho barbudo o olhava.

Cabelos cinzentos e barba branca como neve, vestia uma túnica marrom que ia do pescoço até os pés. A capa que ele usava enrolava-se e arrastava no chão.

Usava um cinturão de couro com algumas utilidades presas, como uma pequena corda e uma faca de caça, duas pequenas bolinhas de aço com pontas afiadas e cortantes e uma bolsa presa na cintura, cujo conteúdo desconhecido.

Usava por dentro uma malha de couro, que subia e enrolava seu pescoço como um cachecol das damas do Reino.

As suas botas macias de couro o levaram até o outro lado do pequeno quarto em que Hidan se encontrava.

 

_ Mas... – Hidan balbuciou – E os Orcs? Havia muitos...

_Eu os impedi. – sussurrou o velho, enquanto analisava um pequeno frasco de vidro encontrado na estante de madeira empoeirada do outro lado do quarto – Você sabe, Orcs são malignos, e eu não simpatizo com eles.

 

Hidan tentava digerir aquelas palavras, como, um velho de aparência cansada poderia derrotar aquilo, enquanto Cecil perdeu a vida lutando contra apenas alguns.

 

Lembrou-se disso, e sua cabeça doía.

Preparava-se para perguntar sobre Cecil, mas antes que pudesse mover os lábios, o velho retrucou.

 

_Seu amigo está bem – disse ele, direcionando seu olhar ao lado esquerdo do quarto, onde por meio de uma janela dava visão para o lado de fora – Olhe.

 

Hidan viu Cecil. Não só estava vivo como também estava em ótima aparência, de pé e treinando num alvo de madeira, com a espada que Hidan o havia presenteado.

 

_Como? - ele perguntou

_Ele estava vivo quando eu os encontrei caídos, ele carregou você até aqui – disse o velho homem.

 

Hidan se decepcionou consigo mesmo.

Como ele poderia ter perdido tão rapidamente a fé em seu colega, na sua sobrevivência. Um golpe e ele pensou que Cecil estava morto.

O velho afagou a barba e analisou o olhar de Hidan.

 

_Você parece decepcionado garoto – disse o velho enquanto analisava outro dos frascos que estavam na estante – Tome aqui, beba isso.

 

O homem jogou o pequeno frasco para Hidan, cujo liquido era desconhecido.

Hidan esticou o braço para pegar e sentiu-o dolorido.

Abriu o frasco e posicionou o gargalho na altura da boca.

Fez uma leve reflexão e tomou.

Retornou o olhar para o homem, agora de pé ao seu lado.

 

_Qual o seu nome? – ele perguntou agradecido.

_Riwulf – respondeu.

_Riwulf de quê? – Hidan perguntou confuso.

 

_Apenas Riwulf – o velho voltou a responder, abaixando suas sobrancelhas grandes por cima de seus olhos e direcionando-os a Hidan, reafirmando a primeira resposta - Riwulf.

 

Hidan pensou, e concluiu que não era agradável fazer a mesma pergunta duas vezes.

Levantou-se da cama e abraçou o homem, como que num ato de agradecimento.

 

_Obrigado, Riwulf.

 

 

Capitulo Três

 

Caça

 

Dezesseis horas haviam se passado desde o incidente.

Cecil e Hidan conversavam muito sobre o ocorrido, junto à presença de Riwulf.

 

_ Que tal você ir caçar algo, Hidan? – Riwulf disse já íntimo do garoto – Estamos todos com fome!

_ Uma boa idéia – Hidan respondeu – Você vem?

_ Se Cecil não se importar. – Riwulf olhou para Cecil.

 

Cecil fez olhar de aprovação e relaxou na cadeira enquanto limpava Bone das pequenas farpas de madeira.

Riwulf e Hidan saíram para caçar, o que numa região desconhecida para Hidan era os arredores do lar de Riwulf.

 

Enquanto os dois caminhavam numa pequena trilha que dava numa floresta com poucas árvores e um vasto campo de pastagem, Cecil ficara na cabana de Riwulf.

 

Seguiram uma pequena trilha que dava num campo isolado detrás das florestas e próximo a casa de Riwulf, então, assim que chegaram lá, ouviram alguns grunhidos detrás dos arbustos e Hidan decidiu palpitar.

 

_Um lobo? – Ele disse atencioso ao olhar de Riwulf.

_Melhor que isso – Riwulf respondeu – E maior.

 

Um grunhido forte fora ouvido detrás dos arbustos, que chacoalhavam como se o vento estivesse soprando-os furiosamente. A criatura arranhava o chão e balançava os arbustos.

 

_ Entendi. Um porco selvagem. – Hidan assentiu.

_Não é qualquer um – Riwulf retrucou – Esse é dos grandes!

 

Hidan então puxou uma flecha da aljava e a posicionou no arco.

 

_ Atire na cabeça – Disse Riwulf, indicando o local para que Hidan pudesse atirar. – Logo ali.

 

Hidan puxou a corda do arco com força e mirou no local indicado por Riwulf.

Estava nervoso, nunca tinha caçado um porco selvagem de tamanho assustador, e pelos grunhidos e arranhões, aquele não era nada agradável.

 

Finalmente, Hidan soltou.

O barulho agudo que logo foi se transformando em grave foi ouvido novamente, na direção porco selvagem.

 

Hidan não pudera ver se acertou o tiro ou não, o porco selvagem continuava atrás dos arbustos. O silêncio prevaleceu e Hidan conclui que ele estava morto. Preparou-se para andar em direção do arbusto e pegar a recompensa pela caça, mas o braço de Riwulf o impediu.

 

O porco selvagem saiu dos arbustos com uma flecha fincada na cabeça e sangrando muito.

 

Os olhos vermelhos do porco selvagem indicavam sua fúria, agora ferido.

 

Antes que pudesse chegar mais perto, Hidan arrancou outra flecha da aljava, posicionou-a, mirou e soltou. Atingiu o chão.

 

Era diferente atirar num alvo parado e atirar num porco selvagem em movimento e furioso, pronto para atacar. E Hidan sabia essa diferença, mas não hesitou em tentar novamente.

 

Um assobio forte e agudo ia à direção do porco selvagem novamente e logo se transformou num som sólido e molhado. A flecha perfurou seu peito atingindo seu coração. A fera balançou de um lado para o outro furiosamente, fungou forte e agonizando de dor caiu, virou-se para o lado e finalmente ficou imóvel. Estava morta.

Os dois caminharam até a fera e Hidan retirou a flecha do peito da criatura. Reparou que ponta da flecha brilhava e então passou os dedos sobre ela. O brilho sumiu.

Hidan olhou para Riwulf que já carregava a fera para trás da sua cabana.

 

Enquanto comiam, houve música por parte de Riwulf. O seu velho piano empoeirado afinal ainda funcionava.

 

_Este é velho – ele disse sorrindo – não me lembro a última vez que eu toquei.

 

O piano desafinado foi tocando uma sintonia agradável à noite.

 

O porco assado em cima da mesa era saboreado pelos jovens rapazes.

 

A lareira cheia de lenha que pegava fogo aquecia a pequena cabana aconchegante.

 

Era uma noite linda, as estrelas no céu se encarregavam da iluminação e as nuvens quase não existiam.

 

O ar fresco e calmo pairava sobre a cabana de Riwulf.

 

Hidan sentiu-se satisfeito, estufou o peito e respirou relaxado. Espreguiçou-se e foi até a varanda.

Cecil estava logo atrás dele, quando sentou na cadeira ao lado de Hidan.

 

_Você está bem, Cecil?

 

_ Hidan. – Cecil respondeu, com uma pausa para olhar as estrelas, e continuou – me sinto ótimo.

 

_ Se você está bem, eu estou bem. – Hidan sussurrou levemente, enquanto relaxava na cadeira da varanda, apreciando o ar e a noite calma.

 

Apesar de tudo, eles se sentiam em paz.

 

Pela manhã, Riwulf escutou os passos dos soldados de Brudghanm.

Olhou pela janela e viu um pequeno grupo de soldados rastreadores, responsáveis por recuperar foragidos do reino.

 

As armaduras feitas especialmente para longa viagem eram leves e resistentes. Feitas com metal leve e forte, adaptavam se ao corpo dos soldados que a vestiam. Os braceletes tinham decorações especiais, como o símbolo do reino e da Casa de Rastreamento.

As caneleiras leves e de outro tom de cor preta, facilitavam o andamento pelo revestimento de couro único por dentro, amaciando e tornando o passo agradável.

O que diferenciava os soldados de rastreamentos era o capacete, eles não usavam capacetes.

Eles empunhavam flechas e também usavam espadas. As aljavas pretas e vermelhas eram bonitas e elegantes, feitas de couro e tingidas de preto, eram largas e suportavam mais flechas do que uma normal.

As espadas dos soldados rastreadores eram todas iguais.

 

O cabo era de metal resistente revestido de couro de fácil manejo, facilitando o golpe, subia num pequeno metal fino de aço maciço e com uma pedra rara no meio, a lâmina leve e cortante de dois lados era forte o suficiente para cortar no meio um Harot.

 

Os soldados rastreadores só eram acionados para buscas de fugitivos, e isso não era muito raro no Império.

 

“Como eles demoraram”, pensou Riwulf.

 

A batida nada sutil na porta assustou os garotos, que ainda dormiam. Eles se levantaram e foram até a sala principal da cabana, na qual ficava a porta.

Viram Riwulf conversando com os rastreadores e esconderam-se

 

_Hidan, eles estão procurando por nós, não podemos ser pegos! – sussurrou Cecil, enquanto agarrava-se a capa de Cecil.

 

_ Aust Alain Hidan? Nunca ouvi falar – Respondeu Riwulf quando os rastreadores fizeram-lhe uma pergunta nada amigável.

 

_E que tal Cecil Elynghar? – Perguntou o homem que estava na frente dos outros rastreadores.

 

_Também não. – Respondeu Riwulf com um tom de sutileza

 

_Se souber de algo, nos comunique.

 

_Tenho certeza que sim – respondeu Riwulf, dando um leve empurrão na porta.

 

Riwulf se encostou à porta e deu um suspiro,

 

_Tudo bem garotos, conte-me tudo. – Gritou Riwulf enquanto cruzava os braços.

 

Eles se encontraram sentados nas cadeiras de couro almofadado de Riwulf.

Hidan lhe contou tudo.

 

Riwulf levou a mão ao queixo e afagou a barba. Estava pensativo.

 

_É garotos, estamos numa situação difícil – Exclamou Riwulf enquanto analisava as expressões nos rostos dos jovens. – Vocês parecem famintos, vamos comer e veremos o que faremos depois.

 

Riwulf, Hidan e Cecil se reuniram em frente a pequena mesa de carvalho na cozinha de Riwulf.

Enquanto comiam alguns pães secos e tomavam leite, os jovens ficaram tristonhos.

 

“Estamos acabados, ele vai nos entregar”, Hidan pensou.

 

Encontraram-se andando em direção à Brudghanm, novamente. Tudo estava sem sentido, nada parecia fazer sentido. Os Orcs, as flechas, o mago, os soldados, Brudghanm.

Quase sacrificou seu colega por nada.

 

 

_ Então... Vai apenas nos entregar feitos dois bois? – Exclamou Hidan, enquanto eles seguiam o último trecho antes da entrada de Brudghanm.

 

_ Eu não posso deixá-los por aí, garoto.

 

_Achei que você era uma pessoa boa. – Sussurrou Hidan, olhando paralisado para Riwulf. Retornou seu caminho calmamente e continuou a frase – Estava enganado.

 

À frente, os dois portões principais da cidade de Brudghanm. Cercado por torres com guardas de vigília, era quase impossível atravessar os portões principais sem ser visto.

 

Riwulf os deixou com os guardas próximos e lhes disse os nomes dos garotos.

 

Riwulf gesticulou com um sorriso no rosto, um leve aceno de mãos que queria dizer “Os verei em breve”.

Porém, os garotos não viram esse aceno.

 

Logo, Riwulf seria apenas um pequeno ponto quase imperceptível no horizonte laranja.

 

Ao final da tarde, os jovens foram levados ao Duque, que decidiria a pena que os jovens iriam ter de pagar.

 

_Morte aos dois. – Exclamou o Duque, numa afirmação de certeza absoluta. – Amanhã, ao pôr do sol.

 

As mortes dos garotos estavam agendadas.

 

Eles foram levados às torres de observação onde ficariam trancados até o dia seguinte, na hora da sentença.

 

A comida era ruim, já que não fazia sentido alimentar bem um prisioneiro que seria executado.

Pães secos e água com gosto de barro foram servidos naquela noite, e Hidan se recusou a comer. Já Cecil, parecia apreciar as últimas de suas refeições.

 

Num ato de nervosismo, Hidan arremessou sua tigela de pães contra as grades das celas.

O barulho ecoou por toda torre, o que fez deixar os guardas alertas.

 

_Droga! Droga! – Hidan tentava dizer, mas seu choro o impedia de completar a palavra de forma correta. – Não pode ser...

 

O Duque havia agido de forma incorreta. Pela ordem do Rei, é proibido julgar pessoas de noite. Era necessário aguardar até o nascer do sol para iniciar um julgamento. Outro erro foi o da corte não estar presente. E um, fatal, foi dar pena de morte aos jovens, pena qual era dada somente a traidores ou gatunos.

Este erro custou a vida dos jovens.

 

O sol estava se pondo, o que indicava que os guardas deveriam trazer os prisioneiros para cumprir a sentença definida pelo Duque.

De minuto a minuto, Hidan ia até as grades da cela e observava o movimento dos guardas. Ele sabia que não faltava muito, e que a hora estava chegando.

 

Os batidos de uma chave à outra ecoavam por todas as celas, fazendo cada nervo de Hidan reagir

 

O barulho ensurdecedor das grades abrindo e fechando indicara novamente a sua derrota e o fim da sua pequena história.

Hidan estava assustado.

 

Uma voz de vinda de dentro de um capacete escuro o chamou. Era o guarda responsável por levá-lo até o pátio, onde eram feitas as execuções.

Acorrentado e segurado pelo guarda, à exposição de um machado grande e afiado, caminhava entre o corredor das celas da torre. Olhou para a cela de Cecil e percebera que ele não estava lá, havia sido levado. Hidan temia que executassem Cecil antes dele, assim eles não morreriam juntos.

 

“Lutamos juntos, descobrimos juntos. Agora temos de morrer juntos, é o meu ultimo desejo” pensou Hidan, quando a porta da torre se abriu.

O brilho do sol encontrou seus olhos, e contrário dos guardas ele não os fechou.

 

Não muito longe, viu Cecil acorrentado e ao lado de um homem barbado e sem armadura, apenas afiando um machado numa rodela de pedra ao lado.

 

Isso era uma falha, e Hidan tentaria usá-la. Mesmo que custasse sua vida, ele teria de tentar. Afinal, sua vida já não fazia mais sentido.

 

Sua cabeça foi apoiada numa pequena tábua, cheirava a podre e estava toda ensangüentada.

O barulho da lâmina do machado encontrando a pedra estremecia cada nervo do seu corpo. O suor escorria pela testa, nariz e boca, até chegar ao seu queixo, onde pingava sobre a tábua.

 

A ordem foi dada, as pedras pararam de chiar o barulho da lâmina e os homens posicionaram seus machados sobre a cabeça dos dois.

 

_Façam. – Disse um homem com um uniforme do Reino, gesticulando com a mão.

 

As lâminas dos machados refletiam o sol, e desceram num assovio ventoso.

 

 

Antes que pudessem atingir a cabeça dos jovens, elas voaram contra a parede da torre. Logo ao lado delas, os rapazes viram um rosto familiar.

 

Era Riwulf, ele estava vestido com sua tradicional roupa.

 

Os homens foram em sua direção com as adagas que rapidamente puxaram de uma bainha de couro.

 

Tentaram golpear pela esquerda, Riwulf desviou, golpearam abaixo, outro desvio, golpearam em cima e sem sucesso.

 

Os dois estavam cansados de tantas tentativas falhas de golpear Riwulf, ele parecia ser invisível.

 

Enquanto Riwulf olhava atenciosamente a respiração dos homens, os garotos se soltaram e correram para trás de Riwulf.

 

O primeiro homem veio novamente a tentar golpear Riwulf, mas seu punho foi pego por ele e então Riwulf apertou-o. Os gritos de dor pediam que fosse solto, e Riwulf atendeu ao pedido. Soltou o pulso do homem.

 

O homem caiu no chão gritando de dor.

 

O outro homem, atento à cena que observara, resolveu então largar a arma.

 

Ele correu como se não tivesse fim.

 

Riwulf piscou ao outro homem mandante do outro lado do pátio e sumiu.

Os três caminharam até a saída dos fundos e discretamente foram até o estábulo ao lado, onde conseguiram cavalos.

 

Minutos depois estavam deixando a cidade em rumo à cabana de Riwulf.

 

Antes de chegar, os três entreolharam-se e cada um fez uma expressão diferente. Riwulf alegre, Hidan curioso e Cecil assustado.

 

Foi desse jeito que os cavalos roubados foram amarrados nos fundos da cabana de Riwulf.

 

Andaram até a entrada da pequena cabana, Riwulf Cecil se adiantaram entrando na casa, mas Hidan parou. Estava preocupado.

 

Olhou para os cavalos amarrados com curiosidade e chutou o degrau.

 

_ Me diga o que está acontecendo aqui, Riwulf! – Ele gritou furioso, enquanto a terra subia ao seu lado.

 

_Entre, você parece nervoso – Riwulf sussurrou com ironia.

 

 

 

 

Capitulo Quatro

 

Ruínas de uma história

Todos entraram. O barulho da porta tocando o caixilho de madeira foi o único escutado até os três se sentarem-se à mesa de carvalho da cozinha.

 

Hidan começou.

 

_ Como você sabia que nós seriamos julgados e sentenciados à morte? Como você chegou justamente na hora que eu iria ser assassinado? Por que não matou os homens do pátio? Como você nos deixou.... – Soltou uma rajada de perguntas, uma atrás da outra e depois sussurrou – O que significa aqueles cavalos amarrados, eles são roubados, podemos ser pegos se deixarmos ali.

E, além disso, eu vi o seu gesto para o capitão.

 

_ Os cavalos são meus, eles estavam no estábulo exatamente para isso.

 

Aquelas palavras ditas rapidamente por Riwulf chocaram os dois. Eles não entendiam.

 

_ Mas... Como? – Os dois perguntaram no mesmo instante.

 

_ Eu sabia de tudo. Tudo isso foi um teste desde o principio. – Respondeu Riwulf, enquanto se preparava para levantar-se da cadeira.

 

Riwulf se levantou e andou até o outro lado da sala enquanto os garotos o observavam, ambos boquiabertos. De uma pequena estante retirou uma pequena caixa. Abriu-a e de retirou um saquinho de couro e um cachimbo.

Abriu o pequeno saco de couro e retirou algo escuro. Segurou aquilo com os dedos polegar e indicador e retorceu inserindo-o no cachimbo. Um pedaço de pedra-fósforo chocando-se com outro faziam o fogo que acendiam seu cachimbo.

Pegou fogo e a fumaça dominou o local por um instante. O cheiro era agradável.

 

_ Eu sabia de tudo, desde o inicio. – Riwulf sussurrou com o cachimbo na boca, tornando as frases molhadas.

 

Continuou após retirar o cachimbo da boca.

 

_Você, Hidan. Você foi testado. Os Orcs não faziam parte disso, mas foi tudo planejado. – Riwulf elevou o cachimbo a altura da boca e se preparava para fumar novamente, mas por algum motivo preferiu continuar a falar. – Você é o escolhido Hidan, eu te testei, e embora você não tenha passado no teste, você continua sendo meu escolhido.

Eu vigiei você o tempo todo. Desde a saída da cidade até a sentença.

 

Hidan interrompeu levantando-se furiosamente da cadeira. Colocou suas mãos sobre a mesa e elevou sua voz.

 

_Que teste!? Que teste!? Que maldito teste você está falando! – Hidan gritou impacientemente.

 

_Quando você foi sentenciado, foi planejado. Queríamos ver você sair daquela situação sozinho. Mas isso infelizmente – fez uma pausa para olhar para o telhado - não aconteceu. – Riwulf sussurrou, enquanto se aproximou de Hidan e retornou a sua cadeira.

 

_Queríamos? Você e quem? – Hidan abaixou a voz e perguntou olhando para baixo.

 

_ Eu... – Riwulf disse, colocou o cachimbo na boca e inalou um bocado de fumaça, retirou o cachimbo e soprou a fumaça na direção de Hidan. – E o Rei.

 

Por um instante, Hidan se sentiu paralisado. Retomou o controle e foi possível notar as lágrimas se formando em seus olhos.

 

_ O rei? Mas eu sou apenas...

 

_Um arqueiro. – Riwulf sussurrou enquanto colocava gentilmente sua mão sobre o ombro de Hidan. – Um grande arqueiro.

 

O silêncio permaneceu no local por instantes, e tudo o que se podia notar eram os lábios de Riwulf batendo contra a madeira polida do cachimbo, que era coberta pela fumaça.

 

_ Você foi notado, um pouco antes. Nós sabíamos do seu talento. – Explicou Riwulf, atencioso as reações do garoto - E como os tutores de arqueiros estão muito ocupados trabalhando em estratégias para a guerra que bate em nossas portas, eu me candidatei a ser seu mestre.

 

_ Mas você é um mago! – Hidan interrompeu Riwulf, revelando-lhe o segredo que havia descoberto outrora.

 

_ Eu sei, e é por isso que eu vou lhe fazer algo melhor. – sussurrou Riwulf, enquanto seu rosto sério deu lugar a um leve sorriso.

 

_ E o que é? – Hidan perguntou ansioso.

 

_ Vou lhe ensinar magia. – Riwulf respondeu, agora com a face demonstrando a alegria de poder revelar – Magia não só se aprende. Ela corre em seu sangue.

 

_ Além disso, você fará um treinamento de arqueiro. Siga-me. – sussurrou Riwulf, enquanto se virava para uma sala que Hidan e Cecil nunca teriam entrado.

 

Os dois passaram logo atrás de Riwulf, e de repente seus olhos notaram algo ilustre.

 

Os livros estavam flutuando por toda parte, os cabides de madeira deslizavam por toda a extensão da sala agarrados com grandes túnicas marrons e verdes.

 

Os olhos de Hidan brilharam.

 

Riwulf parou e os dois acompanharam. Logo tudo parava.

 

Riwulf caminhou até uma pequena escrivaninha, em cima estava um grande balde de madeira. Dentro dele, flechas longas com pontas brilhantes.

 

Retirou uma por uma, conferindo as pontas. A espécie de feitiço contido nas flechas era desconhecida por Cecil, mas Hidan se lembrou da caça ao porco selvagem. Era o mesmo brilho que estava na ponta de flecha quanto ele retirou-a da criatura. Decidiu ficar calado e não perguntar o que seria aquilo.

 

Riwulf colocou-as numa aljava revestida de couro preto logo atrás da escrivaninha e estendeu oferecendo para Hidan.

 

Vai precisar de outra, já que a sua agora pertence aos guardas da Torre de Execução. – Ele disse enquanto dirigia um enorme sorriso amarelado ao jovem arqueiro.

 

Ele apontou para alguns panos em cima de um caixote no chão.

 

_Deixe me ver... Azul, marrom, verde, preta.... – Riwulf se perguntava pensativo. – Preta! Vai combinar com sua personalidade.

Agora precisamos de algo para cobrir. Uma capa. Talvez algo escuro caísse bem.

 

Riwulf entregou tudo recolhido para Hidan que não hesitou em receber retribuindo o sorriso.

 

_ Vá se vestir, logo ali. – Riwulf disse enquanto apontava um pequeno quarto a esquerda da sala.

 

Hidan não disse uma palavra, aquilo era muito encantador para poder opinar.

 

Foi até a sala indicada por Riwulf e se vestiu. Minutos depois estava fora. A malha de couro preto revestia-o até um pouco abaixo da cintura, onde a calça de pano preta tomava lugar.

 

O cinto escuro avermelhado com duas adagas velhas segurava-as e a calça.

 

A capa preta vinha dos ombros até abaixo dos joelhos na parte de trás.

 

Os cabelos vermelhos de Hidan jogados por cima da capa permaneciam num tom notável diante do negro.

 

_Onde conseguiu tanta coisa? – Hidan perguntou curioso.

 

_ Você não é o primeiro que treino – Riwulf respondeu e preparou-se para acrescentar num tom alegre – e espero que não seja o último!

 

Riwulf chamou Hidan e o segurou no ombro.

 

_Diga-me garoto, o que sabe sobre feitiços?

 

O sol mostrou seu calor logo cedo.

Hidan abriu a janela de vidro e respirou o ar fresco que vinha da grama molhada pela chuva do dia anterior.

 

Voltou até a sua cama e a ajeitou de acordo, detrás do travesseiro tirou sua típica adaga de arqueiro.

Jogou-a sobre a escrivaninha.

 

Caminhou até a porta do seu quarto e de pequenos pregos presos à porta retirou sua vestimenta presenteada por Riwulf.

 

Colocou a calça, um veste tradicional que usava no dia-a-dia, a malha de couro, a bota que foi deixada por seu pai e prendeu seu cinto deixando-o justo a calça.

Colocou a capa sobre os braços e saiu pela porta, encostando-a.

 

Desceu as escadarias de madeira de sua pequena cabana e encontrou-se com o sorriso de sua mãe segurando uma bandeja de pães frescos.

 

Abraçou-a e sentou-se a mesa junto a ela para a primeira refeição do dia.

 

Após a refeição, sua mãe recolheu a mesa e o saldou.

Era o primeiro dia de seu treinamento.

 

_Faça um bom trabalho, arqueiro! – Arael disse ao seu filho, orgulhosa enquanto acenava.

 

Hidan acenou pela janela de fora e foi ao encontro de Riwulf.

 

_Acalme-se, Acalme-se! – Esse foi a resposta de Riwulf depois de seis batidas em sua porta.

 

Atendeu e não poderia de deixar de reconhecer aquele ilustre rosto.

 

Os dois entraram e sentaram-se a mesa de carvalho na cozinha de Riwulf.

 

Após jogarem conversa fora por um tempo, Riwulf decidiu que era hora de iniciar o treinamento.

 

_Recolha seu armamento, vamos treinar – Ele disse – Afinal, você não veio aqui para conversar, não é?

 

Hidan acenou com a cabeça positivamente e recolheu seu equipamento, andou logo atrás de Riwulf para a saída.

 

Riwulf bateu a porta e respirou fundo.

 

_Que belo dia! Não acha?

Hidan não respondeu novamente, apenas balançou a cabeça positivando novamente.

 

Os dois caminharam pela floresta aberta ao oeste por algum tempo e logo após para o sul, até que encontraram o que Riwulf procurava achar.

 

Um local vasto, uma planície grande, palha, sombra.

 

Riwulf sentou-se debaixo da sombra que provinha de uma enorme árvore e ordenou que o treinamento começasse.

 

Hidan não entendeu e tentou olhar para onde Riwulf direcionava sua visão. Avistou ruínas de um estábulo, com alvos localizados a cada 2 metros.

Olhou para Riwulf e balançou a cabeça outra vez.

 

Caminhou alguns passos de distâncias dos alvos e colocou gentilmente sua aljava no chão.

Retirou uma flecha de lá e posicionou no arco. Mirou e preparava-se para atirar, quando foi interrompido por Riwulf.

 

_Você quer aprender a mirar dessa distância? Você só pode estar caçoando de mim!. Para trás, jovem! – Riwulf disse enquanto empurrava os ombros de Hidan para trás.

 

Hidan caminhou para trás e repetiu o primeiro movimento, mas novamente foi interrompido por Riwulf.

Então caminhou mais alguns passos e pode perceber o leve aceno de Riwulf que indicava que ali seria a distância ideal.

 

Preparou-se, mirou e efetuou seu primeiro disparo como um Arqueiro Aprendiz.

 

A flecha rápida não atingiu o alvo, sequer teve força para alcançá-lo.

 

Hidan olhou para seu mestre esperando algo que pudesse ajudá-lo, foi quando Riwulf passou sua mão sobre as pontas cortantes das flechas e pronunciou algo que Hidan não pudera ouvir.

 

Hidan viu pela primeira vez como que Riwulf fazia aquelas flechas brilharem.

 

Riwulf estendeu a flecha para Hidan e ele pegou.

Posicionou-a no arco e efetuou seu segundo disparo.

 

A flecha rápida de som cortante atingiu e atravessou o alvo tão rápido que os olhos de Hidan não puderam perceber.

 

Hidan olhou para Riwulf surpreso, tentou balbuciar algo e não conseguiu. Olhou alegremente para o alvo que acabara de atingir e sorriu para Riwulf.

 

_É isso o que acontece quando misturamos o poder destrutivo da magia com a precisão e força do arqueiro. – Riwulf disse, enquanto analisava o próximo alvo.

 

 

E foi assim o dia inteiro, Hidan errava, Riwulf ajudava-o.

Após algum tempo de tiros mágicos, Riwulf pediu para que Hidan tentasse daquela distância sem usar a magia que Riwulf havia colocado naquelas flechas.

 

Ele posicionou a flecha. Mordeu os lábios preocupado e efetuou o disparo.

 

A flecha atingiu o alvo mas não foi forte o suficiente para perfurá-lo. Isso já era suficiente para que Riwulf saldasse Hidan.

Os dois riram e Hidan voltou a treinar.

 

Riwulf caminhou novamente até a sombra da árvore e disse algo de longe para Hidan.

 

_A vontade é que cria o seu poder.

 

Ele acenou de leve para Hidan enquanto se preparava para cochilar com a brisa leve da manhã que espalhava o canto dos pássaros-azuis.

 

Hidan treinou por mais algum tempo, até que Riwulf resolveu interceptar.

 

_Está com fome? – Disse Riwulf – pois eu estou faminto!

Hidan soltou um último disparo e a flecha perfurou fortemente o alvo, bem no centro.

 

Ele olhou para Riwulf e encontrou seus olhos orgulhosos.

 

_Vamos, recolha suas flechas e vamos comer algo – Disse Riwulf enquanto levantava-se do chão no qual permanecera deitado todo o treinamento de Hidan naquele dia.

 

Obedecendo a sua ordem, Hidan andou até as ruínas do estábulo. Foi de canto a canto, recolhendo cada flecha que havia usado no treinamento.

 

Após recolher as flechas e guardá-las na aljava, Hidan caminhou ao lado de Riwulf até a sua cabana.

 

Os dois entraram pela porta da frente.

Hidan sentou-se à mesa de carvalho na cozinha, enquanto assistia Riwulf preparar a refeição.

 

Esperava ansioso para saborear a suculenta comida que Riwulf preparava, além de mago, tutor de arqueiro e músico, ele cozinha tão bem quanto os chef’s do Duque.

 

_Pronto! Agora é só esperar algum tempo e nosso jantar estará cozido. – Disse Riwulf – Diga, você gosta de frangos?

 

_Tenho outra opção? – Perguntou Hidan num tom alegre.

 

_Não, você vai comer frango. – Riwulf respondeu a brincadeira de Hidan com alegria e seriedade.

 

Os dois riram e logo depois Hidan fez uma expressão séria.

 

_Riwulf, posso lhe fazer uma pergunta? – Hidan perguntou.

 

_ Ora, você já fez. – Ele respondeu enquanto se preparava para acender seu tradicional cachimbo.

 

_ Como dizer para uma pessoa que as expectativas dela sobre alguém estão erradas, dizer para essa pessoa que você não é o que parece ser? – Hidan perguntou esperando veemente por uma resposta singela.

 

_Olhe só, você é um bom arqueiro e eu creio que você possa nos representar na guerra. Não me diga que quer desistir antes de começar a lutar? – Riwulf advertiu paciente.

 

Ele sabia que Hidan queria desistir do treinamento, embora Riwulf soubesse que a excelência de Hidan e seu poder não era a visto naquelas terras há mais de 3 mil anos.

Hidan olhou profundo nos olhos de Riwulf e eles se entenderam.

 

_Prometo não desistir, só não acho que deva continuar sem ser o que você acha que sou. – Ele respondeu deprimido.

 

_Você é muito mais do que eu posso imaginar. – Riwulf respondeu.

 

Hidan se preparava para perguntar outra coisa, mas antes que pudesse balbuciar algo foi interrompido pelo som do caldeirão fervente.

 

_Nossa comida está pronta! – Riwulf disse alegre.

 

 

 

Capitulo Cinco

 

Pensamentos distantes

A noite se apresentou humildemente enquanto os dois conversavam na varanda da cabana. A madeira bem esculpida e bem cuidada tornava o lugar bom o bastante para uma conversa agradável. O céu limpidamente escuro abrigava as estrelas que banhavam o reino com o seu brilho harmonioso.

A luz vermelha da fogueira acessa mais à frente deles iluminava o local majestosamente.

O clima pós-chuva deixava a grama molhada e seu cheiro se espalhava por toda região.

Era uma noite agradável.

O único barulho era o agradável estalar das brasas na fogueira, o canto ilustre das cigarras nas matas aos arredores da velha e boa cabana de Riwulf.

 

Ele soltou um belo anel de fumaça que flutuou por cima da fogueira até ser desmanchado pelo fogo.

 

_Hidan, preciso lhe contar algumas coisas que você precisa saber, de certo modo, é importante para seu treinamento. – Ele disse afagando a sua barba e admirando a chama que subia da fogueira naquele momento.

 

_Então – disse Hidan enquanto se acomodava na cadeira de balanço que ele estava sentado – Que tal um pouco de chá quente?

Hidan pegou a chaleira que aquecia o chá ao lado da fogueira em brasas menores e ofereceu para Riwulf, que segurava uma caneca de latão. Eles se serviram e logo depois do primeiro gole Riwulf começou a falar o que, julgado por ele, seria indispensável para o treinamento de Hidan.

 

_Pois bem, está manhã o Duque me enviou um pombo-correio.

 

Riwulf pegou uma carta amassada debaixo de sua capa e entregou para Hidan. Ele pôs sua caneca no chão da varanda e antes de abrir a carta olhou para Riwulf com um olhar conhecido: “Tem certeza disto?”. Riwulf balançou a cabeça afirmativamente e Hidan prosseguiu. Ele abriu a carta e leu mentalmente o que estava escrito.

 

A expressão após a leitura não fora necessariamente boa, mas Riwulf sabia que isso teria um papel importante no treinamento de Hidan e que faria uma enorme diferença se ele não concordasse com isso.

 

Ele pediu para que Hidan lesse novamente em voz alta, isso daria confiança ao garoto.

Hidan, atendendo sua ordem, começou.

 

 

Corte Representativa Imperial

Brudghanm, Primeira Cidade do Império Dalagiwenzo

29 de Agosto

 

Saudações, Riwulf, O Grande.

A Corte da Primeira Cidade do Império o escolheu para representar os interesses de nosso Rei na reunião de magistrados em Mahudaurn, no reino de Azkendor.

 

A decisão, a princípio, tínhamos quarenta e oito nomes na lista para os indicados a essa missão, mas devido a sua tamanha importância, o seu grau de perigo e o tempo de viagem, sobraram apenas três nomes. Dentre estes, estava o seu.

Decidimos então que você seria a melhor escolha, você tem fortes cavalos e sabe lidar “com perigos inesperados”.

Esperamos que aceite o convite e contribua amigavelmente com nosso Rei.

 

Respeitosamente agradecidos,

Corte Representativa Imperial de Brudghanm.

 

 

Hidan fechou a carta e concluiu consigo mesmo algo que era mais importante que seu treinamento. A sua vida.

Se isso era tão perigoso para a missão ser destinada a um dos magos mais poderosos de todo o Império, ele não queria - nem iria - se arriscar de forma precipitada nessa missão. Ele dobrou o papel em três, o que demonstrava sua preocupação.

Mordeu os lábios secos e passou a língua lubrificando-os. Dirigiu um leve aceno para Riwulf que significa que ele não iria de forma alguma acompanhá-lo nessa missão.

 

_Mahudaurn, hm... – Hidan disse enquanto estalava os dedos – Me parece loucura.

 

_E é, de fato. – uma voz conhecida atrás das colunas de madeira da cabana disse num tom amigável.

 

_Cecil! – Disse Hidan – O que faz aqui?

 

_Passando para ver bons amigos, algo que você deveria ter feito! – Cecil advertiu respondendo a pergunta de Hidan

Hidan demonstrou alegria, mas esse sentimento foi ficando oculto à medida que Riwulf olhava para ele.

 

_Então, Mahudaurn... Fica a quarenta dias daqui, cavalgando sem parar para comer ou beber. Digamos que haja pausas para dormir e comer, dar água aos cavalos e descansar o traseiro, então acrescentamos mais quinze dias. Eu não acho que seja idéia de gente lúcida.

Cecil convidar-se-ia, mas pensou um pouco e decidiu não fazer.

 

_Se é idéia ou não de gente lúcida, não cabe a você julgar os interesses do reino, Cecil. – Riwulf sibilou enquanto soprava outro anel de fumaça.

 

_Não foi minha intenção senhor! – Cecil tentou se explicar, mas foi interrompido por Hidan.

 

_Que tal nos acalmarmos, vamos pensar com calma. – Hidan levantou-se – Talvez Cecil possa ir com você, e não eu, Riwulf?

 

_Cecil é meu aprendiz? Oh, desculpe, não estava sabendo que eu era tutor de guerreiros! – Ele interveio furiosamente na conversa, mas logo se acalmou e propôs algo mais conveniente – Que tal você vir conosco, Cecil. Eu, você, e Hidan. Seria útil se tivéssemos conosco um membro da Casa dos Elynghar.

 

Os Elynghar’s eram famosos por séculos devido ao seu grande poder militar. Todos, em sua maioria, não eram ricos ou nobres, mas eram fortes. A tradição da família era seguir sempre como guerreiros extraordinários, usando sempre a força como principal atributo.

Além disso, eles eram ótimos com cavalos, treinavam os mais bonitos e vigorosos cavalos de todo o reino.

Apesar da força, eles eram inteligentes da mesma forma que eram fortes. Peritos em estratégias de guerras.

 

Cecil Elynghar não era diferente, ele tinha músculos grandes e vistosos, manuseava uma espada com vigor e podia segurar fortes inimigos por tempo demasiados longos por outras pessoas.

 

Cecil olhou para Hidan esperando aprovação, e antes que pudesse tentar convencê-lo ele interveio.

 

_Está bem... Quando partiremos? – Ele perguntou sem hesitação.

 

_Ao amanhecer. – Riwulf respondeu, levantando-se de sua cadeira.

 

Eles iriam acordar bem cedo naquele dia, mas não iriam desperdiçar a bela noite que estava. Riwulf trouxe mais uma cadeira de balanço e uma caneca extra, serviu chá para Cecil e eles conversaram até a fogueira apagar.

 

 

Riwulf estava de pé frente a casa de Cecil às quatro horas da madrugada, ou da manhã, como julgava Riwulf.

Ele bateu três vezes na porta antes de ser atendido por uma simpática mocinha de olhos azuis, Bixby Elynghar, irmã caçula de Cecil.

 

Eles conversam por um instante, até que Cecil apareceu no fundo do corredor da casinhola vestido de roupas de dormir, com uma expressão cansada.

 

_Riwulf! Você nem dormiu? – Ele tentou convencer que era cedo demais para partir numa jornada que duraria pelo menos sessenta dias cavalgando por terras desconhecidas com um mago e um arqueiro aprendiz. Mas isto, é claro, foi inútil.

 

_Riwulf convidou-se a entrar e sentou numa pequena cadeira junto à mesa da cozinha.

 

Ele perguntou amigavelmente esperando por uma resposta positiva – Você está pronto?

 

_Espere aqui, voltarei em cinco minutos! – Disse Cecil enquanto subia as pequenas escadarias da casa.

 

Riwulf contava cada segundo minuciosamente e quando viu Cecil descendo as escadas com uma mochila de couro, vistosamente, com a espada que havia recebido de presente de Hidan, armaduras boas e resistentes forjadas por um ferreiro que ganhou a rápida classificação de Riwulf como “bom o suficiente para forjar uma armadura também boa o suficiente para esta missão”. Dois tipos de bainhas diferentes, mas ambas de couros, uma prendia uma adaga com duplo corte, serrada e afiada “o suficiente”. A outra prendia um punhal de aço, usado para aparar os golpes de espada dos oponentes que possivelmente iriam surgir.

A bainha do lado da cintura prendia Bone, a espada dada por Hidan. Os braçais e as grevas bem polidas, a luva de couro impecável significava que aquela era a primeira vez que estavam sendo usadas.

 

 

Quando deu o último passo do degrau e pos o pé no chão, Riwulf advertiu decepcionado.

 

_Está atrasado.

 

_Desculpe, tive um problema com minha malha de aço, é difícil vestir-se sozinho quando se têm um mago sentado na sua cozinha quando ainda nem amanheceu!

 

Riwulf sorriu e acenou na direção da porta.

Eles deveriam sair e apanhar Hidan.

 

Eles passaram na frente da casa de Hidan e era inesperado que ele estivesse sentado nos degraus da porta esperando pelo os dois com duas bagagens pequenas, vestido com sua roupa dada por Riwulf e com seu arco pendurado entre a aljava e dois cordões presos as costas. As duas bainhas estavam como a de Cecil, carregando adagas.

 

Ele se levantou facilmente, já que ao contrário de Cecil, sua roupa não pesava absurdamente. Isso diferenciava um arqueiro de um guerreiro, a roupa estrategicamente leve permitia mover-se rapidamente, e a sua capa preta acinzentada iria oculta-lo entre o cenário, deixando os arqueiros ainda mais estratégicos. Os arqueiros deveriam se comportar e agir com inteligência, os guerreiros deveriam agir como tal, mas com voracidade.

 

_Estamos todos aqui, e logo vai amanhecer. – Disse Riwulf olhando para o céu ainda tímido e escuro.

 

Cecil fez um gesto um tanto quanto significativo a Riwulf e dirigiu-se a direção de sua casa novamente.

 

_Vamos até meu estábulo, eu reservei um ótimo cavalo para você, pressuponho que Cecil tenha ido buscar o dele. – Disse Riwulf

 

Hidan assentiu.

 

Alguns instantes depois os três estavam reunidos no portão norte de Brudghanm, que era a única saída do reino. Montados em belos cavalos fortes, majestosos e bem cuidados, os três se dirigiram a saída do portão norte. Riwulf acenou ao guarda que rapidamente levantou os grandes portões de ferro fazendo um barulho estrondoso que não seria pior do que eles fazendo o portão fechar. Os bastões de ferro pontiagudos do portão bateram no chão. Eles estavam do lado de fora agora.

 

Riwulf ordenou os cavalos a alinharem-se e deu ordem aos rapazes.

 

_Enquanto estivermos em nossa terra, vocês podem cavalgar a vontade. Assim que cruzarmos a fronteira, aconteça o que for não saiam de perto um do outro. Precisamos ficar juntos ou então seremos alvos fáceis aos inimigos que, provavelmente, nos interceptaram nessa jornada. A partir de hoje, serão cinqüenta ou sessenta dias cavalgando, se não houver nenhum imprevisto. Caso ocorra algo que não esteja ao poder de vocês resolverem, recitem:

 

Na calada da noite

No amanhecer do dia

O poder que lhe trás

Agora virás

 

As palavras ditas pela boca enrugada de Riwulf deixaram os garotos com medo, mas isso os fez perceberem uma coisa. Uma grande aventura estava à espera deles, e eles sabiam que teriam muitas oportunidades de colocar em prática todo o treinamento que lhes foram dados desde os seus primeiros pela Escola de Batalha de Brudghanm.

 

Os cavalos relincharam como se tivessem entendido a mensagem de Riwulf.

 

_Ah, vocês precisam saber também que, bárbaros, ladrões e saqueadores não são amigáveis. – Riwulf disse, enquanto afagava o seu cavalo branco.

 

_É hora de partir – acrescentou, tomando a iniciativa da cavalgada.

 

O sol nascia no horizonte calmamente e refletia nas lâminas carregadas pelos jovens, os cavalos galopavam num conjunto harmonioso e tornava a caminhada agradável.

Vistos pelos guardas, eles foram se tornando pequenos pontos no vasto campo ao norte de Brudghanm, e logo desapareciam entre as Montanhas Baixas.

 

Eles estavam cavalgando há dois dias, os cavalos suados já demonstravam cansaço e esgotamento, reduziram a velocidade com qual avançavam e estavam molengas. Os homens também não estavam diferentes, cansados depois de tanto tempo cavalgando sem comer.

 

Eles avistaram um pouco a frente moitas e arbustos que pareciam ser confortáveis e refrescantes se perto deles descansassem. Riwulf acenou com a mão para baixo, e logo os cavalos pararam. Eles desceram e montaram um rápido acampamento perto dos arbustos úmidos. O calor intenso deixavam os cavalos cansados e ofegantes, como eles demonstravam.

 

_Há um rio próximo daqui, fica a 120 metros, é plano e você não o vera até que esteja nele. Hidan vá até lá com os cavalos, receio que não podem agüentar mais! – Riwulf disse indicando a direção no qual Hidan deveria seguir.

 

Ele deu um pulo e subiu sobre o cavalo de Riwulf que parecia ser o menos cansado, então puxou as rédeas de Hourin e Musteque e conduziu um de cada lado, com os braços esticados segurando cada uma das rédeas. Ele seguiu a direção indicada e logo soube o que Riwulf queria dizer com “você não o vera até que esteja nele”

 

As patas dos cavalos espirraram água para todos os lados e então Hidan pode ver a água cristalina correndo entre as pequenas plantas que nasciam na beira do rio, mas a frente, a água límpida corria vagarosamente entre o riacho. Ele saltou num só pé de Puddyor, o cavalo de Riwulf, o que o fez desequilibrar e cair sentado na água, o barulho assustou os cavalos, mas a sede que eles tinham falaram mais alto que o medo. Automaticamente os três cavalos começaram a beber água do rio. Hidan afastou-se e ao leste pode observar uma planície deserta e tristonha, árvores com galhos secos, águias lutando com abutres disputando um pedaço de carne e um castelo sob a maior das montanhas entre as três que estavam no final da planície. De aparência assustadora, uma luz amarela provinha do castelo, que brilhava sobre as duas montanhas escuras ao lado, banhando em luz os pastos devastados e os estábulos em ruínas.

Ele ficou curioso, mas pelo comportamento dos cavalos aquilo não parecia ser um bom lugar.

 

Hidan ficou de joelhos de frente para a beira do rio e fez uma forma com as mãos que possibilitaria ele de matar a sua sede. Então retirou um odre debaixo de sua capa e o encheu com a água cristalina que corria livremente.

Os cavalos estavam satisfeitos, e ele saltou sobre o seu cavalo dessa vez. Pegou as rédeas de Musteque e Puddyor, e seguiu de volta em direção o acampamento.

 

Enquanto Riwulf fazia os preparativos para a comida, ele ficou pensando no que havia visto.

Por curiosidade, ele resolveu perguntar a Riwulf o que era aquilo.

 

_Já disse que não lhe é de interesse! – Foi a resposta de Riwulf quando ele perguntou pela terceira vez o que era aquelas três montanhas numa planície desertar e escura, com um castelo na montanha do meio.

 

Ele não se contentou com isso e voltou a perguntar.

 

_Riwulf, me escute! Nós iremos passar por lá de qualquer jeito, e eu não ficar desinformado sobre o que podemos encontrar lá, isso pode ser um risco para mim e para Cecil, por favor, diga-nos o que há naquele lugar! – Hidan implorou encarecidamente por uma resposta, enquanto Riwulf arrumava a fogueira que aqueceria panela de ferro escuro que haviam trazido para a viagem, e cozinharia a batata que acompanharia o frango – outra vez – na refeição.

 

 

_Está bem – disse Riwulf - mas é necessário que essa informação fique apenas entre nós, as pessoas de Dalagiwan não podem descobrir que existe esse tipo de coisa aqui fora, isso despertaria curiosos e conseqüentemente mortes inocentes.

 

_Mortes inocentes? - Hidan perguntou assustado, enquanto olhava misteriosamente para Cecil.

 

_Não me interrompa – advertiu Riwulf – posso contar com vocês para deixar isso entre nós?

 

_Sim, apenas entre nós – Os dois responderam no mesmo instante, igualando o tom de voz.

 

_Há algum tempo – Riwulf fez uma pausa para soprar a pequena chama já acessa nos galhos, deixando os garotos curiosos – Bom, vocês já ouviram falar na Guerra dos Doze Cavaleiros? - Os garotos balançaram a cabeça positivamente, e ele continuou – Vocês precisam saber o que motivou essa guerra. Existia uma poção nessas terras, muitos dizem que ela foi feita por um antigo mago, outros dizem que ela simplesmente surgiu, mas a verdade é que ela tinha um criador, essa pessoa foi meu mestre. Eu não posso e nem irei revelar detalhes, e não insistam, direi a vocês o que me perguntaram sem que revele informações demais sobre minha vida. Ele criou uma poção que poderia conceder poder inimaginável a pessoa que a ingerisse, e quando eu digo inimaginável, é isso que eu quero dizer. Imortalidade, poder absoluto, força mágica inigualável, e tudo o que vocês sabem sobre magia negra. Essa poção controlava e corrompia quem a usasse, acorrentando a mente ao próprio corpo e sendo submetido as vontades de sua nova mente sombria. Corrompido pela magia, sem se lembrar de nada que havia ocorrido em sua vida e nem noção do fazer-ia, ela ficava sob encanto da poção, e a poção o controlaria, poderia matar até seu melhor companheiro sem que soubesse o que estava fazendo.

O Rei de Dalagiwan soube que Wrothrach, imperador inimigo, estava interessado nessa poção.

Como meu mestre havia traído a confiança do nosso Rei ao criar essa poção, ele foi condenado e sentenciado ao banimento de nosso reino. Ele fundou um castelo nessas montanhas e lá produziu estoques dessa poção monstruosa. Wrothrach imediatamente enviou pequenas tropas para tentar saquear essas poções, e ele conseguiu matar meu mestre e roubá-las. Então ele planejou ataques sucessivos a nossa nação, e destruiu grande parte do nosso império, se não fosse por um mago que ajudou na luta contra essas tropas e criou uma poção reversiva, todos nós estaríamos destruídos. O plano elaborado pelo rei consistia em molhar a poção reversiva na ponta de uma flecha e desferi-la no coração de Wrothrach, isso deu certo graças a doze cavaleiros da época, que guiaram um arqueiro até a direção de Wrothrach, protegendo-o e não o deixando que fosse morto. Eles resistiram muito, mas apenas um cavaleiro conseguiu sobreviver até o fim do caminho, mas foi morto junto com o arqueiro depois que conseguiram fazer circular pelo sangue maligno de Wrothrach a poção reversiva.

 

Foram mortes inúteis, pois o desgraçado não fora derrotado, ele voltou com tropas maiores, mas sua ganância o levou a própria destruição. Ele acreditava que quanto mais poções tomasse, mas forte ficaria. Ele enlouqueceu e causou uma explosão de poderes nessa planície – Riwulf indicou o local, as três montanhas e o castelo - que causou a destruição do local que outrora era iluminado e bonito. Isso forçou suas tropas a recuarem sob o domínio de um novo rei, ainda souberam que eles estavam sendo atacados pelos Aliados de Dalagiwan. Isso foi esquecido e ocultado pelo nosso rei, e logo os colonos e guerreiros esqueceram essa história. Foram tempos difíceis. Há boatos que ainda existe um frasco dessa poção escondida em algum lugar nesse castelo, e é por isso que o reino constantemente entra em guerra com outro império, para tentar impedir que coloquem as mãos nessa poção.

 

_Mas Dalagiwan e os Aliados não se interessam nessa poção? – Hidan perguntou.

 

_É o que tentamos impedir, a cada rei que ocupa o trono. E, digamos que essa planície tem guardiões naturais, que não deixariam ninguém ultrapassar os limites das montanhas. Que quero que isso fique apenas entre nós, não queremos colonos tentando ultrapassar essas planícies atrás de uma poção que pode acabar com o mundo! – Riwulf disse aos dois jovens, explicando o risco.

 

_Entendo por que o castelo estava acesso, os guardiões ficam lá. – Hidan pensou alto.

 

_Não, os guardiões, como eu disse, são naturais, e aparecem apenas quando está em risco a segurança dessa poção. – Riwulf advertiu preocupado. – não há nenhuma luz lá.

 

As frases sonolentas ditas pelo mestre de Hidan o fez estremecer e arrepiou cada pelo de seu corpo. Ele olhou novamente para o castelo e não encontrou a luz amarela que tinha visto enquanto dava água aos cavalos.

Isso o deixou um tanto inquieto.

 

_Ah, quando passarmos por lá amanhã, eu quero que vocês olhem somente para frente. Não tentem ver o que se passa por essas montanhas, ou então terão sérios problemas comigo – Riwulf disse – e com os seres malignos de lá – acrescentou.

 

Os jovens ficaram com muito medo, especialmente Hidan.

 

_Por que suas calças estão molhadas? – Riwulf percebeu que Hidan havia molhado as calças, e fez um comentário que tirou a atenção que os jovens tinham dado ao castelo.

 

Foi um longo tempo de conversa, enquanto comiam frango e batatas, Hidan tentava explicar que havia caído na água e não urinado nas calças devido ao medo que tinha sentido quando Riwulf lhe contou as histórias.

 

 

Eles terminaram de comer, depois de algum tempo. Então eles conversam um pouco e descansaram antes de tomar o caminho cansativo novamente.

Riwulf olhou para o céu e soube o quanto tempo eles tinham de luz antes do sol se pôr.

Todos desmontaram o acampamento e puseram a bagagem novamente nos cavalos. Riwulf apagou a fogueira com água e chutou as cinzas para debaixo de um arbusto, era arriscado deixar rastros, mesmo ainda estando no reino de Dalagiwan.

 

Eles saltaram em seus cavalos e Riwulf deu partida a mais quatro horas de caminhada até o crepúsculo.

 

Eles acharam um lugar aconchegante, porém tão perto das Três Montanhas que fez Hidan ficar trêmulo.

Retiraram outra vez as bagagens dos cavalos, acenderam outra fogueira e dessa vez quem deu água aos cavalos foi Cecil. Depois que Cecil chegou, eles conversaram a beira da fogueira enquanto não tinham sono.

Riwulf estabeleceu um acordo entre os dois.

 

_Certo, creio que, estamos perto demais do Vale Truculento e longe demais da Primeira Cidade. Vamos fazer turnos de vigia para que ninguém – nem o que – ataque-nos enquanto estivermos dormindo. Seria desagradável acordar numa gruta de Orc pronto para ser devorado. Hidan, você começa, quatro horas depois acorde Cecil, ele ficará de guarda por mais quatro horas, quando eu assumirei o posto até o amanhecer.

 

Todos concordaram, e assim que Cecil bocejou Hidan apanhou seu arco e foi até um arbusto à frente – ficando de frente para o Vale e de costas para as Cidades do Império, que agora não poderiam ser mais vistas de onde eles estavam.

Riwulf fez barulho para chamar a atenção de Hidan, e o disse para não prestar atenção nos barulhos noturnos, que não seriam nada agradáveis.

 

Minutos depois, Hidan percebera o porquê de não serem agradáveis. Aquele cenário assustador tenebroso que era de dia estava mais penetrante do que nunca. Os uivos dos lobos famintos caçando madeireiros nos acampamentos para devorá-los, os urros dos monstros desconhecimentos, os gemidos detrás das montanhas, o barulho de martelos batendo em coisas que seriam desconhecidas por Hidan, e toda aquela história sobre o quanto as pessoas ficam malucas por aquela poção. Isso deixava Hidan muito – e totalmente – assustado.

 

Felizmente a tortura acabou, e Hidan viu uma penumbra se levantar dos sacos de dormir. Cecil, ainda sonolento, vestiu sua armadura e puxou sua espada da bainha, andou até o arbusto que Hidan estava e retirou de sua bolsa amarrada ao cinto da calça um odre. De lá bebeu algo que o ajudaria ficar acordado e ativo durante as próximas quatro horas.

Hidan, embora ainda assustado, deitou-se em seu saco de dormir e tentou adormecer, diante àquele cenário tudo parecia tão difícil, fechar os olhos seria quase impossível. Ele adormeceu, mas aquela noite seria repleta de pesadelos de como os Orcs poderiam assá-lo ou de como os bárbaros iriam fazê-lo de escravo.

 

 

Capitulo Seis

 

Mistérios entre canções

 

Todos acordaram quando Riwulf fez um barulho agudo com seu cajado próximo aos ouvidos dos jovens, e então eles se preparavam outra vez para alçarem as bagagens e montarem em seus cavalos para percorrer um caminho que estava ficando cada vez mais difícil. Dois dias haviam se passado desde que saíram de Brudghanm, e eles ainda estavam no reino de Dalagiwan, mas logo a frente do acampamento, um pequeno rio separava as terras calmas e pastosas de Dalagiwan ao vale lindo e iluminado que Wrothrach havia transformado em sombrio e tenebroso. O Vale Truculento.

 

Eles arrumaram tudo e montaram em seus cavalos.

Cavalgaram por 15 minutos e pararam frente à margem Oeste do rio, que ainda era território de Dalagiwan.

Riwulf desceu calmamente as margens e as patas de seu cavalo foi afundando cada vez mais na água azul, e não parou de afundar até que a água tocasse na barriga do cavalo. Ele percorreu por mais vinte metros com as patas do cavalo debaixo d’água, até que a água azul foi se transformando numa água escura e cada vez mais penetrante e gelada, o cavalo tremia e suas patas escorregavam no barro submerso. Riwulf se encontrou do outro lado do rio e fez sinal para que os jovens pudessem atravessar.

Primeiro foi Cecil, ele ordenou que seu cavalo marchasse em direção ao rio e como Riwulf suas pernas foram desaparecendo. A água também teria tocado a barriga de Musteque se não fosse pelo fato dele ser bem maior que o cavalo de Riwulf, além de mais forte e vistoso. Ele caminhou rapidamente os vinte metros e passou pela água gelada e escura na outra margem do rio como se estivesse andando sobre vales calmos das montanhas do sul.

 

Cecil chegou ao outro lado da margem do rio e fez o mesmo sinal que Riwulf o fizera, dando confiança ao parceiro.

 

Hidan hesitou, esgueirou toda a borda do rio antes de avançar e escolheu o melhor lugar para atravessar – julgado por ele.

Hourin foi descendo as margens e logo colocou cautelosamente a sua pata na água, sentiu a sua temperatura e pôs a outra pata, julgou seguro e continuou. Foi assim até doze metros antes de alcançar a outra margem, quando a água começou a ficar escura e gelada. As patas de Hourin afundaram na lama e os pés de Hidan tocaram a água encharcando suas botas macias. A cabeça de Hourin ficara quase submersa, mas ele pulou de dentro d’água e não fez que os dois afundassem, mas caiu à frente onde havia um enorme buraco que engoliu Hourin e Hidan. Hidan se debateu molhado para todos os lados, e a sua capa permaneceu flutuando na superfície enquanto ele afundava. Riwulf observou a cena atentamente. O cavalo e Hidan estavam cada vez mais fundos, quando Hourin impulsionou suas patas na lama e conseguiu levantar Hidan para que tomasse ar na superfície. Hidan ficou de pé sobre as costas do cavalo, e quando o cavalo subiu para a superfície ele caiu sobre os seus fortes músculos e montou novamente Hourin. Numa ultima tentativa, Hourin deu um salto que alcançou a outra margem do rio. Ele sacudiu-se e levantou uma das patas traseiras e balançou a crina molhada, desejando agora que ela ficasse seca e macia novamente. O cavalo era digno de ter como seu dono um arqueiro, ou o arqueiro era digno te der um cavalo tão parecido com ele. Hourin era o mais esperto cavalo que Hidan havia montado.

 

Os três se reuniram novamente na margem leste do rio, agora na terra, outrora de batalhas, do Vale Truculento.

Riwulf propôs um plano da melhor espécie naquele momento.

 

_Vamos andar ao lado das montanhas opostas, àquelas que estão do lado Oeste – disse Riwulf, apontando para belas montanhas verdes que escondiam o sol naquela manhã. Ela ficava do lado do oceano que banhava a costa sul dos reinos baixos conhecidos pelas grandes e vastas planícies, Dalagiwan, Azkendor, Plonevok e Kolkanin. Os dois últimos unidos como um grande império mercantil, que não entravam em nenhuma batalha se não tivesse algo valioso envolvido - elas ficam longe do castelo e todo o problemático aspecto desse local. É bom vocês me seguirem e não pararem enquanto estiverem nessas terras. Não vamos parar para almoçar, faremos isso assim que cruzarmos o outro rio e chegarmos à Azkendor.

 

Eles rumaram à Azkendor, ora cavalgando rapidamente, ora trotando e dando um breve descanso aos cavalos, antes de retornarem novamente ao rápido cavalgar.

 

As terras assombrosas faziam Hidan enxergar coisas que não existiam – pelo menos antes dele conhecer aquelas terras – e isso foi o suficiente para deixá-lo durante toda a viagem inquieto e confuso. Ele perguntara a si mesmo “Que mal poderia estar circulando por aquelas montanhas e florestas ao redor delas?” ou pior “Será que sairemos daqui sem ser notados?”

Ele cavalgava adiante, mas seus olhos com certeza estavam voltados às três montanhas e ao castelo no topo da montanha do centro. E assim foi durante longas e cansativas cinco horas de viagem – sem parar para comer ou beber – até que chegaram no último rio que separava o Vale Truculento do reino de Azkendor.

 

Eles atravessaram facilmente, pois era tão raso que a água mal chegava a molhar os calcanhares dos cavalos. A cada pisoteada, esguichava e respingava água para todos os lados do raso, mas vasto, rio. Chegaram ao final do rio, e ao contrário de toda a extensão, aquela parte era mais profunda. As águas vindas da nascente percorriam entre o solo argiloso fazendo-o virar lama e tingir a água de marrom-barro, desciam e misturavam-se com a água do rio de Azkendor que desaguava no riacho que dividia as planícies e desciam lenta e calmamente.

 

Eles atravessaram, dessa vez sem problemas.

Ao cruzar o rio, os jovens desceram do cavalo, mas Riwulf continuou montado.

Aquelas terras já eram muito conhecidas por Riwulf, mas os jovens, pela primeira vez, pisaram no bom, fértil e desejado solo de Azkendor.

Apreciaram o ar, que mudava conforme o vento soprava sua brisa gelada das águas do Oceano Norte.

Ainda havia muito caminho a percorrer, e durante esses cinco dias de viagem eles só haviam cavalgado pouco da distância que ainda seria percorrida.

Agora eles só encontrariam florestas ou perigos há cinco ou dez dias à frente, por causa da planície sólida e fértil de Azkendor, sem saliências ou interrupções, apenas território plano.

 

Azkendor foi palco das maiores guerras de todo o mundo, era o primeiro reino do ocidente e estava à frente de Dalagiwan e dos outros dois pequeninos reinos, Plonevok e Kolkanin. Todos os ataques do oriente e dos Reinos Médios, que estavam entre o ocidente e o oriente, desabavam nos solos de Azkendor.

 

Os grandes navios e embarcações traziam guerreiros, montavam acampamentos e fortes, trazidos de longe para destruir e tentar dominar as terras de Azkendor. Apesar da insegurança do império, pela vasta planície não vigiada, nunca conseguiram dominar parte desse terreno, que no extremo de Mahudaurn era rochoso e montanhoso, unindo-se as fortes, resistentes e impenetráveis muralhas que faziam a segurança da principal cidade – e única, já que Azkendor não tinha cidades tão grandes como Dalagiwan, mas sim pequenas vilas de aldeões. – em Azkendor.

 

Mahudaurn fora escolhida como central de reuniões e interesses dos Impérios Ocidentais, pois era localizada entre todos os impérios, e mais próxima de todos os outros do que Dalagiwan e sua Brudghanm. Além disso, era a mais segura contra invasões, embora não tivesse uma força militar maior que de Brudghanm, já que seus soldados morreriam em batalhas travadas nas costas nortes e noroeste, em outra tentativa de expulsar os inimigos.

 

Eles cavalgaram até o crepúsculo, quando decidiram montar um acampamento para descansarem do longo dia sem almoçarem ou comerem nada desde o desjejum. Dessa vez Riwulf deu água aos cavalos, logo depois os soltou e eles pastaram no alto capim d’As Planícies.

Riwulf voltou até onde estavam os jovens, esperando-o para montar o acampamento. Ele pegou sua bagagem e pegou um facão enferrujado, mas afiado e cortante. Cortou um bocado de capim de um lado e do outro, fazendo um enorme circulo entre o capim alto, onde montariam o acampamento. A fogueira foi acessa antes que céu ficasse completamente negro e melancólico, onde a lua se escondia atrás das nuvens cinzentas e tristonhas. As estrelas escondidas lá em cima deixavam tudo mais escuro, e a única luz que tinham era a da fogueira.

Ventava forte, já que não havia florestas ou vales, serras ou montanhas, cordilheiras ou colinas, apenas a grande e extensa planície alta.

Os jovens tiraram e guardaram as armaduras, que foram trocadas por roupas e casacos de lã, trazidos junto às provisões nas bagagens.

 

Sentaram a beira da fogueira e perguntaram o que iriam comer, quando receberam a ilustre resposta - que não era a primeira, e não pela última vez.

 

_Batatas é tudo o que temos, e deveriam agradecer por isso! – Resmungou Riwulf – Poderíamos ter sido atacados por bárbaros ou ladrões, e estaríamos sem comida e sem roupa adequada agora.

 

Ele parou para pigarrear e tomou um pouco da água de seu odre.

 

_Daqui a poucos dias, estaremos em regiões melhores que essas, onde os vales se apresentam e somem, dando lugar as florestas. Então podemos variar nosso cardápio com morangos silvestres e talvez alguns coelhos assados na brasa da fogueira. E depois disso, iremos atravessar os picos rochosos antes de entrar no território dos fortes antes da cidade. Mas não reclamem enquanto tiverem o que comer!

 

Os dois apenas ouviram e calaram-se, enquanto remexiam alguns galhos dos únicos arbustos que tinham encontrado para acenderem a fogueira.

Eles deitaram perto dos sacos de dormir, no amontoado de capim alto que Riwulf cortara. Olhos direcionados ao céu, embora nada satisfeitos com a paisagem. “Aquele porco selvagem seria maravilhoso nessa ocasião.” Pensava Hidan.

 

_Pelo menos não chove – disse Cecil, enquanto observava a melancólica paisagem.

 

Eles adormeceram, mas logo foram cutucados por Riwulf quando a comida estava pronta.

 

Eles comeram, Riwulf pediu para Cecil trazer os cavalos que pastavam e depois amarrá-los às estacas no chão, já que os únicos arbustos tinham sidos cortados para a fogueira, e não havia arvores.

Eles estabeleceram a vigia, algo que se tornou comum depois que partiram de Brudghanm.

 

Hidan dormia enquanto Cecil fazia a guarda por ora.

Logo foi cutucado, mas recusou-se a levantar. Então o uivar de um lobo próximo o fez despertar, quando apanhou seu arco e seguiu ao posto, ainda cabeceando de sono, enquanto as últimas brasas da fogueira estalavam e subiam com o ar.

 

Os primeiros raios majestosos do sol no leste indicavam que o dia seria agradável, e a brisa como tal. O céu límpido logo de manhã ainda permanecia com algumas estrelas, e a lua ainda não havia se posto totalmente ao oeste.

 

Riwulf acordou e preparou um chá de capim-limão e acordou os garotos.

Alguns pães que ainda haviam sobrado foram servidos, e logo após do desjejum eles içaram as bagagens e montaram em seus cavalos, não pela ultima vez.

Ainda restavam algum tempo de viagem.

Então eles cavalgaram rumo ao laranja sem fim do horizonte.

 

O sol havia se posto novamente, as chamas bruxuleantes de outra fogueira acessa fazia penumbras por todo o lado. O oeste já não era mais visível, e para o leste tudo o que poderiam ver era os picos sombrios das montanhas.

Era um deserto de capins altos, e apesar de ser território aliado, não era povoado e nem vigiado por algum dos guardas das nações.

 

_Animem-se! Estaremos lá em poucos dias, e uma vez que estivermos lá, descansaremos como homens, numa boa cama, bebendo e comendo da melhor forma possível e desfrutando das belezas da cidade. – disse Riwulf, enquanto preparava para fumar o último cachimbo, já que o fumo havia acabado, e aquelas regiões não havia excepcionalmente nada que pudesse ser saboreado num cachimbo polido.

 

Tudo o que os jovens pensavam naquele momento era “bebendo e comendo da melhor forma possível”.

Quarenta dias cavalgando, sem banho ou comida regular, – eles não seriam tolos o suficiente para banharem-se nas águas desconhecidas dos lagos gelados e sombrios – comendo coelhos e batatas e vivendo das frutas de alguns arbustos que cresciam milagrosamente naquela planície.

_Nos animar? Estamos há tanto tempo sem comer direito, que eu não tenho ânimo nem para montar em meu cavalo e procurar algum coelho perdido por aí – disse Hidan.

 

Foi com esse pensamento que adormeceram, logo após da refeição – as últimas batatas assadas.

 

O dia amanheceu, e como da última vez eles montaram em seus cavalos e seguiram o caminho ao encontro de Mahudaurn, pelos últimos dias.

 

O sol do meio dia estava quente, e os raios entrelaçavam-se entre os picos das montanhas das muralhas de Mahudaurn, eles estavam próximo, mas agora as planícies se desmanchavam, dando espaço as florestas inominadas de diversos aspectos e espécies diferentes de árvores.

Eles estavam cavalgando desde o alvorecer, e já estavam começando a diminuir o galopar. Estavam cansados, e seus cavalos não agüentariam muito tempo com tanta sede. Eles avistaram um pequeno lago e logo cavalgaram em direção à ele, impacientes e sedentos.

Eles beberam a última gota dos odres antes de reenchê-los, mas perceberam que os cavalos não tinham aceitado a água.

Hidan encheu seu odre com a água do lago e bebeu.

Antes que pudesse dar mais de dois goles percebeu que a água era salgada e a cuspiu.

 

Riwulf olhou preocupado para o lago.

_Devemos estar perto demais do oceano, este deve ser um pouco das águas que atravessaram a costa e formaram este lago. Não percamos tempo, subam e voltemos ao nosso caminho.

 

Eles viajaram por mais três horas, até que Hidan avistou de longe um homem velho e barbudo na entrada de uma floresta, sentado as sombras de um grande carvalho, com um chapéu grande que se dobrava a altura e caia para trás. Sua barba branca ia até a cintura, onde se enrolava chamuscada. Suas vestimentas eram pobres e rasgadas, um calção bege e uma camisa de malha velha.

Ele carregava um instrumento em cima da barriga, onde tocava uma melodia agradável e animada.

A cantoria atraiu os rapazes e o velho, então eles se aproximaram e tentaram conversar.

 

_Saudações de Brudghanm, Riwulf e companhia. – disse Riwulf, cordialmente e com entusiasmo.

 

Ele não respondeu e continuou a cantar.

 

O cavalo de Hidan aproximou-se do cavalo de Riwulf, então Hidan inclinou-se e cochichou no ouvido do velho tutor.

 

_ O que é ele?

 

_Ele é um bardo. É uma fonte de informação conveniente para nós nesse momento, além de cantar músicas agradáveis e histórias realmente boas de ouvir. O que ele toca é um alaúde feito especialmente no antigo império do maléfico Wrothrach, veja as cordas esbranquiçadas.

Hidan observou as cordas com atenção, e os velhos dedos do homem que ia e retornava, fazendo um som agradável. Ele esqueceu-se de tudo enquanto ouvia a história que cantava o bardo.

 

Caminhei entre as cinzas do império

O vi desabar no próprio pranto

A nação se quebrou e assim se foi o amor

Deste povo e do nosso canto

 

As terras que outrora brilharam

Agora estão em pleno relento

Eu gostaria de ver novamente os pássaros

Que voavam com a brisa leve dos ventos

 

A grande nação foi destruída

E agora já não há mais vida

O que outrora era brilho

Agora se tornou escuridão

 

O rei deu morte a si próprio

E com seus soldados que foram mortos

As almas descansarão

Agora não há mais vida

A nação de outrora foi sucumbida

 

Marretar, esmagar, avançar sobre o solo inimigo

O rei deu-nos a ordem e deve ser cumprida

O inimigo será destruído

Fomos interrompidos pelo marchar dos homens

Não somos fortes para barrá-los

O seu arqueiro destruiu o esplendor

Mas doze cavalos caíram

Com as almas dos soldados que agora descansam

Em nome do rei, sob as ordens inoportunas

As almas despedaçadas.

A nação em cinzas

Já não há mais qualquer fortuna

 

A canção não tinha muito significado para Hidan e Cecil, mas já Riwulf a ouvia calmamente.

Ele parou de cantar e suspirou, enquanto preparava um cachimbo polido, semelhante – se não igual – ao de Riwulf.

Riwulf percebera que ele tinha bastante fumo, mas sentiu que não era conveniente pedir antes de conhecê-lo melhor.

 

_Precisamos de água antes que morramos de sede – gritou Cecil – você sabe onde há um lago que de sua água poderíamos beber?

 

O bardo pegou seu alaúde novamente e começou uma nova canção

 

Acredite no bardo a cantar

Serão doze ao sul e treze ao leste

Não deixe que veja o cipreste

Sob o luar a sede vais matar

 

Ele continuou a remexer e preparar o cachimbo, quando percebeu que Riwulf olhava incisivamente para o fumo dentro da bolsa de couro. Ele pegou um bocado, e levantou o braço erguendo na direção de Riwulf

Riwulf olhou para os dois garotos, com um rosto um tanto envergonhado, mas não recusou o presente e logo colocou no saco que estava amarrado ao cavalo.

 

Os jovens não entendiam nada do que havia acontecido, mas agradeceram mesmo assim e seguiu o caminho leste.

Então Riwulf começou a entender a mensagem

 

_”Doze ao sul, treze ao leste.” – ele balbuciava enquanto cavalgava.

_”Sob o luar sede vais matar” – então ele finalmente encontrou o significado. – Mudem de direção, vamos ao sul.

 

Eles percorreram um caminho equivalente a doze jardas, então dobraram uma curva íngreme que dava a um vale escuro ao leste, e percorreram por mais treze jardas.

 

_Estamos aqui, mas não vejo nada que possamos matar a sede de nossos cavalos e a nossa. – Cecil retrucou, lamentando o caminho percorrido desnecessariamente.

 

Eles montaram um acampamento antes do por do sol, mas não tinha arbustos naquela área, então não era possível acender uma fogueira. No escuro conversavam sobre o ocorrido enquanto Riwulf preparava seu cachimbo com o fumo que lhe fora presenteado.

De repente, as mãos de Hidan que estavam apoiadas ao chão começaram a afundar na grama, que se transformava em barro.

Logo elas afundaram, e seus braços estavam sendo engolidos pela lama, até que uma poça de água se formou e foi elevando-se cada vez mais.

Foi um alvoroço, os cavalos relinchavam atordoados e os sacos de dormir e a bagagem foram retirados rapidamente da água que surgia, molhados, eles levantaram-se e correram para o lado direito.

Um lago se formou onde eles estavam acampando.

 

_O luar! – Exclamou Cecil, com felicidade.

 

Eles correram em direção ao lago, e os cavalos fizeram o mesmo. Beberam tanta água como se não tivesse bebido nada por séculos.

Os odres foram cheios até estufarem, e a água escorria entre o tampão de couro.

Se a água era confiável para beber, era também para banharem-se.

 

Eles colocaram suas roupas ao lado da margem do lago e calmamente adentraram – mesmo na escuridão das águas – o lago sob o luar.

As estrelas estavam mais belas do que nunca, e apesar de ser noite, estava claro. A lua calma brilhava sozinha no céu escuro.

Eles tomaram um banho longo e relaxaram na água o máximo que puderam.

Saíram da água com frio, apesar do vento ter dado trégua naquela noite.

Deitaram na grama e esperaram secarem-se antes de colocarem as roupas. Logo o fizeram e então sentaram perto dos cavalos.

 

_Já que não temos mais sede e estamos limpos de novo, vamos cavalgar esta noite toda. Se fizermos bem, amanhã ao alvorecer, estaremos à dez horas das muralhas da Mahudaurn. – Disse Riwulf, enquanto remexia sua bolsa à procura do fumo.

Riwulf fumou um ou outro cachimbo, e os jovens comiam alguns frutos que haviam colhido das árvores onde o bardo estava.

 

_Obrigado bardo! – Disse Hidan enquanto gargalhava com a boca cheia de uma maça.

 

Os três riram absurdamente naquela noite, e uma ou duas horas depois eles estavam cavalgando sob o luar.

 

O dia amanheceu e eles ainda cavalgavam, apesar de exaustos, não veriam a hora de chegar às muralhas.

Riwulf acenou e eles pararam, sem muitas delongas retiraram os sacos de dormir e deitaram – em plena luz do sol.

Descansaram três ou quatro horas, então montaram os cavalos novamente e cavalgaram por mais sete horas seguidas, com pausas apenas para beber e dar água aos cavalos nos riachos – que agora havia em abundância, por terem atingido as regiões rochosas, onde as nascentes dos principais rios davam água cristalina e pura.

 

O sol do fim da tarde no oeste brilhava calmo e seus raios do oeste brilhavam entre os picos das montanhas do leste. O brilho tênue e o céu alaranjado deixavam o clima confortável.

Após quase dois dias cavalgando com pequenas pausas para descansar, sem comer direito, eles chegaram às muralhas das montanhas íngremes e escuras, de rochas irregulares e resistentes. Os portões logo à frente indicavam descanso.

 

_Mahudaurn – Disse Riwulf, num tom de voz calmo, cansado, mas ao mesmo o tom de voz do velho mago estava realmente feliz.

 

 

 

 

Capitulo Sete

 

Flechas e pedras

 

Os portões se abriram quando Riwulf ordenou, então seis guardas apareceram e lhe fizeram algumas rápidas perguntas. Os deixaram passar e eles seguiram cavalgando lentamente a trilha de um pequeno vale que logo daria caminho à Mahudaurn.

As montanhas encarregavam-se das sombras, e então exaustos eles chegaram à noite nas portas de Mahudaurn.

Riwulf levou os jovens para uma velha estalagem conhecida por ele nas suas viagens anteriores.

O Uivar Dos Sete Lobos era uma grande estalagem, um estábulo, dezesseis quartos com camas boas e aconchegantes e um vasto salão onde eram servidas cervejas de todos os tipos e onde os viajantes faziam suas refeições. Isso fazia do lugar um ambiente agradável e cheio.

Eles prenderam e deram comida aos seus cavalos no estábulo, então resolveram entrar. Logo que chegaram, os olhares de todos percorram os três viajantes. Riwulf fez reverências tímidas e logo trocou palavras com o dono da estalagem que os conduziu para seus quartos, deixaram o salão principal com o sorriso no rosto de todos os estranhos que ali estavam.

 

Eles guardaram suas bagagens, o dono da estalagem lhes trouxe uma boa refeição: Milhos, vagens, pernil, pães e um bom vinho.

Após a ceia, eles descansaram nas poltronas em frente à uma lareira, onde conversaram um pouco sobre a viagem e descansaram seus corpos cansados.

Então, os jovens, deitaram-se em suas camas.

Cuidadosa e silenciosamente Riwulf deixou os quartos dos jovens e se dirigiu ao seu.

Não levou muito tempo até que estivessem completamente num sono profundo.

 

Os primeiros raios brilhantes do sol da manhã entravam pela pequena janela no fundo do quarto dos garotos, e então despertava Hidan.

 

Ele levantou-se e vestiu suas roupas. Arrumou a cama onde dormira e se dirigiu até a porta que dava para o salão principal da estalagem. Antes que a fechasse, lançou um ultimo olhar pelo quarto e certificou-se que tudo estava em seu perfeito lugar.

 

Encontrava-se no salão principal, e logo a frente, numa pequena mesa de madeira estava sentado Riwulf.

 

_É um belo dia, não acha? – disse Riwulf – Deve estar faminto! Pronto para o desjejum?

 

Hidan caminhou para perto e puxou uma cadeira, onde se sentou próximo a Riwulf.

 

_Não deveríamos chamar Cecil? – disse Hidan, mas quando pode perceber Cecil estava sentando-se logo ao seu lado – Ora, aí está você.

_Foi uma longa viagem, merecemos comer bem! Vamos fazer o desjejum e logo iremos cuidar dos cavalos, então vocês poderão conhecer melhor a cidade. – disse Riwulf, e então eles começaram o desjejum.

 

Enquanto comiam, Hidan percebera que Riwulf passara o tempo todo olhando para um lado escuro do salão, onde estava um homem alto, forte e encapuzado. Ele fumava um cachimbo e a fumaça soprada enchia todo o capuz, e era impossível ver seu rosto. As botas excessivamente escuras faziam um barulho alto quando ele batia o pé no chão ritmando algum som.

O homem percebeu os olhares de Riwulf e rapidamente levantou-se. Num ultimo sopro da fumaça e enquanto sua capa arrastava-se pelo chão, ele saiu da estalagem como se fosse invisível.

 

_Hidan, precisamos conversar à sós. – disse Riwulf com uma expressão séria.

 

Hidan preparava-se para levantar, mas Riwulf interveio,

 

_Mais tarde – disse Riwulf.

 

Eles terminaram o desjejum, sem nenhuma intervenção, exceto pelo canto agradável dos pássaros na janela do outro lado do salão, as conversas matinais dos homens da estalagem, o barulho das xícaras sendo colocadas sobre as bandejas e depois as bandejas quando colocadas nas mesas e o tradicional abre-e-fecha da porta principal da estalagem.

 

Pouco depois, eles se levantaram, mas Cecil permaneceu sentado.

Eles caminharam na direção do pequeno corredor que levava ao quarto onde Riwulf passara a noite.

Eles entraram e Hidan percebera a agitação de Riwulf ao abaixar as cortinas e espiar a cada intervalo de tempo a fechadura da porta, na esperança de encontrar algum bisbilhoteiro.

 

_O que está acontecendo, Riwulf? – perguntou Hidan.

 

_Há um homem. Você provavelmente o percebeu. – disse Riwulf

 

Hidan rapidamente lembrou-se do homem encapuzado do salão anterior.

 

_Eu quero que você o conheça. – disse Riwulf

 

_Eu? Por quê? – disse Hidan

 

_Ele é um arqueiro – disse Riwulf, enquanto parava para outra espiada na fechadura da porta.

 

_Como eu? – disse Hidan

 

_Não seja tolo! Não há ninguém como você! Você tem um dom, o dom da magia. Ele é um arqueiro, e seria apenas isso se não fosse o fato... – disse Riwulf, mas hesitou em continuar, pois ouvira passos de alguém caminhando pelo corredor.

Então fez-se silêncio até que os barulhos dos passos cessaram.

 

_O fato...? – disse Hidan incisivamente.

 

_O fato... Ele é muito poderoso, não é um arqueiro comum. Embora não tenha o dom da magia como nós, ele não usa métodos tradicionais, por assim dizer. Você vai descobrir quando formos visitá-lo mais tarde. – disse Riwulf, terminando a conversa enquanto caminhava para levantar outra vez as cortinas.

 

Hidan arrepiou-se. O homem encapuzado era muito assustador e tinha uma aparência misteriosa, qualquer que fosse a ocasião, certamente não seria interessante conhecê-lo, ainda mais visitar sua casa.

 

_Vi... Visitá-lo? – disse Hidan gaguejando

 

_Você aprenderá algumas coisas com ele, não se preocupe, é um velho amigo. E nessa cidade, creio que é o único que eu posso confiar. Além disso, ele com certeza terá um presente útil para você. – disse Riwulf, quando saia pela porta do quarto e deixava Hidan sozinho com seu receio e medo.

 

“Presente útil” – Hidan pensou nas palavras ditas por Riwulf e estremeceu.

Quando voltou ao salão principal ficou surpreso ao encontrar um homem armado e prestes a cortar o pescoço de outro homem.

 

 

_Este homem, ele tentou me roubar, e agora pagará por isso! – disse o homem com a espada.

 

Hidan puxou uma flecha da aljava e a posicionou no arco.

 

_Acredito que não conseguira a tempo. – insinuou Hidan

 

_Desculpe meu senhor! Eu só estava com fome – o homem tentou se explicar e aparentava pânico e desespero enquanto a lâmina da espada refletia os raios do sol em seus olhos escuros.

Os olhos do ladrão mostravam muito desespero, mas não era só isso. Eram olhos de melancolia, de muito sofrimento, de tristeza.

 

_Guarde sua espada! – gritou Hidan – ou será a ultima vez que ira usá-la!

 

O homem colocou sua espada novamente na bainha.

 

_Que fique claro que nossas leis são severas contra ladrões!

 

_Dê comida à ele, por minha conta. E liberte-o, deixe-o ir. – disse Hidan

 

_Ora, ora! Quem você pensa que é? Você não pode dar ordens aqui, jovem arqueiro. – disse o homem enquanto se aproximava de Hidan

 

_Dê mais um passo e você verá quem sou. – disse Hidan, enquanto as cordas do arco esticavam.

 

_Mais cuidado com o que diz, jovem arqueiro. Sua língua pode perder o lugar. Mas vamos esquecer este episódio. Sou Gyldor. É um grande prazer conhecê-lo, um arqueiro em Mahudaurn.

 

Hidan abaixou o arco e retirou a flecha, a guardou na aljava outra vez.

 

_Hidan. Ande, liberte-o. – disse Hidan.

 

Gyldor soltou os braços do ladrão e saiu pela porta da estalagem.

 

_Nos veremos outra vez, Hidan – disse Gyldor.

 

Todos que estavam na estalagem naquela manhã lançaram um olhar de surpresa para Hidan e logo estavam cochichando algo sobre ele.

 

O ladrão, que já estava caído no chão, rastejou até Hidan e abraçou suas pernas.

_Muito obrigado, meu senhor! Muito obrigado! – disse o ladrão.

 

Cecil puxou Hidan até o outro canto do salão.

 

_O que você fez? Está maluco! Ele é um ladrão e merece ser punido! – disse Cecil aumentando sua voz.

 

Hidan olhou para Cecil com desprezo, mas antes que pudesse dizer algo os dois foram interrompidos pela mão de Riwulf sobre o ombro de Cecil.

 

_Ele agiu certo, Cecil. Estou orgulhoso de você Hidan, digno de um grande arqueiro. Mas, não se esqueça, não estamos em Brudghanm. As leis daqui são somente pertencentes a este lugar, você não deve se intrometer em assuntos deste lugar.

 

_Foi roubo, Riwulf!– disse Cecil

 

_Elynghar! – disse Riwulf furiosamente enquanto seus olhos cobriam Cecil de medo.

 

_Hidan, não faça mais isso. Deixe que os cidadãos daqui resolvam seus próprios problemas. Não são nossos e não são do nosso reino. – disse Riwulf enquanto virava as costas e deixava os garotos á sós. - Venha, Hidan. E Cecil, creio que nossos cavalos apreciariam a sua presença, principalmente por não serem adequadamente limpos há quase cinqüenta dias – disse Riwulf antes que pudesse ficar longe de mais.

 

Hidan correu e acompanhou os passos de Riwulf, os dois saíram da estalagem dobrando a direita.

Cecil caminhou até a saída lateral da estalagem, que levava até o estábulo. Bateu a porta furioso, então todos que estavam dentro do salão principal da estalagem voltaram a fazer o que estavam fazendo, mas os cochichos daquela manhã não pararam, principalmente com o ocorrido.

 

Hidan e Riwulf estavam na frente de uma grande porta de carvalho pertencente a uma casa maior ainda e de aparência apavorante. Riwulf bateu na porta, uma, duas, três, quatro vezes.

A porta se abriu e Hidan pode ver outra vez o homem estranho encapuzado da estalagem, que agora estava sem capuz e era possível ver seu rosto.

 

O lado esquerdo do seu rosto era parcialmente deformado por uma queimadura, e isso deixou Hidan muito assustado. Hidan percebeu que os olhos do homem eram os mesmos olhos de tristeza e solidão do ladrão da estalagem.

 

_Por que me olha desse jeito, garoto? – disse o homem numa voz assustadora que cobriu Hidan de medo.

 

_Não, senhor! É que... – disse Hidan, mas hesitou – A propósito, eu sou Hidan.

 

_Rhogham, filho de Rhotam. – disse o homem enquanto estendia sua mão à Hidan.

 

Hidan apertou a mão de Rhogham, que o olhava orgulhoso.

 

_Belo trabalho com o porco chamado Gyldor. – disse Rhogham enquanto esboçava um leve sorriso no seu rosto assustador. – Vamos, entrem!

 

Eles entraram na casa assustadora de Rhogham e desceram as escadas para uma sala iluminada por lamparinas e candelabros de aparência também assustadora como o resto da casa. Hidan percebeu-se dentro de uma história, onde Rhogham era o personagem principal.

Flechas de diferentes tipos, arcos dos mais variados e bonitos tipos, lanças, aljavas, objetos que nunca havia visto antes, bestas, madeiras, material para fabricação de flechas, madeira resistente para arcos recurvos, longos e planos, capas de arqueiros, botas, couro para revestimento, tecidos variados, troféus de animais empalhados e muitas outras coisas.

Hidan ficou espantado, era um ambiente realmente maravilhoso que lhe trazia muitas lembranças.

 

_Então este é o pequeno arqueiro, não é, Riwulf – Rhogham fez uma afirmação, enquanto dirigia-se para um baú de carvalho no fim da sala. – Preciso de uma ajudinha sua, Riwulf.

Rhogham abriu o baú, que parecia estar vazio.

Riwulf passou a mão sobre o baú e disse algumas palavras que Hidan não pode ouvir.

Flechas negras apareceram e lotaram o baú.

_Você ainda tem essas, Rhogham! – disse Riwulf

 

Os dois pareciam estar falando sobre algo bem conhecido entre eles, mas Hidan não entendia nada do que estava acontecendo.

 

_Aqui está o seu presente, Hidan – disse Riwulf

 

Hidan timidamente caminhou até o baú e de lá apanhou um bocado de flechas.

 

_Ei ei ei! Todas essas? – disse Rhogham

Rhogham pegou duas flechas do baú e entregou para Hidan – coloque de volta essas, e fique com estas!

 

Hidan pegou as duas flechas e guardou na sua aljava.

 

_Acho que é a hora. – disse Riwulf

 

Rhogham olhou para Riwulf com olhar de aprovação, mas Hidan ainda não conseguira entender muitas coisas sobre o assunto dos homens.

 

_Venha cá, Hidan. – disse Riwulf

 

Hidan se aproximou de Riwulf, que estava com uma flecha comum na mão.

Riwulf passou os dedos sobre a flecha e lentamente pronunciou algumas palavras.

O brilho na flecha era conhecido por Hidan, que já havia o presenciado outras vezes.

 

_Este é um encantamento antigo. Vou ensiná-lo a fazer. Você já sabe como funciona, já usou isso antes no seu treinamento. Tome, pegue. – disse Riwulf entregando a flecha que segurava para Hidan e pegando outra flecha comum.

 

_Observe – disse Riwulf

 

Ele passou seus dedos sobre a flecha e disse algumas palavras que Hidan não pode entender.

A ponta da flecha começou a brilhar.

 

_O feitiço que você precisa recitar se chama Harum. Suas palavras são as seguintes: gy sendra ye harum tar – disse Riwulf explicando.

 

Hidan decidiu tentar.

Passou os dedos sobre a flecha, fechou os olhos e recitou o feitiço.

Quando abriu seus olhos, a flecha ainda parecia comum e nenhum brilho a rodeava.

 

_Concentre-se, você não precisa só dizer as palavras, como também precisa recitá-las em sua mente. Deixe que as palavras percorram sua mente – disse Riwulf.

 

_”Gy sendra ye harum tar” – recitou Hidan passando os dedos sobre a flecha outra vez.

 

O brilho na ponta da flecha era visível.

 

_Você conseguiu, mais rápido do que eu imaginei. – disse Riwulf orgulhoso. – Para reverter, concentre-se nas palavras e passe seus dedos novamente sobre a flecha, mas você não precisa dizer, apenas concentre-se nas palavras.

 

Hidan passou os dedos sobre a flecha e o brilho desapareceu.

 

_Não abuse do feitiço, ou você estará caído antes que possa usar as flechas. – advertiu Riwulf.

 

_Este é o mesmo feitiço que se encontra nas flechas que me foram dadas? – perguntou Hidan

 

_Não há feitiço algum nas flechas que lhe foram dadas, mas elas não são comuns. Eu diria, na verdade, que são mais poderosas do que essas que encantamos. Ela é feita com um material antigo, por isso sua raridade. Ninguém possuí essas flechas neste reino, as que existem estão perdidas, ou nas mãos de Rhogham. – disse Riwulf – não as desperdice!

 

Hidan assentiu.

Riwulf disse novamente as palavras e as flechas do baú desapareceram. Ele foi fechado outra vez por Rhogham.

 

_Bom, vou deixar vocês sozinhos! Eu tenho umas coisas para aprontar antes que chegue a hora do conselho! – disse Riwulf

 

Riwulf saiu e deixou os dois arqueiros às sós. Eles teriam muito que conversar, e Hidan aprenderia muitas coisas com Rhogham.

 

PS:arquivo de 2009

Editado por Henrique Moura
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Não li tudo, comecei do final pro começo e como de sempre está bem escrita e formulada.

Estou lendo agora desde o início pra entender e tals, não deixe os diálogos muitos separadas fica meio cansativo e tals de ler.

 

 

S2 S2 S2 S2 S2

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