[ChL Design] Entrevista Ricardo Antunes

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Ricardo Antunes, designer e ilustrador, nasceu em São Paulo em 1965 e trabalha com publicidade desde 1982. Foi professor na Escola Panamericana de Arte entre 1985 e 1990. Desde então, instalou-se em Lisboa, de onde trabalha com agências no eixo Lisboa – São Paulo.

 

Em 2007 escreveu e organizou o importante e necessário Guia do Ilustrador e também é o criador e editor da primeira revista online de ilustração no Brasil, a Revista Ilustrar, onde vocês podem conferir entrevistas e o trabalho de muita gente bacana.

 

Abaixo você confere a entrevista na íntegra exclusivamente para o Chocola Design.

 

Chocola Design: Em que momento da sua vida você parou e disse: “Eu quero ser ilustrador”?

 

Ricardo Antunes: Não houve um momento em que isso aconteceu, é algo que eu sempre trouxe dentro de mim… desde que me conheço por gente sempre desenhei, e as recordações mais remotas que tenho da minha infância sempre foi segurando um lápis de cor. Quando eu era molequinho dizia que queria ser desenhista, bem genérico mesmo, sem saber exatamente em que área trabalhar. Depois aos 14 anos fui fazer um curso de desenho básico numa escola de arte em que haviam vários cursos, e para o pessoal mais avançado havia o curso de ilustração. Quando fui ver esse pessoal estudando eu disse “É isso!”. Me identifiquei na hora e virou paixão para o resto da vida.

 

 

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Creio que a grande maioria das pessoas que trabalham nessa área tem suas referências e pessoas em quem se inspiram. Você tem essas referências? Quem são?

 

RA: São muitos, e é difícil listar todos, até porque todos os dias entra gente nova na fila… rsrsrs… mas acho que as grandes referências começaram quando eu era molequinho e roubava as revistas Playboy do meu irmão mais velho. Fala sério, para um molequinho ter uma Playboy na mão é tudo de bom! rsrsrs. Além de eu ficar encantado com as mulheres, ficava encantado também com as ilustrações, porque naquela época a Playboy investia pesado em ilustrações de alto nível. E foi talvez aí que comecei a prestar atenção em certos artistas, onde alguns, muitos anos depois, acabariam se tornando grandes amigos meus, como é o caso do Gilberto Marchi, e de outras publicações artistas que eu admirava muito e que também viraram amigos foram o Jayme Cortez, Manoel Victor Filho, Paulo de Andrade, e dos mais recentes, o Hiro, Shumam, Orlando, Kako… são muitos, muitos nomes mesmo. Benício e Carlos Chagas praticamente fizeram parte do meu crescimento (por exemplo, quando era moleque, adorava montar navios e aviões da Revell, onde a maior parte das tampas eram ilustradas pelo Carlos Chagas. Eram tão incríveis que acabei guardando a maioria delas, que tenho até hoje… já os aviões e barcos afundaram… rsrsrs).

 

Mas também desde criança adorava os pintores clássicos, e tenho uma predileção toda especial por todos os impressionistas, por William Turner, Veermer, Edward Hopper, Egon Schielle, Julio Pomar, etc.

 

Sem falar dos grandes ilustradores: Sergio Toppi, Moebius, Frazetta, Gil Elvgren, Milo Manara, etc.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Como você faz quando chega a hora de sentar e começar um novo projeto? Qual o processo criativo?

 

RA: Olha, o processo criativo longo e estudado é muito bonito, mas em termos práticos tem que se trabalhar rápido porque como os prazos são quase sempre muito curtos então não dá para se perder tempo, infelizmente. No meu caso específico eu trabalho assim: recebo o briefing e, conforme converso com o cliente, vou visualizando a cena… normalmente aparece a imagem como se fosse um flash já pronta na cabeça, e precisa estar toda pronta na cabeça, sem dúvidas. Daí é esboçar, ter a aprovação do cliente, fazer pequenos acertos e finalizar. Tudo rápido, vapt vupt, até porque alguns trabalhos aparecem no final do dia para serem entregues no dia seguinte de manhã, daí já viu.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Todos os profissionais de criação enfrentam, uma hora ou outra, o temido bloqueio criativo. Como você lida com ele?

 

RA: Não dá, não pode ter. Com prazos tão apertados a coisa tem que funcionar, é para isso que somos pagos, para oferecer soluções e não problemas. Com o tempo e com a experiência tudo vai ficando mais fácil e fluído, mas muitas vezes bloqueio criativo pode acontecer por um briefing mal passado e/ou com pouca informação… mas no final tudo acaba saindo, afinal cumprir prazos é sagrado.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: No Chocolá Design, recebemos muitas perguntas de pessoas que estão começando na área, sempre querendo saber onde procurar, onde fazer cursos e como seguir na carreira. Que dica você daria a elas?

 

RA: Leiam o Guia do Ilustrador. Apesar do nome, o guia não é um guia para aprender a desenhar, é um guia de orientação profissional, e apesar do nome (mais uma vez) ele serve para todo profissional free lancer que leva um portfolio debaixo do braço e vai bater na porta de clientes, ou seja, serve para ilustradores, designers, web designers, fotógrafos, arquitetos, quadrinistas, etc. Podem baixar o guia de graça em: www.guiadoilustrador.com.br

 

E no caso específico dos ilustradores, leiam também a Revista Ilustrar, a quantidade de informações compartilhada de forma gratuita é enorme e sem comparação. E podem baixar todas as edições da revista em: www.revistailustrar.com

 

E também podem acompanhar a Revista Ilustrar pelo Twitter, onde uma montanha de informações de qualidade são divulgadas lá.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Qual sua formação academica e que cursos você tem no seu curriculo?

 

RA: Não cheguei a fazer faculdade, porque na época não existia nada nem próximo de ilustração (que era o que eu queria fazer de verdade), então fui fazer o vestibular para Artes Plásticas, não entrei por 4 pontos e fiquei muito puto… rsrsrs… daí desencanei. No entanto, dos 14 anos em diante já fiz tantos cursos técnicos de especialização que somados dão mais ou menos duas faculdades. Cheguei a estudar até sumi-ê, pintura tradicional japonesa, com a imensa sorte de ter tido como professor o Massao Okinaka, o grande mestre da arte que trouxe para o ocidente todo o conhecimento.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Se você pudesse comparar sua carreira à um chocolate, qual seria?  Porque?

 

RA: Adooooooooooro chocolate, então se fosse comparar minha carreira com um chocolate seria um chocolate com 75% de cacau. Por ser mais puro, mais intenso, as vezes meio amargo mas muito mais saboroso… rsrs

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Como você vê a área de design e ilustração no Brasil? Você acha que está caminhando para o rumo certo?

 

RA: O Brasil tem artistas extraordinários dentro do campo das artes visuais, com um enorme reconhecimento no exterior, isso é um fato. E continua crescendo cada vez mais… as vezes mais, as vezes menos, mas sempre crescendo. Acho que o grande problema do mercado não é o design ou a ilustração, mas sim aqueles que contratam designers ou ilustradores. Tem surgido toda uma geração de pessoas em cargos fundamentais que envolvem a contratação de designers e ilustradores (e fotógrafos), mas muitas são pessoas sem a menor condição para esse cargo, sem a menor formação ou conhecimento visual. Como é que alguém vai contratar um ilustrador para fazer uma ilustração quando essa pessoa nem sabe o que é uma ilustração? E uma pessoa que as vezes é art buyer de uma grande agência de publicidade, ou seja, uma peça chave para que um trabalho visual saia bem feito, mas pessoa essa sem a menor competência para conduzir o processo, onde acha que apenas pagar pouco é suficiente para fazer um bom negócio e trabalhar bem.

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Qual foi sua maior motivação para fazer o Guia do Ilustrador?

 

RA: A maior motivação foi justamente a mais completa falta de formação e informação disponíveis no mercado para orientar a nova geração de ilustradores que estavam explodindo no mercado e que apareceram como cogumelo com a banda larga da internet. Com a banda larga ficou fácil qualquer um aparecer, mostrar um portfolio, divulgar na internet e sair procurando trabalho, mas a esmagadora maioria dessa nova geração fazia tudo de improviso, sem ter a menor dica de como se portar, como ser um profissional… era (e em parte ainda é) tudo muito amadoresco. E isso afetou diretamente os valores das ilustrações, que de repente desabaram por haver toda uma geração cobrando valores infinitamente mais baixos (isso quando simplesmente não cobram), sem falar no relacionamento com cliente, com o trabalho em si, com prazos, com documentação, com direitos, etc. Então, conversando com um grupo de amigos, acabamos sintetizando boa parte da sinformações mais importantes no Guia. Mas muitas outras informações ficaram de fora, para evitar ser um guia enorme e chato, então está para vir o Guia do Ilustrador 2 – A missão! rsrsrsrs… aguardem…

 

©Ricardo Antunes

 

CD: Como você sente o mercado editorial em relação à Revista Ilustrar? Existem planos de levá-la à impressão?

 

RA: A Revista Ilustrar é um projeto que é bastante claro: levar informação de qualidade a todos que gostam de ilustração, profissionais ou não, de forma gratuita, incentivando o profissionalismo de alto nível. Não é qualquer um que participa da revista, os convidados são escolhidos a dedo, mantendo dessa forma um alto nível de excelência profissional. E tudo isso de graça. No projeto da Revista Ilustrar está previsto que a revista se mantenha gratuita com suas edições bimestrais, mas haveria uma edição especial impressa por ano, coisa de colecionador. Por questões pessoais não deu para fazer isso antes, mas esse ano sai a revista, que já está em produção. E junto com ela a Revista Ilustrar vira editora e passará a publicar também livros de arte de vários de seus participantes, onde o primeiro será o Benício, e a seguir o Hiro. Portanto aguardem, esse ano de 2010 muita coisa boa vai acontecer….

 

©Ricardo Antunes

 

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obs: todas as imagens são de Ricardo Antunes e não poderão ser usadas por outras pessoas sem sua autorização expressa.

 

Entrevista Ricardo Antunes is a post from: Choco la Design

 

 

 

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