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Diary Of A Jew


Fernandinand

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Capítulo 2



O homem de pijama azul

 

Andando, andando... Eu só conseguia pensar em uma coisa neste momento... Descansar. Eu precisava de um descanso, não era toda a criança que conseguiria suportar a dor que sentira naquele momento. Meus pés estavam sujos de lama e sangrando, parecia que meus dedos dos pés iriam cair, as unhas não estavam nada bem. O suor escorria pelo meu corpo, fazendo me arrepiar a cada vez que passava pelo ferimento de tiro. Eu achei uma casa com porta aberta, andei até ela... Ela não estava quebrada, nem destroçada. Só tinha portas, e mais portas, não tinha tapetes, nada. Caminhei pela casa, vagando e procurando algo que poderia servir, entrei nos quatro quartos que havia ali, então, só restava mais um quarto. Caminhei até ele, entrei e vi uma cama. Uma simples capa com um travesseiro de penas e um cobertor de lã. Deitei-me nele, ele era branco e macio, no estado em que eu estava eu poderia sujá-lo, há tempos eu não tinha me deitado numa cama dessas, as penas do cobertor era tão bom que a sensação era de estar flutuando, mas naquele momento eu precisava comer, ou cuidar do ferimento para não infeccionar. Então eu saí daquela cama, fui em direção a porta olhei um lado para outro, então, eu vi, havia uma porta escondendo-se naquele local, uma porta escondida. Talvez servisse para se esconder, ou poderia haver uma cozinha.

Havia uma cozinha. Não tinha nada, panelas e pratos foram quebrados, os pratos estavam em meus pés. O provável foi mesmo que os alemães e soldados nazista tivessem passado por aqui. Ou quem sabe aquele, o Führer.

 

 

• Nota •



Führer = Adolf Hitler

 

Eu procurei por comida, procurei por algo que pudesse colocar em minha boca, que pudesse saciar minha fome naquele momento, e nada... Olhei pro chão, vi um simples tapete querendo esconder algo, levantei o tapete, a poeira contaminou a cozinha, fazendo uma neblina, não dava para enxergar nada, então eu sacudi o tapete e ele foi jogando essa neblina de poeira fora. Debaixo do tapete havia um pedaço de pão. E debaixo do pedaço de pão, havia alguma coisa, uma alavanca ou algo do tipo, que dava para levantar. Eu o levantei e algumas pessoas, estavam lá em baixo. Seus rostos estavam assustado, achando que iriam ser mortos agora, que iriam ser torturados, meu rosto provavelmente também não era um dos bons. Eu estava assustado, eu tinha apenas dez anos.

Eles estavam chorando, pensando que iria lhes acontecer algo.

 

- Bitte tu mir nicht weh. – “Por favor, não me machuque.” – Eu olhei para ele, suas lágrimas estavam quase saindo de seus olhos, sua testa estava embaraçada, ele estava suando muito. Quando uma lágrima ia escorrer de sua face, eu lhes disse.

 

- Não tenha medo, sou apenas um garoto. – Então, ele relaxou e lhe escorreu uma lágrima em seu rosto. Eu desci, e fiquei lá em baixo com eles. Tinha sete pessoas ao lado dele formando um circulo, a curiosidade pela morte é grande, isso eu tinha acabado de perceber. Tinha dois homens, duas mulheres e três crianças, o homem o qual ficou para na minha frente me olhando, ele ficava lá, comovendo as pessoas de que tudo isso iria passar, e que depois iríamos voltar para nossas casas, comer nossas comidas e nos deitar com nossos parentes, dizendo que os amamos. Eu acho que ele era poeta, seus dedos eram calejados, ele estava tocando acordeão, provavelmente ele o adorava, isso o comovia, seus dedos se encaixavam perfeitamente nos teclados, as músicas eram tranqüilas e alegres, todos gostavam de ouvir um homem tocar acordeão, principalmente aquele homem.

Todos estavam juntos, havia pais e mães com seus filhos, mas eu... Eu estava só, não tinha uma pessoa para me acolher e dizer que tudo ficará bem, não tinha uma pessoa para ler uma historinha para mim. Só a morte, ela me acompanhava para qualquer lugar que eu ia. Ela me desejava, e eu desejava alguém que me ame, que me acalme quando estiver em algum lugar inquietante, que esteja do meu lado pra onde eu for. Eu mal sabia que essa pessoa iria chegar logo.

 

Às vezes precisamos nos perder para encontrar a saída. Eu sentia que tinha de sair daquele lugar, algo iria acontecer. Eu os avisei, mandando saírem do porão, eles não saíram... Então eu fui embora. Quando abri a porta para cima, uma luz veio no rosto de todos, eles se encolhiam como se o sol fosse matá-los, então fechei a porta, e todos ficaram novamente no escuro.

 

Comecei a andar na terra, havia marcas de carros, eu não tinha entendido, mas continuei andando. Pensei sobre o que estava acontecendo, eu nunca poderia me apaixonar, nunca poderia ter filhos e uma mulher que me agrade.

 

A noite veio, o sol se pôs, e estava cada vez mais perigoso. Andei o dia inteiro procurando alguma saída, algum lugar para me esconder na noite, procurando uma simples comida para saciar minha fome. Achei algo, a única coisa que dava para comer, a única coisa. Peguei no chão, era uma formiga, talvez duas. As peguei, uma em cada mão e engoli, o gosto era terrível, eu estava acostumado ao feijão da mamãe. Era tão gostoso, mas isso era a única coisa que dava para comer. Acho que saia sangue delas, eu cuspi tudo, elas estavam chorando como se quisessem ser mortas, melhor do que... Melhor do que, agüentar aquela dor.

Eu queria ter a coragem de me matar, para não ter de passar por tudo aquilo, a morte iria vencer, mas não ligo. Algo estava me segurando, algo queria que não fizesse nada comigo mesmo, o tempo viria e tudo iria ficar para trás, num passado.

 

Encontrei uma fazenda, era de noite, não dava para enxergar muito bem, eu só conseguia ver uma árvore, talvez uma ilusão, mas não, era real.

Fiquei observando a árvore que lá tinha, era escuro, não conseguia ver muita coisa. Fiquei a observando por um bom tempo até que eu tive a coragem de tentar chegar mais perto, eu não sabia onde eu estava naquele momento, não sabia se quer se aquilo realmente era uma árvore de fruto.

Eu avancei para cima da árvore, tentando enxergar algo, mas me deparei com um muro alto e com ponta parecidas com de lanças no topo. Onde dava para ficar preso se desse um simples tropeço.

Seria difícil conseguir subir aquilo tudo, mas agora que eu encontrei uma oportunidade de puder comer algo gostoso, eu não poderia desperdiçar aquela chance.

Eu fiquei procurando algum jeito para subir. Então, achei. Havia uma escada parada no canto direito, perto a uma parede que dava a casa. Eu tentei puxar a escada e a peguei, fez um barulho pequeno para mim, mas para o dono daquela fazendo, era um sinal de que alguém tentara roubar algo de sua casa.

A escada de madeira era grande e pesada, eu teria de sair arrastando ela, mas o barulho serie enorme a ponto de que alguém pudesse me ouvir. Então eu resolvi subir ali mesmo, pus a escada em frente ao muro e comecei a subir, parecia não ser tão difícil, mas o que mais era sufocante estava por vir.

Quase no final da escada, as pontas do muro em formas de lança eram afiadas e eu poderia prender minha roupa ali e ficar preso até o amanhecer. Tentei passar minha perna direita primeira, no caso de me prender, pular. Na hora em que fui passa a esquerda para pular, escorreguei. Dois metros de pura queda, eu tentei por a mão no chão para amortecer a queda, mas só fez piorar. Caí em cima de minha mão esquerda e senti um estralo, não conseguia move-la. Primeiro eu achei que tinha torcido, mas depois eu tive a certeza de que tinha quebrado meu braço. Começou a doer, o suor não facilitava muito pro meu lado naquele momento. O suor ficava escorregando pelo meu rosto, passa pelo olho e começava a arder. Eu andei, antes que fosse tarde demais, eram trinta metros até a árvore. Tinha galhos, ratos, baratas e todos os tipos de insetos por aquela fazenda, eu estava somente a cinco metros da árvore quando de repente, uma luz se ascende na cabana. Um homem saía de lá, suas roupas eram azuis com listras vermelhas, e um símbolo nazista no peito. De primeira vista, eu achei que ele era um palhaço, mas me dei conta de que era simplesmente um homem vestido com um pijama. Eu fiquei assustado, pensei em voltar rapidamente antes que ele viesse atrás de mim, mas então seria tudo em vão.

 

O suor estava passando por todo o meu corpo, meu braço esquerdo estava quebrado, eu tinha um ferimento de bala no meu braço direito, eu estava com o corpo dolorido, eu estava cansado. Meus braços pesavam, as pernas estavam parecendo que iriam cair quando eu tentasse correr. Quando eu me pus disposto a correr, eu me virei e tentei correr, quando veio a minha cabeça de que eu precisava de algo para comer, alguma coisa, não importava o que era.

Eu não sabia o que fazer. Fiquei parado, pensando por exatamente um minuto, até que me dei conta de que eu teria de ser corajoso, e rápido.

Virei na direção da árvore e corri, comecei a correr o mais rápido que pude para pegar alguma coisa daquela árvore. Quando cheguei nela, eu vi maçãs, maçãs grandes e suculentas. Pareciam estar deliciosas, pois estavam avermelhadas como sangue. Peguei quatro maças, tentei pegar a quinta, mas ela caiu e o homem com pijama estava saindo de sua cabana, dessa vez ele estava diferente. Deu para perceber o cabelo grisalho, e as feições do rosto não eram simpatizantes. Ele segurava algo grande e pontudo. Era uma arma.

 

Deu para ver a arma de longe, o homem de cabelo grisalho estava a 70 metros da árvore, eu estava assustado, ele corria em minha direção. Eu me abaixei para pegar a quinta maçã que tinha caído da árvore, mas estava com pressa. Minha mão que estava com o ferimento pesava a cada vez mais, a maçã escorreu de minha mão e logo tentei pegar com a outra, não deu muito certo, minha mão pinicou e meu joelho inclinou-se de tanta dor que estava sentindo naquele momento. O homem de cabelo grisalho corria em minha direção a cada vez mais rápido, ele deveria estar a trinta metros de mim quando se agachou e pôs o olho na lampa para mirar em mim. Agora eu estava correndo sério perigo, eu me abaixei e peguei a maçã e sai correndo o mais rápido que pude.

Só tinha um problema. Como eu iria subir o muro de dois metros a qual eu demorei mais de um minuto para subi-la. Eu tinha de procurar algo para subir, alguma escada, uma corda. Eu estava fazendo uma volta procurando algo para puder subir.

A grama estava fazendo-me deslizar, ela estava molhada. Provavelmente porque tinha chovido, mas ela estava me prejudicando a escapar do homem armado. Ele era familiar, não sei de onde eu o tinha visto. Mas juro, que já o tinha visto uma vez. Mesmo que não desse para ver seu rosto direito, eu tinha a certeza, de que já havia estado na presença daquele homem outra vez. A arma dele dava para ver melhor quando ele chegava mais perto. Tinha um metro, um cano longo e era marrom com a ponta prateada. Era um rifle, eu soube que aquilo poderia me matar, e claro, eu não queria isso, não naquele momento a qual eu mataria minha fome com cinco maçãs vermelhas e suculentas.

 

Ainda estava tentando fugir do homem de cabelo grisalho que vestia um pijama azul. Parecia ser de seda, ou algo melhor. Ele usava um broche do símbolo nazista no peito do seu pijama. Deveria ser difícil dormir com algo te espetando a noite inteira.

Eu ainda estava correndo, a grama estava ficando cada vez mais escorregadia e molhada, meus pés estavam pesados e queriam parar para descansar, mas eu estava tentando suportar a dor de uma longa caminhada. Eu sabia que iria ficar ainda pior. Eu sabia que a minha situação, nunca iria melhorar.

O homem estava abaixado, ficou mirando por durante um minuto, até que... Ouvi um barulho. Olhei para trás, e ele estava lá. De boca aberta, esperando para ver o que ia acontecer. Seus cabelos grisalhos davam um toque ainda maior no gesto de seu sorriso maléfico. Ele estava realmente tentando me matar. Mas por quê?! Por uma guerra inútil e injusta.

Eu não tinha percebido nada, só o som que havia perfurada os tímpanos de meus ouvidos. Era forte o bastante para acordar todo o pessoal a mais de um quilômetro dali.

Eu estava irritado, os músculos dos meus braços e pernas estavam cansados e exaustos, estavam pairando sobre a grama molhada. O vento úmido e sombrio da noite não ajudava. Só piorava a cada vez mais, a escuridão dava a impressão de que tudo estava se fechando, tinha gravetos e espinhos espalhados pela grama molhada e úmida, eu estava pisando neles com tanta força que eu já deveria ter uns dez só no dedão do pé.

Mas se eu fosse parar para contar, eu iria acabar sendo morto.

Foi quando eu percebi... Eu havia sido baleado. Minha perna estava sangrando, e com um buraco bem no meio, estilhaçando a minha canela. Eu havia me desequilibrado, estava caindo, e as maçãs estavam voando de minhas mãos e caindo na grama molhada.

Meu corpo havia sido triturado por alguns momentos. Olhei para o homem de cabelo grisalho, e ele estava vindo para mim. Olhei para minha perna baleada, era a perna direita. Bem abaixo do joelho, acima do calcanhar.

Estava doendo demais, a ponto de eu querer me matar. Mas eu sabia que se o homem de pijama me pegasse, seria o meu fim. Ele estava a apenas dez metros de distância, ele estava segurando sua arma firme. A cada passo que ele dava em minha direção, eu sentia que ele iria atirar em minha cabeça e estourar o meu cérebro judaico.

Eu estava a ponto de lhes implora por perdão. Mas não iria adiantar de nada. Então, ele pôs a arma em cima de minha cabeça, apontando para os pequenos fios que havia perto da minha orelha, e começou a falar.

 

- Vocês judeus nunca aprendem mesmo, ein?! Vocês já deveriam ter sido exterminados há muito tempo. Mas por conta de alguns imprestáveis, isso não deu certo. Mas graças ao nosso Fuhrër... Está tudo indo como planejado. – O homem falou com um tom de voz nada agradável, ele olhava para mim com um sorriso malvado. Seus dentes estavam amarelados e com algumas partes pretas, e eram afiados.

- Por favor, não me mate. Posso lhes ser útil. – Implorei. Eu senti como se fosse as minhas últimas palavras. Mas então, ele abaixou a arma.

- Continue menino judeu. – Respondeu o homem.

- Posso lhes ser útil nas tarefas de casa, e outras coisas. Com tanto que não me mate, ou me maltrate. Mas por favor. – Repliquei, supliquei. Mas havia parecido que nada havia adiantado. Ele apontou a arma novamente para meu queixo, ele ia apertar o gatilho que fazia a arma disparar, e tecnicamente, me matar. Mas havia acontecido algo, ele puxou o gatilho, mas nada saiu.

Então, ele olhou para mim com uma cara de ódio e raiva, e também com um pouco falta de sorte. Pelo menos para o lado dele.

Ele estava me encarando. Provavelmente ele estava pensando no que deveria fazer comigo. Talvez, me arrastar para sua casa e me esfaquear e depois jogar no rio. Ou simplesmente dar-me para os soldados que haveriam de passar em algumas semanas.

- Levante-se, seu imundo. Eu deveria matá-lo agora mesmo. Mas... – Falou o homem de pijama azul. Mas nada a mais saiu de sua boca. Ele estava me segurando pelo braço ferido – eu o arranjei quando estava tentando escapar de alguns outros soldados nazistas – e puxando-o para cima, como se quisesse que eu simplesmente subisse.

Tentei, mas não deu muito certo. Então, eu levantei meu pé esquerdo, para a minha sorte, ele não havia sido ferido, caso o contrário ele deveria estar me jogando num de seus poços agora.

 

Estava de noite, eu havia sido capturado pelo homem de pijama azul. Ele estava me arrastando para dentro de alguma cabana. Não parecia ser sua casa, pois ficava longe do lugar de onde ele havia saído.

A luz estava acesa. Tinha moscas e mosquitos por todo o lugar. Fedia a estrume de cavalo. Mas eu teria de suportar aquilo mesmo. Afinal, era melhor do que ser torturado.

- Eu não irei te matar. Não agora... Você poderá me servir de alguma utilidade. – Falou o homem de pijama azul. Eu praticamente deveria içar agradecido por não me matar, eu acho.

 

Ele desligou as luzes da sela a qual havia me deixado. Estava tudo escuro, o cheiro e o som dos cavalos não eram os melhores a qual eu queria estar presente. Mas eu teria de suportá-los. De qualquer maneira, eu estava preso.

Ouvi um barulho de porta se fechando. Provavelmente ele havia fechado tudo para que eu não fugisse.

Eu não tinha escolha, tinha que ficar lá. Quieto, na escuridão.

Arrumei um pouco de feno, e fiz um tipo de travesseiro para me deitar. Eu estava cansado e totalmente dolorido. Agora eu havia dois ferimentos de bala e um braço quebrado. Não era um momento muito bom de estar. Então, dormi.

 

 

Editado por iToouch
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