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A Ascenção Do Arqueiro


Henrique Moura

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Há um tempo atrás eu postei dois capítulos deste conto que estou fazendo, e parado por um tempo. Devido a inatividade da seção, eles foram abandonados e eu os decidi remover. Agora que a seção está mais estruturada, creio que o cenário pode mudar um pouco. Estarei postando o prologo e dando continuidade a postagem assim que possível. Eu já escrevi oito capítulos, e estou parado há alguns meses. Pretendo retomar as escritas quando tiver tempo de sobra. Sobre o espaçamento: Eu estou escrevendo num software, e quando passo pra cá simplesmente cria um espaçamento extra entre as linhas, que na minha opinião deixa desagradável ao leitor. Sinceras desculpas.

 

 

 

 

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A guerra é uma obstrução natural. O homem é feito para a guerra, assim como as flechas são feitas para o arco. Os tempos de guerra não eram privilégios de nenhuma nação, e não era diferente para Brudghanm, província do Império de Dalagiwan. Como Brudghanm era a maior cidade do Império, era constantemente atacada. Cidade larga, o que facilitava a fuga dos aldeões e camponeses que a habitavam, contava com postos de refúgio nos pontos sul e sudoeste, que tinham sido construídos pela Corte.

 

Os postos tinham uma construção principal, dentro dessa havia um enorme salão com uma mesa extensa rodeada por cadeiras, logo à frente a cozinha para fornecer alimentos aos aldeões e camponeses refugiados. Na construção ao lado havia quartos, cada um com cinco camas beliches e dezesseis camas, além de um vago espaço para sacos de dormir. Candelabros presos às paredes próximas as janelas para que houvesse uma ampla iluminação nos quartos. Ao total, eram quarenta e cinco quartos nessas condições. Cada quarto era guardado e vigiado constantemente por soldados do Império. Nas outras três construções estavam os militares, todos que não eram aldeões ou camponeses que podiam lutar estavam reunidos nessas construções, para a combinação de estratégia, além de equiparem-se com armas e vestimentas especiais, como casacos de couro e armaduras.

 

A construção de produção emergencial fazia todo o tipo de material que seria utilizado para a defesa dos postos, desde cintos de couro e ferrolhos para os portões enormes até espadas letais de lâminas finas e cortantes. A outra construção era onde ficavam os escritórios dos generais, onde também eram repassadas cartas aos mensageiros e pombos-correios, que eram treinados especialmente para ocasiões como essas, enviavam mensagens ou pedidos de reforços às outras cidades do Reino de Dalagiwan.

 

Os postos eram construídos especialmente para a defesa, era impossível se infiltrar sem antes enfrentar a barricada de segurança com as flechas certeiras dos Arqueiros do Reino.

Um muro enorme, de exatos seis metros de altura, com uma torre de observação a cada cem metros medindo oito metros de altura, essas torres também eram largas e fechadas, havia quatro aberturas frontais de sessenta centímetros por setenta centímetros, onde os arqueiros atravessavam com suas flechas para defender o posto. As torres estavam atrás do muro, dessa forma era quase impossível atravessar o portão sem ser atingido.

 

Caso o inimigo conseguisse resistir a isso e ter entrado, teria de enfrentar um corredor largo com também outras torres de observação, com aberturas menores. Se isso não fosse o bastante para parar o ataque, à frente havia outra barricada, com caldeirões de óleo quentes prontos para tostar a resistência sobrevivente.

Se ainda sim, o exército inimigo conseguisse passar, blocos de concreto seriam colocados frentes ao portão do pátio, antes das construções de abrigadouro. Era realmente uma fortaleza difícil para os inimigos. Construída pelo general Thomas Gaidogwen, ganhador de três medalhas de condecorações Imperiais que foram entregues pessoalmente pelo Rei, foi especialmente projetado para o ato final de uma guerra, quando a cidade entrasse num estado de calamidade e fosse completamente invadida.

 

Brudghanm contava com o maior e mais preciso exército. O exército estava dividido em tropas e brigadas, que eram divididas em grupos de guerra.

 

Cada grupo de guerra era formado por seis arqueiros, vinte guerreiros de espada e dez cavaleiros armados com lanças e cavalos equipados com armaduras de ferro.

 

Uma brigada era formada por trinta grupos de guerra, sob ordem do Barão.

 

Uma tropa era formada por quinze brigadas, sob ordem do Cavaleiro de Guerra.

 

Cinco tropas formavam um exército, sob ordem direta do Rei.

Ao todo, oitenta e um mil homens formavam o exército de Brudghanm, número que crescia a cada dia.

 

Mas é claro que havia variações destes grupos conforme a necessidade do Império de atacar ou se defender.

 

Isso tudo, além das estratégias de guerra utilizadas, fazia de Brudghanm a maior cidade e com a maior força de guerra do Império de Dalagiwan.

 

Há dois séculos, as tropas do Rei Wrothrach invadiram a cidade com milhares de soldados, as forças de defesa de Brudghanm foram derrotadas facilmente, nesta mesma época as tropas de Brudghanm estavam focadas no território inimigo. O que sobrou das forças foram obrigadas a irem aos postos de refúgio, onde já estavam os batalhões especializados na segurança dos postos.

Quando destruíram a cidade, as tropas de

Wrothrach evacuaram, quando souberam que estavam sendo atacados.

 

 

Aust Alain Hidan era o único filho do casal Wulfalt Hidan e Arael Alain Hidan.

Destacado por suas orelhas pequenas e pele pálida, com seu cabelo ruivo de um contraste alto.

 

Hidan, como era chamado pelas pessoas próximas, era um jovem de dezesseis anos, cabelos longos e vermelhos, pele branca e pálida, dedos longos e afinados, testa franzida por natural, cinqüenta e seis quilos, um metro e setenta..

Os pais de Hidan eram camponeses há muito tempo, tinham pouca da parte das terras da província e daquilo fazia-se vivos.

 

Ele se destacava na Escola de Guerra, era sempre o número um com arcos.

O tiro com arco e flecha, apesar de ser a maior e melhor estratégia de guerra, fazia falta em Dalagiwan. Dos poucos guerreiros que se formavam na escola de guerra, quase nenhum seguiria o caminho de um arqueiro.

Era extremamente difícil manejar um arco de maneira mortal. O treinamento de um arqueiro era duro e na maioria das vezes muitos desistiam antes de concluir, talvez isso explicasse o fato de terem tão poucos arqueiros. Os tutores dos arqueiros não eram vistos há dois séculos, desde a Guerra Dos Doze Cavaleiros, fazendo dos arqueiros uma organização quase extinta.

 

 

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Despertou, respirava ofegante.

Sentia o lençol de sua cama molhado de suor, sua camisa presa às costas significava que o sono não fora bom.

 

A sua garganta queimava, a febre tomava conta do seu corpo. Delirava.

Caiu da cama e por azar em cima de sua espada, que rasgou suas estranhas como se fosse um pedaço de pergaminho. A forte dor o fez desmaiar.

 

Acordou em seu quarto.

Piscou os olhos e lembrou-se do que tinha havido.

Aquilo fora um sonho, e então ele voltou a ler os livros dos arqueiros.

Algum tempo depois, jogou o livro na direção da escrivaninha e abriu a porta de seu quarto. Desceu as escadas e saiu de casa. Rumou ao sul. Parou perto de uma casa simples e pequena, aparentemente de três cômodos.

Paredes de taipas e telhado de palha, típica casa de aldeões pobres. A entrada da casa era mais à frente.

Chegou frente à pequena casa.

Bateu três vezes na janela da frente. Nada. Bateu novamente, e o silêncio fora ouvido de novo.

Resolveu então ir ao outro lado da casa. Bateu na outra janela.

O cricrilado dos grilos predominou por um instante, até que uma voz foi ouvida do outro lado da janela.

 

_ Hidan? – a voz amigável sussurrou

Era Cecil, seu melhor – e único - amigo.

_Cecil, você precisa vir comigo - sussurrou Hidan

_Ora Hidan, já sabe que horas são? Se formos pegos em qualquer lugar, podemos levar uma boa surra!

_É urgente, você vem? – ele disse, insistindo.

_Eu te odeio por isso Hidan! Dê-me um instante. – Cecil cedeu.

_Traga suprimentos, como se fôssemos acampar. – Sussurrou Hidan, antes que pudesse perder Cecil na escuridão da casa.

 

Por cinco minutos, apenas a escuridão era vista, até que o rosto de Cecil foi surgindo no meio do negro.

Jogou para Hidan uma mochila, uma capa e uma tocha molhada com óleo e duas pedras especiais que eram usadas para fazer fogo. Pulou para fora logo em seguida.

 

_E então, o que acontece? - Perguntou Cecil

_Enquanto eu lia um livro eu tive um sonho acordado, foi meio esquisito. Agora pretendo esclarecer as coisas numa cidade citada nesse livro. – Explicou Hidan, pacientemente.

As palavras de Hidan foram sufocadas pela mão de Cecil, que logo demonstrou uma expressão de pânico.

Jogou-se no arbusto debaixo de sua janela e puxou Hidan junto consigo, escondendo-os subitamente.

 

_Mas que droga de arqueiro você é, que não consegue ouvir passos de rastreadores há alguns metros de distância? – disse Cecil

 

Hidan então abriu um pequeno espaço no arbusto espinhoso e percebeu que à frente estavam três guardas rastreadores, do tipo que rondavam a cidade à noite e não deixariam ninguém atravessar os portões – seja de dentro ou de fora.

Hidan lançou um olhar surpreso para Cecil, seguido de uma triste expressão por não ter adivinhado. Ele era um arqueiro, e perceber as coisas ao seu redor era fundamental.

 

_Você precisa ser um bom observador, Aust! – disse Cecil – Você precisa sentir as coisas ao seu redor, ou você correrá grandes riscos!

 

Os guardas haviam sumido do campo de visão dos garotos.

Eles pularam para fora do arbusto, e enquanto retiravam os pequenos galhos e folhas que ficaram presos em suas roupas, Cecil riu baixo, quase sufocando o riso:

 

_Arqueiro, você... – Antes que pudesse terminar a frase foi puxado por Hidan, e então os dois saíram da cidade pelo portão sul. Não tiveram problemas algum para passar pelo portão, pois de acordo com Cecil, os guardas estavam longe.

 

_Espere. – sussurrou Hidan - Espere por mim aqui, Cecil.

 

Hidan voltou à cidade, e Cecil ficou confuso.

Sentou perto a uma pedra grande, encostando-se a ela e relaxando os músculos cansados do treinamento de espadas na Escola de Guerra, esperou.

Minutos depois Cecil foi pego por uma brisa que o fez estremecer. Um ar sombrio pairava sobre ele, e tudo que a noite iluminava escureceu aos seus olhos.

Ele fechou os olhos e tentou sentir o que estava ao seu redor. O ar estava provocando calafrios em seu corpo, a noite cinzenta e escura o deixava mais assustado. Ele tentou relaxar, mas não conseguiu, então aguardou.

Treze minutos já haviam passado desde que Hidan havia retornado a cidade, e ainda não tinha voltado.

O caminho que levava a cidade não demorava mais de cinco minutos até ser completa.

Cecil sentiu algo quente perto de seu rosto, e cautelosamente se pôs a virar.

Um bafo forte e mal cheiroso ele sentiu, o que o fez espirrar simultaneamente.

 

Era um animal branco semelhante a um tigre.

Tinha dentes duas vezes maiores do que qualquer tigre, seu pelo espesso eram liso e resistente. A face cinzenta, os olhos vermelhos, a boca enorme e o tamanho faziam daquilo uma criatura assustadora.

 

Ele foi se arrastando pelo chão tentando se afastar do animal, mas foi inútil. As garras da criatura o agarraram e estavam arrastando-o para a floresta, quando rasgou sua calça e rastejou rapidamente para frente. A criatura veio novamente e rapidamente se preparou para abocanhá-lo.

A criatura assombrosa abriu a boca. Cecil fechou os olhos. Detrás das florestas podia se ouvir um zumbido, forte e agudo, que logo foi se tornando grave e cada vez mais alto.

O som foi em direção a criatura. Atingiu a fera na cabeça, mas isso só deu tempo para que Cecil pudesse levantar-se. A flecha bateu nos pelos do monstro como uma agulha contra uma parede.

Cecil rapidamente correu em direção à floresta. Ouviu novamente o zumbido e se jogou contra o chão, outra flecha passou pela cabeça de Cecil e atingiu a perna da criatura. Ele mancou, mas isso não o impediu que corresse em direção a Cecil outra vez.

Rugiu forte e despertou atenção da cidade.

Por sorte, os pelos da criatura eram brilhosos.

 

Os postos de observação monitoravam as entradas e as vias que davam espaço as carroças quando na luz do dia. A criatura foi vista por um dos vigias, que com precisão realizou um disparo em direção a criatura. A flecha do vigia atingiu a criatura e a derrubou, outro rugido foi ouvido e por fim o silêncio. O vigia observou o local por um instante e virou-se para olhar o outro lado da estrada.

Quando voltou a olhar para o campo onde a criatura estava caída, ela não estava mais lá.

 

Os sussurros de dentro da floresta começaram.

Hidan havia disparado aquelas duas flechas, embora de forma imprecisa, ajudou a salvar Cecil.

 

_Hidan, maldito! Eu poderia estar... – Antes que Cecil pudesse completar a frase, viu o leve aceno de mão de Hidan, que indicava que Hidan não queria ouvi-lo.

Hidan suspirou, e logo depois se pôs a rir de Cecil.

Cecil, apesar de jovem, era um cavaleiro aprendiz, e sabia pelo menos como empunhar uma espada e manejá-la destrutivamente.

Vê-lo, ali e agora, agonizando de medo e indefeso, não agradava Hidan.

Hidan carregava outra mochila, e dela saia uma lâmina que refletia a luz que provinha da lua naquela noite que já não estava mais cinzenta.

Tirou a mochila do ombro e a colocou no chão.

Enfiou a mão na mochila, puxou-a uma espada e jogou na direção de Cecil.

Cecil levantou o braço e pegou, numa manobra ousada e perfeitamente executada, enfiou-a na bainha que estava vazia presa à sua cintura.

 

_ Onde conseguiu isso? - Perguntou Cecil, um tanto quanto curioso, apesar de ainda estar assustado com tudo o que havia ocorrido.

 

_ É da minha família, ela foi usada há dois séculos por meu bisavô na Guerra Dos Doze Cavaleiros. Ele morreu com esta espada em mãos.

Ele deu o nome de Bone a ela. Ela foi forjada por um dos Doze Cavaleiros. Agora é sua, cuide bem dela.

 

Cecil examinou a lâmina e não rejeitou o presente.

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A estrada para Oghalmoth era coberta por florestas de extrema densidade e com muitas montanhas, como Hoehan, Jenereth, Sendovan e Kolinahr.

As pedras dificultavam a passagem e o lagos intervinha na caminhada.

 

_ Cecil, vamos acampar aqui. – Hidan disse, apontando o local aonde os jovens descansariam.

 

Eles montaram o acampamento próximo aos arbustos da estrada, para que não corressem o perigo de dormir na mata fechada e nem ficassem tão próximos da estrada ao ponto de serem vistos.

Rapidamente uma fogueira estava acessa, e os jovens adormeceram ao estalar das brasas.

 

Hidan acordou na hora que antecedia os primeiros raios de sol. Acendeu uma tocha na fogueira e tentou iluminar o local.

O ar gelado da floresta ao lado dos garotos estava cada vez mais intenso. O vento soprava forte.

Aos poucos arrastava os suprimentos para dentro da floresta.

A tocha que Hidan segurava apagou.

Cecil acordou assustado.

 

Ouviu-se um grunhido vindo de dentro da floresta. Logo se silenciou.

Os atentos olhos de Hidan focavam-se na floresta, precisamente no lado do grunhido.

Foi ouvido novamente, e como num padrão seqüencial, silenciou-se.

Hidan arregalou os olhos. Cecil o olhava sem entender. Segurou a espada.

Novamente, o grunhido. Parou.

Hidan segurou seu arco e puxou uma flecha da aljava. Esperou de olhos atentos.

 

O grunhido novamente voltou, como se numa sequência repentina.

 

Ele soltou os dedos que segurava a flecha e ela foi à direção da floresta.

Um barulho, a flecha atingira algo.

Um corpo escuro coberto por uma armadura velha e enferrujada caiu à alguns metros dos garotos.

 

_Um Orc – Hidan comentou, quase num sussurro.

 

Cecil preparava-se para dizer algo, mas Hidan levantou os dedos pedindo silêncio.

 

Os olhos de Hidan ainda estavam direcionados ao lugar da onde vinha o corpo. Sequer piscou.

 

_O que há Hidan? Vamos continuar a descansar.

_Algo está errado, Cecil. Orcs não caçam sozinhos. E essas áreas são protegidas pelo

Império, eles não deveriam estar aqui.

 

Grunhidos foram ouvidos de toda parte da floresta, repentinamente, sem nenhum intervalo.

 

Hidan arrepiou-se.

Ordenou Cecil a correr com sua espada.

Os dois voltaram, fazendo de forma contrária caminho percorrido.

Chegaram ao lago mais próximo, cansados e com respiração forçada.

Hidan puxou três flechas e colocou todas juntas nas cordas do arco.

Esperou ter visão sobre os Orcs e

soltou as flechas, mas nenhuma atingiu os alvos.

Cecil avançou, golpeou na cabeça um Orc, e logo vinha uma flecha atrás de seu ombro, que atingira o Orc da frente.

Outro Orc se aproximou e foi morto pela espada de Cecil.

Agora, um grupo de aproximadamente cinco Orcs avançaram. Era impossível atirar nos cinco ao mesmo tempo, ou até mesmo golpeá-los com a espada.

 

_Volte! - Gritou Hidan

 

Cecil se virava para correr, quando foi atingido por um machado arremessado por um dos monstros.

Atingira-o nas costas.

 

Por um momento, Hidan soltou o arco.

Tudo parecia estar sumindo.

As árvores, os Orcs, o lago.

O único ponto de visão que Hidan tinha era de Cecil.

Os sons se prolongaram na cabeça de Hidan, que olhou nos olhos de Cecil, mesmo de longe, podia ver os olhos de seu amigo, enchendo-se de lágrimas.

Aos poucos, foi voltando à si e recolheu o arco do chão.

Jogou a aljava no chão espalhando as flechas, e recolhendo uma a uma disparava atingindo cada Orc à sua frente.

Hidan segurou a última flecha. Esticou o arco de uma maneira extrema e mirou.

O alvo era o Orc que atingira Cecil.

Soltou a flecha, e a precisão foi impressionante.

A flecha atingiu a cabeça do Orc e atravessou o elmo.

O Orc grunhiu paralisado. Caiu no chão como uma pedra. A haste que atravessara a cabeça bateu no chão e a flecha se despedaçou dentro da cabeça da criatura.

Hidan largou o arco.

Sentia seus braços como duas rochas pesadas.

As suas pernas enfraqueceram e ele se percebeu caindo.

Caído, seus olhos direcionados ao lago podiam enxergar o brilho do sol refletindo na água cristalina. O lugar esmaeceu-se, seus olhos ficaram pesados e o cenário começou a ficar negro e desaparecer, logo o escuro se apresentou por completo.

Ele acordou mais tarde.

Um velho barbudo o olhava.

Cabelos cinzentos e barba branca como neve, vestia uma túnica marrom que ia do pescoço até os pés. A capa que ele usava enrolava-se e arrastava no chão.

Usava um cinturão de couro com algumas utilidades presas, como uma pequena corda e uma faca de caça, duas pequenas bolinhas de aço com pontas afiadas e cortantes e uma bolsa presa na cintura, cujo conteúdo desconhecido.

Usava por dentro uma malha de couro, que subia e enrolava seu pescoço como um cachecol das damas do Reino.

As suas botas macias de couro o levaram até o outro lado do pequeno quarto em que Hidan se encontrava.

 

_ Mas... – Hidan balbuciou – E os Orcs? Havia muitos...

_Eu os impedi. – sussurrou o velho, enquanto analisava um pequeno frasco de vidro encontrado na estante de madeira empoeirada do outro lado do quarto – Você sabe, Orcs são malignos, e eu não simpatizo com eles.

 

Hidan tentava digerir aquelas palavras, como, um velho de aparência cansada poderia derrotar aquilo, enquanto Cecil perdeu a vida lutando contra apenas alguns.

 

Lembrou-se disso, e sua cabeça doía.

Preparava-se para perguntar sobre Cecil, mas antes que pudesse mover os lábios, o velho retrucou.

 

_Seu amigo está bem – disse ele, direcionando seu olhar ao lado esquerdo do quarto, onde por meio de uma janela dava visão para o lado de fora – Olhe.

 

Hidan viu Cecil. Não só estava vivo como também estava em ótima aparência, de pé e treinando num alvo de madeira, com a espada que Hidan o havia presenteado.

 

_Como? - ele perguntou

_Ele estava vivo quando eu os encontrei caídos, ele carregou você até aqui – disse o velho homem.

 

Hidan se decepcionou consigo mesmo.

Como ele poderia ter perdido tão rapidamente a fé em seu colega, na sua sobrevivência. Um golpe e ele pensou que Cecil estava morto.

O velho afagou a barba e analisou o olhar de Hidan.

 

_Você parece decepcionado garoto – disse o velho enquanto analisava outro dos frascos que estavam na estante – Tome aqui, beba isso.

 

O homem jogou o pequeno frasco para Hidan, cujo liquido era desconhecido.

Hidan esticou o braço para pegar e sentiu-o dolorido.

Abriu o frasco e posicionou o gargalho na altura da boca.

Fez uma leve reflexão e tomou.

Retornou o olhar para o homem, agora de pé ao seu lado.

 

_Qual o seu nome? – ele perguntou agradecido.

_Riwulf – respondeu.

_Riwulf de quê? – Hidan perguntou confuso.

 

_Apenas Riwulf – o velho voltou a responder, abaixando suas sobrancelhas grandes por cima de seus olhos e direcionando-os a Hidan, reafirmando a primeira resposta - Riwulf.

 

Hidan pensou, e concluiu que não era agradável fazer a mesma pergunta duas vezes.

Levantou-se da cama e abraçou o homem, como que num ato de agradecimento.

 

_Obrigado, Riwulf.

 

 

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Algum tempo havia passado desde o incidente.

Cecil e Hidan conversavam muito sobre o ocorrido, junto à presença de Riwulf.

 

_ Que tal você ir caçar algo, Hidan? – Riwulf disse já íntimo do garoto – Estamos todos com fome!

_ Uma boa idéia – Hidan respondeu – Você vem?

_ Se Cecil não se importar. – Riwulf olhou para Cecil.

 

Cecil fez olhar de aprovação e relaxou na cadeira enquanto limpava Bone das pequenas farpas de madeira.

Riwulf e Hidan saíram para caçar, o que numa região desconhecida para Hidan era os arredores do lar de Riwulf.

 

Enquanto os dois caminhavam numa pequena trilha que dava numa floresta com poucas árvores e um vasto campo de pastagem, Cecil ficara na cabana de Riwulf.

 

Seguiram uma pequena trilha que dava num campo isolado detrás das florestas e próximo a casa de Riwulf, então, assim que chegaram lá, ouviram alguns grunhidos detrás dos arbustos e Hidan decidiu palpitar.

 

_Um lobo? – Ele disse atencioso ao olhar de Riwulf.

_Melhor que isso – Riwulf respondeu – E maior.

 

Um grunhido forte fora ouvido detrás dos arbustos, que chacoalhavam como se o vento estivesse soprando-os furiosamente. A criatura arranhava o chão e balançava os arbustos.

 

_ Entendi. Um porco selvagem. – Hidan assentiu.

_Não é qualquer um – Riwulf retrucou – Esse é dos grandes!

 

Hidan então puxou uma flecha da aljava e a posicionou no arco.

 

_ Atire na cabeça – Disse Riwulf, indicando o local para que Hidan pudesse atirar. – Logo ali.

 

Hidan puxou a corda do arco com força e mirou no local indicado por Riwulf.

Estava nervoso, nunca tinha caçado um porco selvagem de tamanho assustador, e pelos grunhidos e arranhões, aquele não era nada agradável.

 

Finalmente, Hidan soltou.

O barulho agudo que logo foi se transformando em grave foi ouvido novamente, na direção porco selvagem.

 

Hidan não pudera ver se acertou o tiro ou não, o porco selvagem continuava atrás dos arbustos. O silêncio prevaleceu e Hidan conclui que ele estava morto. Preparou-se para andar em direção do arbusto e pegar a recompensa pela caça, mas o braço de Riwulf o impediu.

 

O porco selvagem saiu dos arbustos com uma flecha fincada na cabeça e sangrando muito.

 

Os olhos vermelhos do porco selvagem indicavam sua fúria, agora ferido.

 

Antes que pudesse chegar mais perto, Hidan arrancou outra flecha da aljava, posicionou-a, mirou e soltou. Atingiu o chão.

 

Era diferente atirar num alvo parado e atirar num porco selvagem em movimento e furioso, pronto para atacar. E Hidan sabia essa diferença, mas não hesitou em tentar novamente.

 

Um assobio forte e agudo ia à direção do porco selvagem novamente e logo se transformou num som sólido e molhado. A flecha perfurou seu peito atingindo seu coração. A fera balançou de um lado para o outro furiosamente, fungou forte e agonizando de dor caiu, virou-se para o lado e finalmente ficou imóvel. Estava morta.

Os dois caminharam até a fera e Hidan retirou a flecha do peito da criatura. Reparou que ponta da flecha brilhava e então passou os dedos sobre ela. O brilho sumiu.

Hidan olhou para Riwulf que já carregava a fera para trás da sua cabana.

 

Enquanto comiam, houve música por parte de Riwulf. O seu velho piano empoeirado afinal ainda funcionava.

 

_Este é velho – ele disse sorrindo – não me lembro a última vez que eu toquei.

 

O piano desafinado foi tocando uma sintonia agradável à noite.

 

O porco assado em cima da mesa era saboreado pelos jovens rapazes.

 

A lareira cheia de lenha que pegava fogo aquecia a pequena cabana aconchegante.

 

Era uma noite linda, as estrelas no céu se encarregavam da iluminação e as nuvens quase não existiam.

 

O ar fresco e calmo pairava sobre a cabana de Riwulf.

 

Hidan sentiu-se satisfeito, estufou o peito e respirou relaxado. Espreguiçou-se e foi até a varanda.

Cecil estava logo atrás dele, quando sentou na cadeira ao lado de Hidan.

 

_Você está bem, Cecil?

 

_ Hidan. – Cecil respondeu, com uma pausa para olhar as estrelas, e continuou – me sinto ótimo.

 

_ Se você está bem, eu estou bem. – Hidan sussurrou levemente, enquanto relaxava na cadeira da varanda, apreciando o ar e a noite calma.

 

Apesar de tudo, eles se sentiam em paz.

 

Pela manhã, Riwulf escutou os passos dos soldados de Brudghanm.

Olhou pela janela e viu um pequeno grupo de soldados rastreadores, responsáveis por recuperar foragidos do reino.

 

As armaduras feitas especialmente para longa viagem eram leves e resistentes. Feitas com metal leve e forte, adaptavam se ao corpo dos soldados que a vestiam. Os braceletes tinham decorações especiais, como o símbolo do reino e da Casa de Rastreamento.

As caneleiras leves e de outro tom de cor preta, facilitavam o andamento pelo revestimento de couro único por dentro, amaciando e tornando o passo agradável.

O que diferenciava os soldados de rastreamentos era o capacete, eles não usavam capacetes.

Eles empunhavam flechas e também usavam espadas. As aljavas pretas e vermelhas eram bonitas e elegantes, feitas de couro e tingidas de preto, eram largas e suportavam mais flechas do que uma normal.

As espadas dos soldados rastreadores eram todas iguais.

 

O cabo era de metal resistente revestido de couro de fácil manejo, facilitando o golpe, subia num pequeno metal fino de aço maciço e com uma pedra rara no meio, a lâmina leve e cortante de dois lados era forte o suficiente para cortar no meio um Harot.

 

Os soldados rastreadores só eram acionados para buscas de fugitivos, e isso não era muito raro no Império.

 

"Como eles demoraram", pensou Riwulf.

 

A batida nada sutil na porta assustou os garotos, que ainda dormiam. Eles se levantaram e foram até a sala principal da cabana, na qual ficava a porta.

Viram Riwulf conversando com os rastreadores e esconderam-se

 

_Hidan, eles estão procurando por nós, não podemos ser pegos! – sussurrou Cecil, enquanto agarrava-se a capa de Cecil.

 

_ Aust Alain Hidan? Nunca ouvi falar – Respondeu Riwulf quando os rastreadores fizeram-lhe uma pergunta nada amigável.

 

_E que tal Cecil Elynghar? – Perguntou o homem que estava na frente dos outros rastreadores.

 

_Também não. – Respondeu Riwulf com um tom de sutileza

 

_Se souber de algo, nos comunique.

 

_Tenho certeza que sim – respondeu Riwulf, dando um leve empurrão na porta.

 

Riwulf se encostou à porta e deu um suspiro,

 

_Tudo bem garotos, conte-me tudo. – Gritou Riwulf enquanto cruzava os braços.

 

Eles se encontraram sentados nas cadeiras de couro almofadado de Riwulf.

Hidan lhe contou tudo.

 

Riwulf levou a mão ao queixo e afagou a barba. Estava pensativo.

 

_É garotos, estamos numa situação difícil – Exclamou Riwulf enquanto analisava as expressões nos rostos dos jovens. – Vocês parecem famintos, vamos comer e veremos o que faremos depois.

 

Riwulf, Hidan e Cecil se reuniram em frente a pequena mesa de carvalho na cozinha de Riwulf.

Enquanto comiam alguns pães secos e tomavam leite, os jovens ficaram tristonhos.

 

"Estamos acabados, ele vai nos entregar", Hidan pensou.

 

Encontraram-se andando em direção à Brudghanm, novamente. Tudo estava sem sentido, nada parecia fazer sentido. Os Orcs, as flechas, o mago, os soldados, Brudghanm.

Quase sacrificou seu colega por nada.

 

 

_ Então... Vai apenas nos entregar feitos dois bois? – Exclamou Hidan, enquanto eles seguiam o último trecho antes da entrada de Brudghanm.

 

_ Eu não posso deixá-los por aí, garoto.

 

_Achei que você era uma pessoa boa. – Sussurrou Hidan, olhando paralisado para Riwulf. Retornou seu caminho calmamente e continuou a frase – Estava enganado.

 

À frente, os dois portões principais da cidade de Brudghanm. Cercado por torres com guardas de vigília, era quase impossível atravessar os portões principais sem ser visto.

 

Riwulf os deixou com os guardas próximos e lhes disse os nomes dos garotos.

 

Riwulf gesticulou com um sorriso no rosto, um leve aceno de mãos que queria dizer "Os verei em breve".

Porém, os garotos não viram esse aceno.

 

Logo, Riwulf seria apenas um pequeno ponto quase imperceptível no horizonte laranja.

 

Ao final da tarde, os jovens foram levados ao Duque, que decidiria a pena que os jovens iriam ter de pagar.

 

_Morte aos dois. – Exclamou o Duque, numa afirmação de certeza absoluta. – Amanhã, ao pôr do sol.

 

As mortes dos garotos estavam agendadas.

 

Eles foram levados às torres de observação onde ficariam trancados até o dia seguinte, na hora da sentença.

 

A comida era ruim, já que não fazia sentido alimentar bem um prisioneiro que seria executado.

Pães secos e água com gosto de barro foram servidos naquela noite, e Hidan se recusou a comer. Já Cecil, parecia apreciar as últimas de suas refeições.

 

Num ato de nervosismo, Hidan arremessou sua tigela de pães contra as grades das celas.

O barulho ecoou por toda torre, o que fez deixar os guardas alertas.

 

_Droga! Droga! – Hidan tentava dizer, mas seu choro o impedia de completar a palavra de forma correta. – Não pode ser...

 

O Duque havia agido de forma incorreta. Pela ordem do Rei, é proibido julgar pessoas de noite. Era necessário aguardar até o nascer do sol para iniciar um julgamento. Outro erro foi o da corte não estar presente. E um, fatal, foi dar pena de morte aos jovens, pena qual era dada somente a traidores ou gatunos.

Este erro custou a vida dos jovens.

 

O sol estava se pondo, o que indicava que os guardas deveriam trazer os prisioneiros para cumprir a sentença definida pelo Duque.

De minuto a minuto, Hidan ia até as grades da cela e observava o movimento dos guardas. Ele sabia que não faltava muito, e que a hora estava chegando.

 

Os batidos de uma chave à outra ecoavam por todas as celas, fazendo cada nervo de Hidan reagir

 

O barulho ensurdecedor das grades abrindo e fechando indicara novamente a sua derrota e o fim da sua pequena história.

Hidan estava assustado.

 

Uma voz de vinda de dentro de um capacete escuro o chamou. Era o guarda responsável por levá-lo até o pátio, onde eram feitas as execuções.

Acorrentado e segurado pelo guarda, à exposição de um machado grande e afiado, caminhava entre o corredor das celas da torre. Olhou para a cela de Cecil e percebera que ele não estava lá, havia sido levado. Hidan temia que executassem Cecil antes dele, assim eles não morreriam juntos.

 

"Lutamos juntos, descobrimos juntos. Agora temos de morrer juntos, é o meu ultimo desejo" pensou Hidan, quando a porta da torre se abriu.

O brilho do sol encontrou seus olhos, e contrário dos guardas ele não os fechou.

 

Não muito longe, viu Cecil acorrentado e ao lado de um homem barbado e sem armadura, apenas afiando um machado numa rodela de pedra ao lado.

 

Isso era uma falha, e Hidan tentaria usá-la. Mesmo que custasse sua vida, ele teria de tentar. Afinal, sua vida já não fazia mais sentido.

 

Sua cabeça foi apoiada numa pequena tábua, cheirava a podre e estava toda ensangüentada.

O barulho da lâmina do machado encontrando a pedra estremecia cada nervo do seu corpo. O suor escorria pela testa, nariz e boca, até chegar ao seu queixo, onde pingava sobre a tábua.

 

A ordem foi dada, as pedras pararam de chiar o barulho da lâmina e os homens posicionaram seus machados sobre a cabeça dos dois.

 

_Façam. – Disse um homem com um uniforme do Reino, gesticulando com a mão.

 

As lâminas dos machados refletiam o sol, e desceram num assovio ventoso.

 

 

Antes que pudessem atingir a cabeça dos jovens, elas voaram contra a parede da torre. Logo ao lado delas, os rapazes viram um rosto familiar.

 

Era Riwulf, ele estava vestido com sua tradicional roupa.

 

Os homens foram em sua direção com as adagas que rapidamente puxaram de uma bainha de couro.

 

Tentaram golpear pela esquerda, Riwulf desviou, golpearam abaixo, outro desvio, golpearam em cima e sem sucesso.

 

Os dois estavam cansados de tantas tentativas falhas de golpear Riwulf, ele parecia ser invisível.

 

Enquanto Riwulf olhava atenciosamente a respiração dos homens, os garotos se soltaram e correram para trás de Riwulf.

 

O primeiro homem veio novamente a tentar golpear Riwulf, mas seu punho foi pego por ele e então Riwulf apertou-o. Os gritos de dor pediam que fosse solto, e Riwulf atendeu ao pedido. Soltou o pulso do homem.

 

O homem caiu no chão gritando de dor.

 

O outro homem, atento à cena que observara, resolveu então largar a arma.

 

Ele correu como se não tivesse fim.

 

Riwulf piscou ao outro homem mandante do outro lado do pátio e sumiu.

Os três caminharam até a saída dos fundos e discretamente foram até o estábulo ao lado, onde conseguiram cavalos.

 

Minutos depois estavam deixando a cidade em rumo à cabana de Riwulf.

 

Antes de chegar, os três entreolharam-se e cada um fez uma expressão diferente. Riwulf alegre, Hidan curioso e Cecil assustado.

 

Foi desse jeito que os cavalos roubados foram amarrados nos fundos da cabana de Riwulf.

 

Andaram até a entrada da pequena cabana, Riwulf Cecil se adiantaram entrando na casa, mas Hidan parou. Estava preocupado.

 

Olhou para os cavalos amarrados com curiosidade e chutou o degrau.

 

_ Me diga o que está acontecendo aqui, Riwulf! – Ele gritou furioso, enquanto a terra subia ao seu lado.

 

_Entre, você parece nervoso – Riwulf sussurrou com ironia.

 

 

 

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Todos entraram. O barulho da porta tocando o caixilho de madeira foi o único escutado até os três se sentarem-se à mesa de carvalho da cozinha.



 

Hidan começou.

 

_ Como você sabia que nós seriamos julgados e sentenciados à morte? Como você chegou justamente na hora que eu iria ser assassinado? Por que não matou os homens do pátio? Como você nos deixou.... – Soltou uma rajada de perguntas, uma atrás da outra e depois sussurrou – O que significa aqueles cavalos amarrados, eles são roubados, podemos ser pegos se deixarmos ali.

E, além disso, eu vi o seu gesto para o capitão.

 

_ Os cavalos são meus, eles estavam no estábulo exatamente para isso.

 

Aquelas palavras ditas rapidamente por Riwulf chocaram os dois. Eles não entendiam.

 

_ Mas... Como? – Os dois perguntaram no mesmo instante.

 

_ Eu sabia de tudo. Tudo isso foi um teste desde o principio. – Respondeu Riwulf, enquanto se preparava para levantar-se da cadeira.

 

Riwulf se levantou e andou até o outro lado da sala enquanto os garotos o observavam, ambos boquiabertos. De uma pequena estante retirou uma pequena caixa. Abriu-a e de retirou um saquinho de couro e um cachimbo.

Abriu o pequeno saco de couro e retirou algo escuro. Segurou aquilo com os dedos polegar e indicador e retorceu inserindo-o no cachimbo. Um pedaço de pedra-fósforo chocando-se com outro faziam o fogo que acendiam seu cachimbo.

Pegou fogo e a fumaça dominou o local por um instante. O cheiro era agradável.

 

_ Eu sabia de tudo, desde o inicio. – Riwulf sussurrou com o cachimbo na boca, tornando as frases molhadas.

 

Continuou após retirar o cachimbo da boca.

 

_Você, Hidan. Você foi testado. Os Orcs não faziam parte disso, mas foi tudo planejado. – Riwulf elevou o cachimbo a altura da boca e se preparava para fumar novamente, mas por algum motivo preferiu continuar a falar. – Você é o escolhido Hidan, eu te testei, e embora você não tenha passado no teste, você continua sendo meu escolhido.

Eu vigiei você o tempo todo. Desde a saída da cidade até a sentença.

 

Hidan interrompeu levantando-se furiosamente da cadeira. Colocou suas mãos sobre a mesa e elevou sua voz.

 

_Que teste!? Que teste!? Que maldito teste você está falando! – Hidan gritou impacientemente.

 

_Quando você foi sentenciado, foi planejado. Queríamos ver você sair daquela situação sozinho. Mas isso infelizmente – fez uma pausa para olhar para o telhado - não aconteceu. – Riwulf sussurrou, enquanto se aproximou de Hidan e retornou a sua cadeira.

 

_Queríamos? Você e quem? – Hidan abaixou a voz e perguntou olhando para baixo.

 

_ Eu... – Riwulf disse, colocou o cachimbo na boca e inalou um bocado de fumaça, retirou o cachimbo e soprou a fumaça na direção de Hidan. – E o Rei.

 

Por um instante, Hidan se sentiu paralisado. Retomou o controle e foi possível notar as lágrimas se formando em seus olhos.

 

_ O rei? Mas eu sou apenas...

 

_Um arqueiro. – Riwulf sussurrou enquanto colocava gentilmente sua mão sobre o ombro de Hidan. – Um grande arqueiro.

 

O silêncio permaneceu no local por instantes, e tudo o que se podia notar eram os lábios de Riwulf batendo contra a madeira polida do cachimbo, que era coberta pela fumaça.

 

_ Você foi notado, um pouco antes. Nós sabíamos do seu talento. – Explicou Riwulf, atencioso as reações do garoto - E como os tutores de arqueiros estão muito ocupados trabalhando em estratégias para a guerra que bate em nossas portas, eu me candidatei a ser seu mestre.

 

_ Mas você é um mago! – Hidan interrompeu Riwulf, revelando-lhe o segredo que havia descoberto outrora.

 

_ Eu sei, e é por isso que eu vou lhe fazer algo melhor. – sussurrou Riwulf, enquanto seu rosto sério deu lugar a um leve sorriso.

 

_ E o que é? – Hidan perguntou ansioso.

 

_ Vou lhe ensinar magia. – Riwulf respondeu, agora com a face demonstrando a alegria de poder revelar – Magia não só se aprende. Ela corre em seu sangue.

 

_ Além disso, você fará um treinamento de arqueiro. Siga-me. – sussurrou Riwulf, enquanto se virava para uma sala que Hidan e Cecil nunca teriam entrado.

 

Os dois passaram logo atrás de Riwulf, e de repente seus olhos notaram algo ilustre.

 

Os livros estavam flutuando por toda parte, os cabides de madeira deslizavam por toda a extensão da sala agarrados com grandes túnicas marrons e verdes.

 

Os olhos de Hidan brilharam.

 

Riwulf parou e os dois acompanharam. Logo tudo parava.

 

Riwulf caminhou até uma pequena escrivaninha, em cima estava um grande balde de madeira. Dentro dele, flechas longas com pontas brilhantes.

 

Retirou uma por uma, conferindo as pontas. A espécie de feitiço contido nas flechas era desconhecida por Cecil, mas Hidan se lembrou da caça ao porco selvagem. Era o mesmo brilho que estava na ponta de flecha quanto ele retirou-a da criatura. Decidiu ficar calado e não perguntar o que seria aquilo.

 

Riwulf colocou-as numa aljava revestida de couro preto logo atrás da escrivaninha e estendeu oferecendo para Hidan.

 

Vai precisar de outra, já que a sua agora pertence aos guardas da Torre de Execução. – Ele disse enquanto dirigia um enorme sorriso amarelado ao jovem arqueiro.

 

Ele apontou para alguns panos em cima de um caixote no chão.

 

_Deixe me ver... Azul, marrom, verde, preta.... – Riwulf se perguntava pensativo. – Preta! Vai combinar com sua personalidade.

Agora precisamos de algo para cobrir. Uma capa. Talvez algo escuro caísse bem.

 

Riwulf entregou tudo recolhido para Hidan que não hesitou em receber retribuindo o sorriso.

 

_ Vá se vestir, logo ali. – Riwulf disse enquanto apontava um pequeno quarto a esquerda da sala.

 

Hidan não disse uma palavra, aquilo era muito encantador para poder opinar.

 

Foi até a sala indicada por Riwulf e se vestiu. Minutos depois estava fora. A malha de couro preto revestia-o até um pouco abaixo da cintura, onde a calça de pano preta tomava lugar.

 

O cinto escuro avermelhado com duas adagas velhas segurava-as e a calça.

 

A capa preta vinha dos ombros até abaixo dos joelhos na parte de trás.

 

Os cabelos vermelhos de Hidan jogados por cima da capa permaneciam num tom notável diante do negro.

 

_Onde conseguiu tanta coisa? – Hidan perguntou curioso.

 

_ Você não é o primeiro que treino – Riwulf respondeu e preparou-se para acrescentar num tom alegre – e espero que não seja o último!

 

Riwulf chamou Hidan e o segurou no ombro.

 

_Diga-me garoto, o que sabe sobre feitiços?

 

O sol mostrou seu calor logo cedo.

Hidan abriu a janela de vidro e respirou o ar fresco que vinha da grama molhada pela chuva do dia anterior.

 

Voltou até a sua cama e a ajeitou de acordo, detrás do travesseiro tirou sua típica adaga de arqueiro.

Jogou-a sobre a escrivaninha.

 

Caminhou até a porta do seu quarto e de pequenos pregos presos à porta retirou sua vestimenta presenteada por Riwulf.

 

Colocou a calça, um veste tradicional que usava no dia-a-dia, a malha de couro, a bota que foi deixada por seu pai e prendeu seu cinto deixando-o justo a calça.

Colocou a capa sobre os braços e saiu pela porta, encostando-a.

 

Desceu as escadarias de madeira de sua pequena cabana e encontrou-se com o sorriso de sua mãe segurando uma bandeja de pães frescos.

 

Abraçou-a e sentou-se a mesa junto a ela para a primeira refeição do dia.

 

Após a refeição, sua mãe recolheu a mesa e o saldou.

Era o primeiro dia de seu treinamento.

 

_Faça um bom trabalho, arqueiro! – Arael disse ao seu filho, orgulhosa enquanto acenava.

 

Hidan acenou pela janela de fora e foi ao encontro de Riwulf.

 

_Acalme-se, Acalme-se! – Esse foi a resposta de Riwulf depois de seis batidas em sua porta.

 

Atendeu e não poderia de deixar de reconhecer aquele ilustre rosto.

 

Os dois entraram e sentaram-se a mesa de carvalho na cozinha de Riwulf.

 

Após jogarem conversa fora por um tempo, Riwulf decidiu que era hora de iniciar o treinamento.

 

_Recolha seu armamento, vamos treinar – Ele disse – Afinal, você não veio aqui para conversar, não é?

 

Hidan acenou com a cabeça positivamente e recolheu seu equipamento, andou logo atrás de Riwulf para a saída.

 

Riwulf bateu a porta e respirou fundo.

 

_Que belo dia! Não acha?

Hidan não respondeu novamente, apenas balançou a cabeça positivando novamente.

 

Os dois caminharam pela floresta aberta por algum tempo, até que encontraram o que Riwulf procurava achar.

 

Um local vasto, uma planície grande, palha, sombra.

 

Riwulf sentou-se debaixo da sombra que provinha de uma enorme árvore e ordenou que o treinamento começasse.

 

Hidan não entendeu e tentou olhar para onde Riwulf direcionava sua visão. Avistou ruínas de um estábulo, com alvos localizados a cada 2 metros.

Olhou para Riwulf e balançou a cabeça outra vez.

 

Caminhou alguns passos de distâncias dos alvos e colocou gentilmente sua aljava no chão.

Retirou uma flecha de lá e posicionou no arco. Mirou e preparava-se para atirar, quando foi interrompido por Riwulf.

 

_Você quer aprender a mirar dessa distância? Você só pode estar caçoando de mim!. Para trás, jovem! – Riwulf disse enquanto empurrava os ombros de Hidan para trás.

 

Hidan caminhou para trás e repetiu o primeiro movimento, mas novamente foi interrompido por Riwulf.

Então caminhou mais alguns passos e pode perceber o leve aceno de Riwulf que indicava que ali seria a distância ideal.

 

Preparou-se, mirou e efetuou seu primeiro disparo como um Arqueiro Aprendiz.

 

A flecha rápida não atingiu o alvo, sequer teve força para alcançá-lo.

 

Hidan olhou para seu mestre esperando algo que pudesse ajudá-lo, foi quando Riwulf passou sua mão sobre as pontas cortantes das flechas e pronunciou algo que Hidan não pudera ouvir.

 

Hidan viu pela primeira vez como que Riwulf fazia aquelas flechas brilharem.

 

Riwulf estendeu a flecha para Hidan e ele pegou.

Posicionou-a no arco e efetuou seu segundo disparo.

 

A flecha rápida de som cortante atingiu e atravessou o alvo tão rápido que os olhos de Hidan não puderam perceber.

 

Hidan olhou para Riwulf surpreso, tentou balbuciar algo e não conseguiu. Olhou alegremente para o alvo que acabara de atingir e sorriu para Riwulf.

 

_É isso o que acontece quando misturamos o poder destrutivo da magia com a precisão e força do arqueiro. – Riwulf disse, enquanto analisava o próximo alvo.

 

 

E foi assim o dia inteiro, Hidan errava, Riwulf ajudava-o.

Após algum tempo de tiros mágicos, Riwulf pediu para que Hidan tentasse daquela distância sem usar a magia que Riwulf havia colocado naquelas flechas.

 

Ele posicionou a flecha. Mordeu os lábios preocupado e efetuou o disparo.

 

A flecha atingiu o alvo mas não foi forte o suficiente para perfurá-lo. Isso já era suficiente para que Riwulf saldasse Hidan.

Os dois riram e Hidan voltou a treinar.

 

Riwulf caminhou novamente até a sombra da árvore e disse algo de longe para Hidan.

 

_A vontade é que cria o seu poder.

 

Ele acenou de leve para Hidan enquanto se preparava para cochilar com a brisa leve da manhã que espalhava o canto dos pássaros-azuis.

 

Hidan treinou por mais algum tempo, até que Riwulf resolveu interceptar.

 

_Está com fome? – Disse Riwulf – pois eu estou faminto!

Hidan soltou um último disparo e a flecha perfurou fortemente o alvo, bem no centro.

 

Ele olhou para Riwulf e encontrou seus olhos orgulhosos.

 

_Vamos, recolha suas flechas e vamos comer algo – Disse Riwulf enquanto levantava-se do chão no qual permanecera deitado todo o treinamento de Hidan naquele dia.

 

Obedecendo a sua ordem, Hidan andou até as ruínas do estábulo. Foi de canto a canto, recolhendo cada flecha que havia usado no treinamento.

 

Após recolher as flechas e guardá-las na aljava, Hidan caminhou ao lado de Riwulf até a sua cabana.

 

Os dois entraram pela porta da frente.

Hidan sentou-se à mesa de carvalho na cozinha, enquanto assistia Riwulf preparar a refeição.

 

Esperava ansioso para saborear a suculenta comida que Riwulf preparava, além de mago, tutor de arqueiro e músico, ele cozinha tão bem quanto os chef's do Duque.

 

_Pronto! Agora é só esperar algum tempo e nosso jantar estará cozido. – Disse Riwulf – Diga, você gosta de frangos?

 

_Tenho outra opção? – Perguntou Hidan num tom alegre.

 

_Não, você vai comer frango. – Riwulf respondeu a brincadeira de Hidan com alegria e seriedade.

 

Os dois riram e logo depois Hidan fez uma expressão séria.

 

_Riwulf, posso lhe fazer uma pergunta? – Hidan perguntou.

 

_ Ora, você já fez. – Ele respondeu enquanto se preparava para acender seu tradicional cachimbo.

 

_ Como dizer para uma pessoa que as expectativas dela sobre alguém estão erradas, dizer para essa pessoa que você não é o que parece ser? – Hidan perguntou esperando veemente por uma resposta singela.

 

_Olhe só, você é um bom arqueiro e eu creio que você possa nos representar na guerra. Não me diga que quer desistir antes de começar a lutar? – Riwulf advertiu paciente.

 

Ele sabia que Hidan queria desistir do treinamento, embora Riwulf soubesse que a excelência de Hidan e seu poder não era a visto naquelas terras há mais de 3 mil anos.

Hidan olhou profundo nos olhos de Riwulf e eles se entenderam.

 

_Prometo não desistir, só não acho que deva continuar sem ser o que você acha que sou. – Ele respondeu deprimido.

 

_Você é muito mais do que eu posso imaginar. – Riwulf respondeu.

 

Hidan se preparava para perguntar outra coisa, mas antes que pudesse balbuciar algo foi interrompido pelo som do caldeirão fervente.

 

_Nossa comida está pronta! – Riwulf disse alegre.

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





Editado por Henrique Moura
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Pronto, agora que você editou, eu irei ler logo depois quer o namorado de minha irmã passar war craft aqui para o computador. Qualquer coisa eu edito aqui falando sobre a estória.

 

#Edit

 

WTF? Henrique, sinceramente esse foi a melhor Role que eu já li em toda a minha vida, a leitura passou rápido até demais, deixa só chegar de noite que eu te dou Rep+, velho, você poderia muito bem publicar este livro, se publicasse com certeza eu iria comprar.

 

Tem meu apoio total amigo! :]

 

#Edit

 

Henrique, está perfeito! Com um toque de tema sensacional, e com uma brisa pesada de curiosidade. Tudo o que se precisa para se escrever uma boa Roleplay. A cada vez melhor, a cada post, você se supera.

 

Bom e caro Henrique Moura, um dos melhores escritores do fórum xTibia, se não o melhor.

 

#Edit

 

O melhor! Henrique, você é muito FODA! Muito bom, continue assim, grande Henrique!

Editado por iToouch
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"Este tópico já foi visualizado por 10 usuário(s) [ Ocultar Lista ]

 

iToouch , nothitsew2 , Gravor , Henrique Moura , LeoOkina , Elkillura , Bernardo , EkzPedro , Skywar , Vampiresco."

 

Engraçado não?! Por causa dessas pessoas aqui em cima, o Henrique irá tirar esses 4 capítulos e não irá postar mais.

Por que? Porque simplesmente elas lêem os capítulos, mas não comentam.

É por isso que perdemos a vontade de escrever.

Editado por iToouch
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up@

concordo contigo, na area de mapping é a mesma coisa, desanima e muito.

 

topic@

cara eu nao li isso mas amanha vou tirar um tempo pra ler, ainda mais com essa propaganda que estao fazendo, eu li sua outra historia do brasao lá e gostei muito eu tinha começado uma historia mas nao sei se devo acaba-la =/

Abrç

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