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Perdido No Tempo!


mausebreak

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Desde criança eu me sentia fora de meu mundo, como um estranho, como se não pertencesse a essa realidade.

É claro que quando se é criança este tipo de idéia não passa de fantasias de uma imaginação fértil, considerado por nossos pais como apenas uma fase.

Não posso me queixar de meus pais, sempre tive de tudo, estudei em boas escolas, nunca passei necessidade de nada, algumas vezes de carinho, mas aprendi a me habituar com isso.

Com o tempo, este sentimento de deslocamento foi desaparecendo, caindo no esquecimento. Fui fazendo amigos e aprendendo coisas novas a cada dia. Um dia um amigo meu me mostrou algo que mudaria minha vida, apesar de parecer banal aquele livrinho de capa verde muito influenciou no meu modo de pensar dali em diante.

Meu amigo disse que o tal livro na verdade, era um jogo chamado R.P.G.

Por causa do tal livro, alguns sentimentos e emoções de minha infância vieram á tona novamente, todas aquelas aventuras vividas em mundos medievais acabaram se tornando para mim como uma fuga, um lugar que mesmo por poucas horas eu poderia usar para fugir de meus problemas.

Com o tempo, procurei aprimorar esse hobby, procurava livros mais complexos, para cada vez mais me aproximar dessa realidade. Ao invés de jogar sozinho, passei a jogar entre amigos, o que me proporcionou conhecer muitas pessoas e fazer muitos amigos.

Porém um grupo se destacou, através de um colega de escola fui apresentado a um cara que tinha um grupo de jogo, como naquela época estava sem grupo topei jogar com eles.

Não levou muito para nos tornarmos grandes amigos, nós saíamos não só para jogar mas, para nos divertir também, assim como eu eles compartilhavam meu gosto pelas histórias de capa e espada.

Não sei se foi por influencia destas histórias que uma imagem começou a me perseguir, quase todas as noites eu tinha o mesmo sonho, eu sonhava com pessoas muito pobres, elas estavam vestidas com trapos e pareciam clamar por piedade. Ao mesmo tempo, eu via um outro grupo de pessoas, elas vestiam um belíssimo manto branco que apesar de velho e costurado de forma grosseira, se mantinha impecavelmente limpo e engomado. Estas pessoas pareciam estar numa espécie de clareira na floresta, cercada por árvores altas e frondosas onde o sol mal conseguia penetrar, eram poucos os raios que iluminavam o lugar. A cena me transmitia uma paz muito grande, se não fosse por um detalhe, o grupo permanecia ajoelhado em volta de um vulto, este imóvel, jazia numa espécie de altar de pedra envolto por folhas secas, o vulto vestia uma belíssima armadura de placas, uma capa feita de linho vermelho que assim como o escudo a seu lado exibia um imponente brasão.

O grupo parecia orar incansavelmente, como se estivessem lá há horas e pareciam que não iriam embora tão cedo, entre seus murmúrios podia se escutar frases como:

- Volte para nós Milorde, teu povo oprimido e faminto clama por sua volta.

Acordava no meio da noite, assustado e suando muito eu levantava para tomar um copo d'água e me acalmar, aquele sonho me perturbava e me perseguia, não podia compreender o que significava, mas o que mais me assustava era quanto ele parecia real.

O tempo passou e apesar daquele sonho continuar, aprendi a me habituar com ele, continuamos jogando em nossas horas vagas, chegando inclusive a montar um clube, mas, ainda assim não me sentia confortável.

Foi numa noite que as coisas mudaram, eu voltava de mais uma sessão de jogo, já era bem tarde, quase três da madrugada, chovia muito forte e a rua escorregadia exigia atenção dobrada com o carro, as ruas estavam vazias o que possibilitou andar um pouco mais rápido, especialmente na marginal. Eu estava preocupado com a hora e fiz de tudo para chegar um pouco mais rápido em casa, porém esse foi meu erro. Passei velozmente sobre um buraco e o carro derrapou, foi jogado contra a lateral da pista, com o asfalto molhado não consegui controlar o carro que virou e começou a capotar várias vezes, pude ver o mundo virar de ponta cabeça antes de desmaiar.

Depois de algumas horas, quando comecei a acordar, ainda estava muito tonto e minha visão estava turva, a primeira coisa que recobrei foi minha audição. Pude ouvir o som de pássaros que se misturavam com murmúrios, sentia um cheiro acre que invadia minhas narinas, podia sentir o ar úmido a minha volta me dando calafrios. Pouco a pouco fui recobrando minha visão, a primeira coisa que consegui ver eram grandes manchas verdes que com o tempo pude distinguir sendo árvores. Estas muito altas, tampavam o céu permitindo que apenas alguns raios fracos de sol entrassem, percebi então que minhas roupas já não eram mais as mesmas, ao invés de estar usando jeans e camiseta, eu vestia uma brilhante armadura de placas, ao olhar para o lado vi um escudo e uma espada que aguardavam pelo meu retorno.

Um pouco mais recuperando do choque, sentei-me no altar de pedra, limpei as folhas secas de cima da roupa e fiquei observando aqueles homens em seus mantos brancos orando, até que um deles abriu seus olhos e olhou em minha direção, pude ver o brilho em seu olhar quando ele, surpreso gritou:

- Mestre, você voltou para nós, depois de anos de espera o senhor acordou da maldição.

Ele se virou para o lado e disse aos outros homens:

- Corram até a cidade, e dê a notícia ao povo, diga que o rei voltou e que a maldição foi quebrada.

Eu não conseguia compreender o que estava acontecendo, apesar disso o sacerdote me ajudou a levantar, e então murmurou:

- Siga-me Milorde, o povo o aguarda.

Seguimos por uma estrada de terra por alguns minutos, todos aqueles com a qual cruzávamos saudavam me alegremente como se me conhecessem há muitos anos.

Após alguns minutos de caminhada, pude avistar a muralha da tal cidade. Dois guardas armados com alabardas guardavam a entrada. Ao me aproximar dos portões principais os guardas curvaram-se em sinal de respeito. Após cruzar o portão pude ver que o povo me aguardava nas ruas. O som de seus gritos e clamores se confundiam com a algazarra dos médicos correndo de um lado para o outro, pude ver um ferreiro trabalhando em uma forja, o som do martelo batendo na bigorna, era curto e estridente e assim como o marcapasso, vagarosamente ia diminuindo seu compasso.

Os sinos da igreja começaram a badalar no ritmo de minha respiração, anunciando meu retorno, os sinos batiam num ritmo continuo que por vezes aumentava, mas que depois se fixou num ritmo decrescente. Podia ouvir uma voz que me chamava de volta, que pedia meu retorno. Ela ia ficando cada vez mais fraca à medida que os médicos desenganados perdiam a esperança, mas isso não me importava mais, era lá que eu queria estar. Logo o sino diminuiu suas batidas, e quando ele finalmente parou, a voz se calou. Então olhei para o céu aliviado e disse:

- Finalmente, finalmente estou em casa!!!

 

 

Postem coments pelo amor de Deus!!

Editado por mausebreak
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